São Paulo, domingo, 09 de maio de 2004

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RASCUNHO DE CRESCIMENTO

Renda baixa ainda impede a recuperação do consumo e do mercado interno, dizem economistas

Para empresários, reação ainda é tímida

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A recuperação da economia brasileira, como mostram alguns indicadores fechados até março deste ano, é vista com cautela por economistas e empresários ouvidos pela Folha.
Para Roberto Jeha, vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e presidente da Indústria de Papel e Papelão São Roberto, o país teve em março "um minivôo da galinha". Segundo ele, "as vendas não se sustentaram no mês".
Jeha estima uma queda entre 6% e 7% nas vendas de embalagens em abril na comparação com março, quando as vendas de papelão ondulado cresceram 13% na comparação com fevereiro. A expectativa é que as vendas de automóveis também tenham diminuído em abril.
"A possibilidade de abril não ter sido um mês tão bom quanto março não significa que a economia vá voltar à recessão. Quer dizer que o crescimento do país não é estável", afirma Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas do Instituto Brasileiro de Economia da FGV.
"O país vive bolhas de otimismo. Os empresários estão frustrados com esse sobe-e-desce", afirma Claudio Vaz, diretor da Fiesp. Abram Szajman, presidente da Fecomercio SP, informa que abril "foi mais difícil do que março. O mercado interno ainda está capengando, está muito frágil".
As vendas do comércio paulista subiram 4,35% no primeiro trimestre deste ano. "Isso mostra uma recuperação modesta do consumo, já que a comparação é com um período muito fraco", afirma Fernanda Della Rosa, diretora da assessoria econômica da Fecomercio.

Fôlego curto
O crescimento da economia brasileira tem fôlego curto, segundo economistas e empresários, porque a renda do consumidor está em queda, o desemprego é elevado e o endividamento dos consumidores é alto.
De março a dezembro de 2003, o rendimento médio real dos ocupados caiu 12,9% na comparação com igual período de 2002, segundo levantamento do IBGE.
Segundo dados da Fecomercio SP, 68% de mil pessoas consultadas em março tinham dívidas em atraso. Em fevereiro, esse percentual era menor: 64,9%.
O consumo das famílias, de acordo com dados do IBGE, é um dos mais baixos desde 1991. Ficou em 56,9% do PIB (Produto Interno Bruto) no ano passado. O pico foi em 1997, quando chegou a 62,7%.
"A economia brasileira alterna períodos de retomada e de retração. O país está em recuperação, só que de forma lenta, tímida, menor do que se esperava. A expectativa era que deslanchasse mais rapidamente", diz Quadros.
A recuperação da indústria de bens de consumo duráveis, segundo economistas, é explicada pelo aumento dos prazos de financiamento ao consumidor -de 8 para 12 meses, em média- e, no caso de carros, pela redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), que ocorreu até fevereiro deste ano, com reflexo no mês de março.


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