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São Paulo, sexta-feira, 09 de maio de 2003

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LUÍS NASSIF

Antes da tempestade, a bonança

O valor de mercado dos C-Bonds passou dos 90% do valor de face. O dólar caiu. O mercado aplaude. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, informa à coluna que, quando afirmou que o dólar tem espaço para cair, não queria dizer que gostaria que o dólar caísse. E se ele dissesse que tem espaço para o dólar subir, significaria que ele gostaria que o dólar subisse?
O país vive momentos de paz suíça. É um país surpreendente. A capacidade que tem de repetir os mesmos erros, se cair nos mesmos sofismas é fantástico, independe de linhas políticas ou ideológicas.
Qual o pior cenário que poderia ocorrer com o país? O momento de euforia atual é provocado por um fato -a vulnerabilidade externa brasileira em um quadro de redução dos fluxos financeiros internacionais.
Em cima disso, o mercado acrescentou a insegurança em relação a um novo governo e deu o conhecido "overshooting" -a estilingada que fez o dólar chegar às alturas. Esse movimento provocou dois contramovimentos relevantes. O primeiro, a desvalorização cambial, permitindo a sensível melhora nas exportações e no saldo comercial brasileiro, praticamente eliminando a vulnerabilidade externa. O segundo, a enorme depreciação do real, tornando o país "barato".
O comportamento cauteloso do governo Lula em relação aos mercados e a melhoria dos superávits encerraram o ciclo de alta do dólar. Aí o mercado deu início a uma inflexão de valorização dos títulos brasileiros e do real.
Quais as consequências desse segundo movimento? O mercado não gosta de ativos estáveis. Ele prefere aqueles ativos voláteis, por isso vai chegar a hora em que o mercado irá desovar os papéis, realizando o lucro. A situação interna poderá continuar a mesma, mas a tendência dos mercados será considerar que o país ficou "caro".
Até aí tudo bem, é jogo de branco. O problema será se o dólar continuar caindo e o saldo comercial desaparecer. O movimento de "overshooting" para baixo será muito mais agudo, e o país voltará a ficar refém dos capitais de curto prazo.
O capital especulativo, rápido como veio, rápido sairá. A única maneira de fechar as contas será manter as taxas de juros em níveis extremamente elevados, adiando indefinidamente qualquer possibilidade de recuperação da economia.
Recentemente conversei com o economista Marcos Lisboa. Ele me assegurou que a nova geração de economistas liberais -linha à qual ele se filia- utiliza pesadamente do ferramental matemático, mas faz questão das comprovações empíricas, para escapar da armadilha do "autismo" que sempre dominou esse pessoal da PUC-RJ.
Pergunto: que estudos o Ministério da Fazenda e o Banco Central dispõem para avaliar a sensibilidade do superávit comercial à queda do dólar? Que trabalhos foram feitos para identificar os novos produtos que entraram no mercado com o dólar a R$ 3,30 ou mais e qual o percentual deles que sairá quando o dólar baixar dos R$ 2,90? Joguem o número na mesa. E, daqui a seis meses, sentem-se de novo com o país, para conversar.

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