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Crise gera perdas de quase US$ 1 tri e pode aumentar
DO ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
A crise financeira internacional já provocou um rombo de
quase US$ 1 trilhão entre bancos e empresas. Concentradas
nos EUA, essas perdas ainda
podem se intensificar, trazendo novos prejuízos, principalmente ao setor financeiro.
A atual crise também afeta
cada vez mais empresas de fora
do epicentro da turbulência (o
mercado imobiliário e financeiro) e reduzirá o crescimento
mundial em 2008 para 3,7%,
contra 5% na média dos últimos quatro anos.
Em seu "Relatório sobre a
Estabilidade Financeira Global", o FMI traça cenário preocupante e evoluindo para o lado
negativo da economia mundial.
Não apenas as perdas já chegam à casa do trilhão de dólares
(US$ 945 bilhões até março)
como elas agora avançam rapidamente no setor corporativo.
Segundo projeções do FMI,
os EUA crescerão apenas 0,5%
neste ano e 0,6% no próximo.
Em 2007, a maior economia do
mundo avançou 2,2%. Em
2006, crescera quase 3%.
Os EUA concentram mais da
metade da atual exposição ao
risco de créditos imobiliários
de segunda linha (o chamado
"subprime") que detonaram a
crise que agora se alastra para
outras áreas. Já entre os países
da zona do euro, o crescimento
projetado para este ano representará a metade (1,3%) dos
2,6% de 2007. Na América Latina, a projeção é de 4,4%, ante
5,6% no ano passado.
O quase US$ 1 trilhão em perdas foi calculado com base em
números registrados pelos próprios agentes financeiros e resultados já contabilizados em
balanços. Dependendo da evolução da atual crise, o valor pode aumentar ou diminuir.
Mas o FMI diz que a probabilidade de "risco sistêmico (na
economia global) aumentou
abruptamente". "Os riscos macroeconômicos estão concentrados na economia norte-americana, mas podem causar um impacto significativo nos
mercados globais."
Segundo o FMI, embora o total de "calotes corporativos"
continue em um nível "historicamente baixo", só em janeiro a
soma de não-pagamentos de
empréstimos de empresas norte-americanas atingiu o dobro
do registrado em todo 2007.
"Os níveis de classificação de
risco de empréstimos (corporativos) voltaram a patamares
de maio de 2005, ano em que
General Motors e Ford foram
rebaixadas para o grau de "subinvestimento" ". Isso significa
que houve não só um aumento
da desconfiança em relação à
capacidade de empresas em
honrar dívidas como um aumento do juro cobrado em operações de crédito.
O relatório do Fundo diz que
o mesmo tipo de operações de
crédito "frouxas" que levaram
ao estouro da bolha de financiamentos imobiliários nos
EUA também começa a aparecer em outros setores.
"A deterioração na área de
crédito imobiliário "subprime"
(de alto risco) se alastrou para
áreas mais conservadoras, como os créditos imobiliários de
primeira linha e as grandes corporações. Enquanto o ciclo de
crédito torna-se negativo, os
níveis de não-pagamento tendem a crescer", disse Jaime Caruana, do Departamento de
Mercado de Capitais do FMI.
Somando-se todas as operações do mercado imobiliário
(primeira e segunda linhas), as
perdas até março chegam a US$
805 bilhões. Nas empresas não
relacionadas ao mercado imobiliário, o rombo é de US$ 120
bilhões. Já entre os consumidores, é de US$ 20 bilhões.
O Fundo pondera que, apesar
da crise e dos calotes no mercado imobiliário, os consumidores norte-americanos têm feito
um esforço considerável para
manter em dia prestações no
setor automobilístico e para
honrar débitos no cartão de
crédito. O total do crédito ao
consumo nos EUA gira hoje em
torno de US$ 2,5 trilhões.
O principal alerta do FMI é
que esses calotes crescentes e
em série podem colocar sob
"risco sistêmico" todo o sistema financeiro global. Isso significa que, ao levar calotes seguidos e crescentes em empréstimos ao setor imobiliário,
às empresas produtivas e a consumidores individuais, o sistema bancário acabará fragilizado e tenderá a reduzir ainda
mais novos empréstimos.
A conseqüência direta de
menos crédito na praça é uma
redução dos investimentos das
empresas e do consumo das
pessoas físicas. Tudo isso desemboca num crescimento menor, e a saída desse ciclo negativo fica cada vez mais difícil.
"Desde outubro de 2007, o
cenário negativo tem sido reforçado por corrente de resultados mais negativos do que o
esperado de vários indicadores
econômicos", diz o FMI.
A principal recomendação do
Fundo é de que os bancos reforcem o caixa e aumentem as
provisões para empréstimos
duvidosos. No caso dos governos, diz o FMI, deveriam, como
vem fazendo o Fed (o banco
central dos Estados Unidos),
adotar medidas para aumentar
a oferta de crédito barato no
mercado -mas sem descuidar
da inflação.
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