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FINANÇAS
Para FMI, gastos aumentam dívida e vulnerabilidade
Fundo resiste a mexer na regra que restringe o investimento público
DA REDAÇÃO
O FMI (Fundo Monetário Internacional) continua estudando
a reivindicação brasileira e de outros países em desenvolvimento
para que sejam relaxadas as restrições ao investimento público.
Mas o organismo vê com preocupação a ainda grande vulnerabilidade desses países.
"A idéia de promover o investimento, incluindo o investimento
público, é compartilhada por todos", afirmou ontem Thomas
Dawson, porta-voz do FMI. "Mas
não se trata de uma simples questão de redefinir gastos como investimentos, porque os investimentos criam, na maioria dos casos, dívidas, e as dívidas precisam
ser financiadas."
Dawson afirmou que o assunto
foi discutido em um seminário interno do Fundo, ocorrido recentemente. De acordo com o porta-voz do organismo, medidas vêm
sendo discutidas, mas não há nenhum prazo para que seja aprovado um relaxamento nas atuais
normas de contabilidade fiscal.
Remonta aos temos do governo
Fernando Henrique Cardoso
(1995-2002) a reivindicação de
que os investimentos em infra-estrutura, especialmente os das empresas estatais, deixem de ser
computados como gastos no cálculo do superávit primário. A tese
é que, ao construir uma hidrelétrica, por exemplo, o governo acabaria gerando receitas no futuro.
Com a mudança no cálculo, seria mais fácil atingir a meta de superávit primário (gastos menos
despesas, excluindo juros). Mas o
FMI resiste a essa idéia. Para o
Fundo, os investimentos acabam
ampliando o endividamento público, o que corrói a capacidade
de o país honrar os compromissos de sua dívida.
"Na América Latina em particular os níveis de déficit e endividamento público ainda levantam
questões sobre a sua sustentabilidade", afirmou Dawson, durante
uma entrevista coletiva, na sede
do FMI, em Washington.
Em outras palavras, o Fundo reconhece que ninguém questiona a
necessidade de ampliar o investimento nesses países. Por outro lado, seria temerário, no entender
do FMI, se esses países se endividassem ainda mais, porque ficariam ainda mais vulneráveis.
"Ainda há muito trabalho a ser
feito para entender quais são os
problemas e como podem ser
acomodados níveis mais elevados
de investimento público", disse
Dawson. "Mas existem "tradeoffs"
[trocas]. Os recursos ainda são escassos. Então não se trata de uma
questão simples, mas é uma questão que estamos estudando em
vários níveis."
De acordo com Dawson, técnicos do Fundo estão preparando
um estudo sobre o tema. A análise
deverá se divulgada em breve. A
questão deverá ser tratada também na reunião de primavera do
FMI, que ocorre nos próximos
dias 24 e 25, em Washington.
Horst Köhler, que era o diretor-gerente do FMI até o mês passado, havia sinalizado com uma
maior liberdade para os investimentos brasileiros em infra-estrutura. Com a saída de Köhler,
não se sabe se a proposta vingará.
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