São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2008

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Fed vê chance de contração "severa e prolongada" nos EUA

Ata de reunião do BC americano fala em provável retração no 1º semestre

Membros do Fed mostram temor com inflação após quedas nos juros, mas prevêem recuo nos preços em alguns meses

DO "NEW YORK TIMES"

A ata da reunião do Fed (Federal Reserve) de 18 de março indica que os responsáveis pelo banco central americano pensam que a economia provavelmente sofrerá contração no primeiro semestre e que "não se pode excluir a possibilidade de uma retração econômica severa e prolongada".
A retração no mercado imobiliário vem dando poucos sinais de recuperação, disseram os diretores do Fed na ata, e houve previsão de que os preços dos imóveis residenciais vão continuar a cair. Além disso, eles disseram que a perda de capital imobiliário vem assustando os consumidores, que já se encontram sob pressão devido ao aumento da gasolina e dos alimentos.
Essas preocupações, somadas aos problemas contínuos nos mercados financeiros, convenceram a maioria dos diretores do Fed a reduzir a taxa de juros em 0,75 ponto percentual em março, iniciativa que visou estimular a economia, que, segundo alguns diretores, enfrenta "uma contração mais grave e prolongada" do que eles haviam previsto inicialmente. A ata da reunião ecoou o quadro sombrio apresentado pelo presidente do Fed, Ben Bernanke, em depoimento na semana passada no Congresso, quando, pela primeira vez, reconheceu publicamente que "uma recessão é possível".
"Muitos participantes consideraram que algum grau de contração na atividade econômica no primeiro semestre de 2008 agora parece provável", diz a ata. A reunião de 18 de março aconteceu menos de 48 horas depois de o Fed orquestrar o inusitado socorro do banco de investimentos Bear Stearns, que quase quebrou.
Representantes do Fed não mencionaram o Bear Stearns durante a reunião -mostra a ata-, mas discutiram esforços do Fed para facilitar empréstimos do governo aos bancos.
Eles reconheceram, porém, que a situação continua difícil para empresas e consumidores, chegando a falar na possibilidade de um chamado "anel de "feedback" negativo", "no qual uma restrição na disponibilidade de crédito motiva uma deterioração nas perspectivas econômicas, o que, por sua vez, resulta no endurecimento adicional das condições para a concessão de crédito".
Diretores do Fed disseram que a inflação subiu mais rapidamente do que o previsto, mas que os preços de bens de consumo provavelmente irão diminuir perto do final do ano. Eles também confirmaram uma queixa comum entre economistas: a de que o próprio banco central se encontra em situação extremamente difícil.
"Os membros observaram que é difícil calibrar corretamente a postura a ser adotada", diz a ata, quando os diretores pesavam os benefícios de uma redução nos juros e a possibilidade de a inflação fugir ao controle. Com juros mais baixos, há mais facilidade de crédito, o que pode elevar os preços.
Dois diretores do Fed votaram contra a decisão de cortar os juros. Os argumentos foram de que o Fed não pode "se dar ao luxo" de aguardar evidências claras de que as expectativas de inflação não são fundamentadas, pois será tarde demais para prevenir mais pressões inflacionárias, e que os esforços anteriores do Fed para restaurar a confiança dos credores -como os empréstimos baratos a bancos de investimentos, em troca de garantias relativamente arriscadas- representam uma maneira mais eficaz de beneficiar a economia, além de ter efeitos mais rápidos.
Mas o que aparentemente prevaleceu foi uma percepção de perigo iminente: "A maioria dos membros julgou que uma descontração substancial na política monetária se justificou nesta reunião. Alguns, de fato, consideraram que não se pode excluir a possibilidade de uma retração econômica grave e prolongada, dada a restrição maior da disponibilidade de crédito e a fraqueza contínua no mercado imobiliário."


Tradução de CLARA ALLAIN


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