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Fed vê chance de contração "severa e prolongada" nos EUA
Ata de reunião do BC americano fala em provável retração no 1º semestre
Membros do Fed mostram temor com inflação após quedas nos juros, mas prevêem recuo nos preços em alguns meses
DO "NEW YORK TIMES"
A ata da reunião do Fed (Federal Reserve) de 18 de março
indica que os responsáveis pelo
banco central americano pensam que a economia provavelmente sofrerá contração no
primeiro semestre e que "não
se pode excluir a possibilidade
de uma retração econômica severa e prolongada".
A retração no mercado imobiliário vem dando poucos sinais de recuperação, disseram
os diretores do Fed na ata, e
houve previsão de que os preços dos imóveis residenciais
vão continuar a cair.
Além disso, eles disseram
que a perda de capital imobiliário vem assustando os consumidores, que já se encontram
sob pressão devido ao aumento
da gasolina e dos alimentos.
Essas preocupações, somadas aos problemas contínuos
nos mercados financeiros, convenceram a maioria dos diretores do Fed a reduzir a taxa de
juros em 0,75 ponto percentual
em março, iniciativa que visou
estimular a economia, que, segundo alguns diretores, enfrenta "uma contração mais grave e
prolongada" do que eles haviam previsto inicialmente.
A ata da reunião ecoou o quadro sombrio apresentado pelo
presidente do Fed, Ben Bernanke, em depoimento na semana passada no Congresso,
quando, pela primeira vez, reconheceu publicamente que
"uma recessão é possível".
"Muitos participantes consideraram que algum grau de
contração na atividade econômica no primeiro semestre de
2008 agora parece provável",
diz a ata. A reunião de 18 de
março aconteceu menos de 48
horas depois de o Fed orquestrar o inusitado socorro do banco de investimentos Bear
Stearns, que quase quebrou.
Representantes do Fed não
mencionaram o Bear Stearns
durante a reunião -mostra a
ata-, mas discutiram esforços
do Fed para facilitar empréstimos do governo aos bancos.
Eles reconheceram, porém,
que a situação continua difícil
para empresas e consumidores,
chegando a falar na possibilidade de um chamado "anel de
"feedback" negativo", "no qual
uma restrição na disponibilidade de crédito motiva uma deterioração nas perspectivas econômicas, o que, por sua vez, resulta no endurecimento adicional das condições para a concessão de crédito".
Diretores do Fed disseram
que a inflação subiu mais rapidamente do que o previsto, mas
que os preços de bens de consumo provavelmente irão diminuir perto do final do ano.
Eles também confirmaram
uma queixa comum entre economistas: a de que o próprio
banco central se encontra em
situação extremamente difícil.
"Os membros observaram que
é difícil calibrar corretamente a
postura a ser adotada", diz a
ata, quando os diretores pesavam os benefícios de uma redução nos juros e a possibilidade
de a inflação fugir ao controle.
Com juros mais baixos, há
mais facilidade de crédito, o
que pode elevar os preços.
Dois diretores do Fed votaram contra a decisão de cortar
os juros. Os argumentos foram
de que o Fed não pode "se dar
ao luxo" de aguardar evidências
claras de que as expectativas de
inflação não são fundamentadas, pois será tarde demais para
prevenir mais pressões inflacionárias, e que os esforços anteriores do Fed para restaurar a
confiança dos credores -como
os empréstimos baratos a bancos de investimentos, em troca
de garantias relativamente arriscadas- representam uma
maneira mais eficaz de beneficiar a economia, além de ter
efeitos mais rápidos.
Mas o que aparentemente
prevaleceu foi uma percepção
de perigo iminente: "A maioria
dos membros julgou que uma
descontração substancial na
política monetária se justificou
nesta reunião. Alguns, de fato,
consideraram que não se pode
excluir a possibilidade de uma
retração econômica grave e
prolongada, dada a restrição
maior da disponibilidade de
crédito e a fraqueza contínua
no mercado imobiliário."
Tradução de CLARA ALLAIN
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