São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2008

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Juro alto torna país vulnerável, diz FMI

Para Fundo, taxa alta atrai capital especulativo e valoriza real, prejudicando exportações e elevando vulnerabilidade

Relatório aponta ainda que emergentes têm pouca exposição à crise do crédito nos EUA, mas podem sofrer com desaceleração global

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

No momento em que o Banco Central brasileiro decide sobre novo aumento de juros, o Fundo Monetário Internacional diz que a principal vulnerabilidade do país hoje tem a ver exatamente com a taxa elevada que pratica na comparação com outros países.
Embora enxergue os países emergentes mais bem posicionados para enfrentar as dificuldades da atual crise, o Fundo diz que o Brasil está exposto a distorções e riscos em razão da forte valorização do real, que estaria diretamente relacionada ao juro alto: "A valorização contínua das moedas de alguns países, incluindo o real (...), pode significar um canal de vulnerabilidade caso haja picos de volatilidade no futuro", diz o FMI em relatório sobre a economia global.
O FMI vê o real valorizado principalmente em razão de operações conhecidas como "carry trade". O jargão denomina uma manobra financeira na qual os investidores tomam empréstimos em países nos quais a taxa de juros é baixa e aplicam o dinheiro em outros, onde o juro é bem maior.
Com o ganho, ele não só paga o empréstimo no país onde tomou o dinheiro emprestado como obtém grandes lucros.
As operações de "carry trade" no Brasil vinham concentradas em investidores que tomavam empréstimos no Japão e na Suíça. Agora, os EUA também viraram nova fonte de recursos. Com seu juro básico em 2,25% ao ano, os EUA fornecem dinheiro barato a quem quer arriscar no Brasil, onde o juro básico é de 11,25%. Se o real se valoriza durante a operação, o ganho é ainda maior.
Caso o BC suba ainda mais os juros, para 11,5% neste mês e 11,75% até o final do ano, como alguns no mercado prevêem, essas operações e a pressão sobre o real devem se acentuar.
Essa entrada maciça de dólares atrás dos juros altos derruba a cotação do dólar. Como efeitos colaterais, há uma diminuição da competitividade do setor exportador nacional, principalmente o industrial, e uma progressiva deterioração das contas externas. E, numa turbulência maior, esse dinheiro pode sair rapidamente do país, gerando instabilidade.
O FMI também prevê que uma crise mais permanente na economia dos EUA venha a esfriar toda a economia global, tendendo a atingir os emergentes e os preços das commodities que sustentam suas exportações. E, com o tempo, os saldos comerciais e a balança de pagamentos desses países.
O Fundo pondera, no entanto, que muitos emergentes, especialmente os latino-americanos, têm uma exposição quase nula aos créditos imobiliários de segunda linha nos EUA ("subprime"), epicentro da crise atual. Mas prevê que a desaceleração global possa interromper um ciclo de forte crescimento em operações de crédito entre vários países.
Enquanto no Brasil o volume de crédito cresceu 28,5% em 2007, subiu 51% na Rússia, 37% na Argentina e 72,5% na Venezuela, por exemplo.
Em termos de crescimento, para 2008, o FMI projeta uma alta de 4,4% entre os latino-americanos. Para 2009, de 3,6%. Ambos os percentuais estão abaixo dos 5,5%, em média, dos últimos dois anos (as projeções para o Brasil sairão hoje).
Mesmo para a Ásia, região mais dinâmica do planeta nos últimos anos, houve uma diminuição das expectativas de crescimento. A Ásia emergente crescerá, segundo o FMI, 8,2% neste ano e 8,4% no próximo. Na média dos dois últimos anos, o crescimento foi de 9,7%.


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