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Juro alto torna país vulnerável, diz FMI
Para Fundo, taxa alta atrai capital especulativo e valoriza real, prejudicando exportações e elevando vulnerabilidade
Relatório aponta ainda
que emergentes têm pouca
exposição à crise do crédito nos EUA, mas podem sofrer com desaceleração global
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
No momento em que o Banco Central brasileiro decide sobre novo aumento de juros, o
Fundo Monetário Internacional diz que a principal vulnerabilidade do país hoje tem a ver
exatamente com a taxa elevada
que pratica na comparação
com outros países.
Embora enxergue os países
emergentes mais bem posicionados para enfrentar as dificuldades da atual crise, o Fundo
diz que o Brasil está exposto a
distorções e riscos em razão da
forte valorização do real, que
estaria diretamente relacionada ao juro alto: "A valorização
contínua das moedas de alguns
países, incluindo o real (...), pode significar um canal de vulnerabilidade caso haja picos de
volatilidade no futuro", diz o
FMI em relatório sobre a economia global.
O FMI vê o real valorizado
principalmente em razão de
operações conhecidas como
"carry trade". O jargão denomina uma manobra financeira na
qual os investidores tomam
empréstimos em países nos
quais a taxa de juros é baixa e
aplicam o dinheiro em outros,
onde o juro é bem maior.
Com o ganho, ele não só paga
o empréstimo no país onde tomou o dinheiro emprestado como obtém grandes lucros.
As operações de "carry trade"
no Brasil vinham concentradas
em investidores que tomavam
empréstimos no Japão e na
Suíça. Agora, os EUA também
viraram nova fonte de recursos.
Com seu juro básico em 2,25%
ao ano, os EUA fornecem dinheiro barato a quem quer arriscar no Brasil, onde o juro básico é de 11,25%. Se o real se valoriza durante a operação, o ganho é ainda maior.
Caso o BC suba ainda mais os
juros, para 11,5% neste mês e
11,75% até o final do ano, como
alguns no mercado prevêem,
essas operações e a pressão sobre o real devem se acentuar.
Essa entrada maciça de dólares atrás dos juros altos derruba a cotação do dólar. Como
efeitos colaterais, há uma diminuição da competitividade do
setor exportador nacional,
principalmente o industrial, e
uma progressiva deterioração
das contas externas. E, numa
turbulência maior, esse dinheiro pode sair rapidamente do
país, gerando instabilidade.
O FMI também prevê que
uma crise mais permanente na
economia dos EUA venha a esfriar toda a economia global,
tendendo a atingir os emergentes e os preços das commodities que sustentam suas exportações. E, com o tempo, os saldos comerciais e a balança de
pagamentos desses países.
O Fundo pondera, no entanto, que muitos emergentes, especialmente os latino-americanos, têm uma exposição quase
nula aos créditos imobiliários
de segunda linha nos EUA
("subprime"), epicentro da crise atual. Mas prevê que a desaceleração global possa interromper um ciclo de forte crescimento em operações de crédito entre vários países.
Enquanto no Brasil o volume
de crédito cresceu 28,5% em
2007, subiu 51% na Rússia, 37%
na Argentina e 72,5% na Venezuela, por exemplo.
Em termos de crescimento,
para 2008, o FMI projeta uma
alta de 4,4% entre os latino-americanos. Para 2009, de
3,6%. Ambos os percentuais estão abaixo dos 5,5%, em média,
dos últimos dois anos (as projeções para o Brasil sairão hoje).
Mesmo para a Ásia, região
mais dinâmica do planeta nos
últimos anos, houve uma diminuição das expectativas de
crescimento. A Ásia emergente
crescerá, segundo o FMI, 8,2%
neste ano e 8,4% no próximo.
Na média dos dois últimos
anos, o crescimento foi de 9,7%.
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