São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2008

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Crise gera perdas de quase US$ 1 tri e pode aumentar

DO ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

A crise financeira internacional já provocou um rombo de quase US$ 1 trilhão entre bancos e empresas. Concentradas nos EUA, essas perdas ainda podem se intensificar, trazendo novos prejuízos, principalmente ao setor financeiro.
A atual crise também afeta cada vez mais empresas de fora do epicentro da turbulência (o mercado imobiliário e financeiro) e reduzirá o crescimento mundial em 2008 para 3,7%, contra 5% na média dos últimos quatro anos.
Em seu "Relatório sobre a Estabilidade Financeira Global", o FMI traça cenário preocupante e evoluindo para o lado negativo da economia mundial. Não apenas as perdas já chegam à casa do trilhão de dólares (US$ 945 bilhões até março) como elas agora avançam rapidamente no setor corporativo.
Segundo projeções do FMI, os EUA crescerão apenas 0,5% neste ano e 0,6% no próximo. Em 2007, a maior economia do mundo avançou 2,2%. Em 2006, crescera quase 3%.
Os EUA concentram mais da metade da atual exposição ao risco de créditos imobiliários de segunda linha (o chamado "subprime") que detonaram a crise que agora se alastra para outras áreas. Já entre os países da zona do euro, o crescimento projetado para este ano representará a metade (1,3%) dos 2,6% de 2007. Na América Latina, a projeção é de 4,4%, ante 5,6% no ano passado.
O quase US$ 1 trilhão em perdas foi calculado com base em números registrados pelos próprios agentes financeiros e resultados já contabilizados em balanços. Dependendo da evolução da atual crise, o valor pode aumentar ou diminuir.
Mas o FMI diz que a probabilidade de "risco sistêmico (na economia global) aumentou abruptamente". "Os riscos macroeconômicos estão concentrados na economia norte-americana, mas podem causar um impacto significativo nos mercados globais."
Segundo o FMI, embora o total de "calotes corporativos" continue em um nível "historicamente baixo", só em janeiro a soma de não-pagamentos de empréstimos de empresas norte-americanas atingiu o dobro do registrado em todo 2007.
"Os níveis de classificação de risco de empréstimos (corporativos) voltaram a patamares de maio de 2005, ano em que General Motors e Ford foram rebaixadas para o grau de "subinvestimento" ". Isso significa que houve não só um aumento da desconfiança em relação à capacidade de empresas em honrar dívidas como um aumento do juro cobrado em operações de crédito.
O relatório do Fundo diz que o mesmo tipo de operações de crédito "frouxas" que levaram ao estouro da bolha de financiamentos imobiliários nos EUA também começa a aparecer em outros setores.
"A deterioração na área de crédito imobiliário "subprime" (de alto risco) se alastrou para áreas mais conservadoras, como os créditos imobiliários de primeira linha e as grandes corporações. Enquanto o ciclo de crédito torna-se negativo, os níveis de não-pagamento tendem a crescer", disse Jaime Caruana, do Departamento de Mercado de Capitais do FMI.
Somando-se todas as operações do mercado imobiliário (primeira e segunda linhas), as perdas até março chegam a US$ 805 bilhões. Nas empresas não relacionadas ao mercado imobiliário, o rombo é de US$ 120 bilhões. Já entre os consumidores, é de US$ 20 bilhões.
O Fundo pondera que, apesar da crise e dos calotes no mercado imobiliário, os consumidores norte-americanos têm feito um esforço considerável para manter em dia prestações no setor automobilístico e para honrar débitos no cartão de crédito. O total do crédito ao consumo nos EUA gira hoje em torno de US$ 2,5 trilhões.
O principal alerta do FMI é que esses calotes crescentes e em série podem colocar sob "risco sistêmico" todo o sistema financeiro global. Isso significa que, ao levar calotes seguidos e crescentes em empréstimos ao setor imobiliário, às empresas produtivas e a consumidores individuais, o sistema bancário acabará fragilizado e tenderá a reduzir ainda mais novos empréstimos.
A conseqüência direta de menos crédito na praça é uma redução dos investimentos das empresas e do consumo das pessoas físicas. Tudo isso desemboca num crescimento menor, e a saída desse ciclo negativo fica cada vez mais difícil.
"Desde outubro de 2007, o cenário negativo tem sido reforçado por corrente de resultados mais negativos do que o esperado de vários indicadores econômicos", diz o FMI.
A principal recomendação do Fundo é de que os bancos reforcem o caixa e aumentem as provisões para empréstimos duvidosos. No caso dos governos, diz o FMI, deveriam, como vem fazendo o Fed (o banco central dos Estados Unidos), adotar medidas para aumentar a oferta de crédito barato no mercado -mas sem descuidar da inflação.


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