São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Balança, mas não se espatifa


Saldo comercial até março não foi tão horrível como se anunciava; ruim mesmo, por ora, é o resultado do petróleo

O EXAGERO sensacionalista sobre a balança comercial no início do ano esfriou um pouco com o anúncio dos dados fechados do primeiro trimestre, embora ainda não tenham sido publicados detalhes sobre produtos, preços e quantidades. Três meses de informação é o mínimo necessário a fim de colocar os números em contexto e perspectiva. Ainda assim, há grandes flutuações trimestrais na exportação -minério de ferro e o complexo soja representaram mais de 14% das vendas de 2007 e "pesam" na balança só a partir de agora.
Isto posto, sim, a queda do superávit comercial é forte, mas em geral nada surpreendente. Na importação, os fatores de peso mais estranhos foram os grupos "petróleo & derivados" e "fertilizantes". Petróleo & cia. foram responsáveis por uns 20% do aumento de cerca de US$ 10,5 bilhões nas importações do primeiro trimestre de 2008 em relação ao primeiro trimestre de 2007.
Foi a maior contribuição ao aumento de importações no período. Em segundo lugar, vêm "equipamentos mecânicos", com 16% do incremento de importações. Isso é, grosso modo, mais investimento em produção. O grupo "veículos, automóveis e peças" vêm em terceiro lugar, com cerca de 10% do total. Isso se deve à explosão do consumo de automóveis, ao esgotamento da capacidade produtiva no setor e, em parte difícil de avaliar, câmbio.
Os eletroeletrônicos fizeram 11,5% do aumento de importação, e os siderúrgicos, 6% -isso se deve outra vez ao forte aumento do consumo de bens duráveis e ao esgotamento da capacidade das siderúrgicas. A importação de bens de consumo duráveis e não-duráveis, pequenas na pauta, ainda cresce com força, mas em ritmo bem menor em relação ao do início de 2007.
"Fertilizantes" contribuiu com 5,5% do aumento das importações. Na avaliação dos economistas do Bradesco, houve antecipação da compra desses insumos, que sobem rápido de preços. De resto, a safra vai crescer bem e, claro, pesou a própria alta global do preço de adubos.
"Petróleo etc." é o caso mais difícil de descascar. Obviamente os preços dispararam, mas teoricamente o Brasil (isto é, a Petrobras) deveria ter tornado essa conta mais equilibrada faz uns dois anos. Mas houve déficit de mais de US$ 6 bilhões em 2007, e já estamos com déficit de US$ 3 bilhões só no primeiro trimestre de 2008, na conta do Bradesco. A "conta petróleo (Petrobras)" pode ter peso enorme na queda do saldo comercial. A empresa diz que o problema de produção deve ser minorado ao longo do ano. A ver.
Dados o aumento da demanda doméstica, preços de exportações e importações e o aperto na produção de carros e de siderúrgicos, além do déficit histórico em eletrônicos e químicos, o que se pode esperar? Os economistas do Credit Suisse acabam de reduzir sua previsão de superávit comercial em 2008 de US$ 25,7 bilhões para US$ 22 bilhões -o ritmo de aumento da quantidade importada não mudaria, mas os preços ficarão mais salgados; a demanda mundial será menor, e a doméstica está crescendo além do estimado. O pessoal do Bradesco resiste em US$ 27,4 bilhões e acha que previsões de US$ 20 bilhões ou menos são radicalmente pessimistas.

vinit@uol.com.br


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