São Paulo, domingo, 09 de maio de 2004

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RASCUNHO DE CRESCIMENTO

Empresários como Antônio Ermírio de Moraes, no entanto, alertam para dependência de exportações

Indústria registra alta de 9,9% nas vendas

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

Apesar do pessimismo da economia dos últimos dias, a indústria brasileira está em plena recuperação no início deste ano. Nos primeiros três meses de 2004, as vendas reais da indústria cresceram 12,1% (sem ajuste sazonal) e 9,9% (com ajuste sazonal) em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a pesquisa Sondagem Industrial da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Os números da CNI mostram ainda que as vendas da indústria cresceram 3,32% em março em relação ao mês de fevereiro. E, em comparação com o último trimestre do ano passado, as vendas aumentaram 5,09% de janeiro a março deste ano. Nos últimos três trimestres, a indústria já acumula uma alta de 14,4%.
Esses dados mostram que os números da recuperação da indústria não se devem apenas ao fato de a base de comparação, os primeiros meses do ano passado, ser muito fraca.
A indústria também está apresentando melhor resultado em comparação com o final do ano passado, quando o setor já estava em franca recuperação.
O presidente da CNI, Armando Monteiro, afirma que o pessimismo do mercado dos últimos dias não corresponde ao que de fato está ocorrendo no mundo real da economia. "Os números desmentem essa percepção pessimista que está contaminando o mercado", diz Monteiro.
O presidente da CNI atribui o crescimento da indústria no início deste ano a três fatores: a recuperação dos salários reais, a retomada do processo de queda dos juros e o crescimento das exportações.
Segundo a pesquisa da CNI, os salários reais cresceram cerca de 5% nos primeiros três meses do ano, o que significa uma recuperação de pouco mais de um terço em relação à queda de 14% do ano passado.
A recuperação dos salários se deve, entre outros componentes, às recomposições observadas nas últimas negociações salariais e à queda da inflação.
Já em relação às exportações, os números são expressivos. Nos últimos 12 meses, as vendas externas brasileiras já atingiram a cifra de US$ 80 bilhões, e o superávit comercial nos primeiros quatro meses soma US$ 8,1 bilhões, o que significa um aumento de cerca de 45% em relação ao mesmo período do ano passado.
Apesar de achar o pessimismo atual exagerado diante desses números, Armando Monteiro Neto, da CNI, afirma que o governo precisa melhorar o processo de coordenação e articulação de suas decisões para poder melhorar o desempenho em algumas áreas da economia. "Isso reforçaria a percepção dos agentes econômicos de que o ambiente econômico não é tão ruim quanto se imagina", afirma Monteiro.
O presidente da CNI diz acreditar também que o processo de recuperação da indústria irá continuar firme neste ano, apesar de o cenário externo indicar algumas preocupações. Monteiro aposta num crescimento da indústria de 4,5% neste ano, superior aos 3,5% projetados para o PIB (Produto Interno Bruto).

Contraponto
Apesar dos números otimistas, ainda há muitas dúvidas entre os empresários a respeito da recuperação da economia. O presidente do grupo Votorantim, Antônio Ermírio de Moraes, por exemplo, diz que o desempenho da indústria ainda está muito dependente do mercado externo. "Não fosse pela exportação, estávamos parados", afirma.
Segundo Ermírio de Moraes, 51% da produção de alumínio da CBA (Companhia Brasileira de Alumínio), por exemplo, está sendo exportada, assim como 60% do níquel.
Já a produção de cimento do grupo, que depende do mercado interno, encolheu 2%. "Pelo visto, o Espírito Santo já está cansado do Brasil", diz Ermírio.
Já o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horacio Lafer Piva, acredita que o Brasil cresça os 3,5% do PIB previstos para este ano, mas ele acha esse número absolutamente insuficiente diante das necessidades do país.
Para Piva, o país deveria crescer a taxas de 5,5% ao ano para absorver a massa de 1,5 milhão de jovens que entram todos os anos no mercado de trabalho.
Piva atribui esse crescimento da economia neste ano principalmente ao forte desempenho das exportações.
Mas só as exportações não garantem a retomada de crescimento do país. Seria preciso, a seu ver, recuperar a massa salarial e a renda no país. A atual renda interna não autorizaria muito otimismo.


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