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COFRE ABERTO
Impulsionadas por alta do mínimo, despesas chegarão a 15,03% do PIB
Gasto do governo deve atingir
o maior patamar da história
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mesmo com um corte orçamentário que pode ficar na casa de R$
20 bilhões, as estimativas da área
econômica apontam que o gasto
do governo federal neste ano deverá atingir o maior patamar da
história.
Em documento enviado ao
Congresso, o Ministério do Planejamento elevou em R$ 11,7 bilhões
sua previsão para as despesas
obrigatórias de 2006, que incluem
pessoal, Previdência e assistência
social, subsídios e outras menos
importantes.
Por esse cálculo, os gastos dos
quais o governo não tem como escapar chegarão a 15,03% do PIB
(Produto Interno Bruto). Em
2002, outro ano de eleições presidenciais em que as despesas bateram recorde, esse percentual foi
de 13,75%.
Como indica o próprio Planejamento, o estouro dos gastos é impulsionado pela principal medida
do pacote reeleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva -o
aumento do salário mínimo para
R$ 350, em vez dos R$ 321 previstos no projeto de Orçamento da
União enviado ao Congresso no
ano passado.
Baseada nos dados recebidos do
Executivo, a Comissão de Orçamento do Congresso estimou em
18,57% do PIB, ou R$ 390,9 bilhões, o gasto total do governo
neste ano. Essa é a diferença entre
a arrecadação prevista nos documentos oficiais e a meta para o superávit primário (a economia
destinada ao abatimento da dívida pública).
O resultado só ficará abaixo desse percentual em duas hipóteses
improváveis: um superávit primário acima da meta oficial, idéia
já publicamente proibida pelo
Planalto, ou uma frustração de receitas -possibilidade remota
porque a praxe do governo é subestimar a arrecadação esperada.
Há boas razões, isso sim, para
esperar gasto ainda maior. Nas
suas previsões de gastos, o Planejamento não incluiu, por exemplo, os R$ 3,6 bilhões aprovados
pela Comissão de Orçamento,
com apoio do Planalto, para zerar
as perdas salariais do funcionalismo federal no governo Lula.
Também ficaram de fora os R$
3,4 bilhões prometidos pelo Congresso aos Estados para compensar alegadas perdas com o fim do
ICMS sobre as exportações -os
governadores pressionam para
elevar o valor a R$ 5,2 bilhões.
A União também poderá abrandar sua meta de superávit primário se avaliar que Estados e municípios cumprirão as suas. É que a
meta federal foi elevada preventivamente em razão do risco de
descumprimento das metas estaduais e municipais no ano eleitoral. A meta total do setor público é
de 4,25% do PIB.
Juros e carga tributária
Os números evidenciam que a
orientação do ex-ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) já havia sido descartada pelo governo
antes de sua substituição por Guido Mantega. Palocci defendia um
plano de contenção de despesas,
especialmente as obrigatórias, como forma de reduzir os juros e deter a expansão da carga tributária.
Crescentes a cada ano, os gastos
obrigatórios se concentram em
pessoal, aposentadorias e benefícios assistenciais, estimulando o
consumo. Para equilibrar suas
contas, o Executivo eleva a carga
tributária e sacrifica os investimentos -nos dois casos, prejudicando a produção.
A expansão do consumo sem
contrapartida na ampliação da
capacidade produtiva cria, na visão do Banco Central, uma pressão inflacionária, o que dificulta a
redução dos juros.
De acordo com os cálculos da
Comissão de Orçamento, as despesas federais chegaram em 2005
a 18,47% do PIB; com outra metodologia, a Fazenda chegou ao percentual de 18,12%. Qualquer que
seja o critério, as estatísticas mostram uma evolução quase contínua desde a década passada, não
interrompida pela política de superávits primários iniciada em
1999.
Neste ano, aliás, o superávit primário deverá cair pela primeira
vez em oito anos -e já há analistas que duvidam até mesmo da
possibilidade de cumprir a meta
de 4,25%, ultrapassada em 2004 e
2005. Para atingi-la, o governo terá de promover um megabloqueio de gastos orçamentários.
Atraso
O Congresso ainda não aprovou
o Orçamento deste ano e caminha
para o maior atraso desde 1994,
ano atípico por causa do lançamento do Plano Real. Mas os congressistas já acrescentaram ao
texto previsões de despesas e receitas que ultrapassam todos os
cenários considerados aceitáveis
pelo Executivo.
Os congressistas elevaram a
previsão de despesas do ano para
nada menos que R$ 407,1 bilhões,
ou 19,29% do PIB. Tal volume de
gastos só será possível se for confirmada a arrecadação estimada
pelo Congresso, de R$ 455,8 bilhões (21,6% do PIB), R$ 14,2 bilhões acima da previsão do Executivo. O Congresso também não
considerou a elevação preventiva
da meta de superávit primário federal, que implicará cortes de R$
2,1 bilhões.
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