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LUÍS NASSIF
Antes da tempestade, a bonança
O valor de mercado dos C-Bonds passou dos 90% do
valor de face. O dólar caiu. O mercado aplaude. O presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles, informa à coluna que, quando afirmou que o dólar tem espaço para cair, não queria dizer que
gostaria que o dólar caísse. E se
ele dissesse que tem espaço para o
dólar subir, significaria que ele
gostaria que o dólar subisse?
O país vive momentos de paz
suíça. É um país surpreendente. A
capacidade que tem de repetir os
mesmos erros, se cair nos mesmos
sofismas é fantástico, independe
de linhas políticas ou ideológicas.
Qual o pior cenário que poderia
ocorrer com o país? O momento
de euforia atual é provocado por
um fato -a vulnerabilidade externa brasileira em um quadro de
redução dos fluxos financeiros internacionais.
Em cima disso, o mercado
acrescentou a insegurança em relação a um novo governo e deu o
conhecido "overshooting" -a estilingada que fez o dólar chegar
às alturas. Esse movimento provocou dois contramovimentos relevantes. O primeiro, a desvalorização cambial, permitindo a sensível melhora nas exportações e
no saldo comercial brasileiro,
praticamente eliminando a vulnerabilidade externa. O segundo,
a enorme depreciação do real,
tornando o país "barato".
O comportamento cauteloso do
governo Lula em relação aos mercados e a melhoria dos superávits
encerraram o ciclo de alta do dólar. Aí o mercado deu início a
uma inflexão de valorização dos
títulos brasileiros e do real.
Quais as consequências desse
segundo movimento? O mercado
não gosta de ativos estáveis. Ele
prefere aqueles ativos voláteis,
por isso vai chegar a hora em que
o mercado irá desovar os papéis,
realizando o lucro. A situação interna poderá continuar a mesma,
mas a tendência dos mercados será considerar que o país ficou "caro".
Até aí tudo bem, é jogo de branco. O problema será se o dólar
continuar caindo e o saldo comercial desaparecer. O movimento de
"overshooting" para baixo será
muito mais agudo, e o país voltará a ficar refém dos capitais de
curto prazo.
O capital especulativo, rápido
como veio, rápido sairá. A única
maneira de fechar as contas será
manter as taxas de juros em níveis extremamente elevados,
adiando indefinidamente qualquer possibilidade de recuperação da economia.
Recentemente conversei com o
economista Marcos Lisboa. Ele
me assegurou que a nova geração
de economistas liberais -linha à
qual ele se filia- utiliza pesadamente do ferramental matemático, mas faz questão das comprovações empíricas, para escapar da
armadilha do "autismo" que
sempre dominou esse pessoal da
PUC-RJ.
Pergunto: que estudos o Ministério da Fazenda e o Banco Central dispõem para avaliar a sensibilidade do superávit comercial à
queda do dólar? Que trabalhos foram feitos para identificar os novos produtos que entraram no
mercado com o dólar a R$ 3,30 ou
mais e qual o percentual deles que
sairá quando o dólar baixar dos
R$ 2,90? Joguem o número na mesa. E, daqui a seis meses, sentem-se de novo com o país, para conversar.
E-mail -
luisnassif@uol.com.br
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