São Paulo, quarta-feira, 09 de maio de 2007

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Morales exorta diálogo e crê em acordo

Boliviano modera tom, embora país afirme que não reconhecerá arbitragem internacional na disputa com o Brasil

Petrobras quer US$ 112 milhões por duas refinarias na Bolívia, mas país vizinho quer pagar até US$ 70 millhões


David Mercado/Reuters
O presidente boliviano, Evo Morales, dá entrevista em La Paz


FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Conhecido pelas declarações duras, o presidente Evo Morales adotou um tom cauteloso ao comentar a mais nova crise diplomática com o Brasil, exortando o "diálogo" para resolver o impasse em torno da estatização das refinarias da Petrobras.
O governo boliviano, no entanto, considera que a empresa brasileira não tem "jurisdição" caso decida recorrer à arbitragem internacional.
"Estou convencido de que, com países vizinhos como o Brasil, jamais será necessário recorrer às arbitragens internacionais", disse Morales, durante entrevista coletiva ontem em La Paz. "Seguramente haverá entendimento, isso não é um problema, falta apenas aprofundar o diálogo."
Morales voltou a assegurar que o abastecimento de gás ao Brasil não será afetado pela crise e disse que o governo decidiria "nas próximas horas" sobre a oferta final da Petrobras para a venda das refinarias.
Segundo a Folha apurou, a oferta é de US$ 112 milhões, bem acima dos cerca de US$ 60 milhões a US$ 70 milhões que a Bolívia se dispõe a pagar. A Petrobras ameaça usar um tribunal internacional se não houver um acordo até hoje.
O presidente boliviano defendeu ainda o decreto promulgado no domingo, pelo qual as refinarias perdem o direito de exportar seus produtos, principalmente petróleo cru reconstituído, a operação mais rentável das duas plantas.
"Queremos reafirmar que o povo boliviano tomou uma decisão soberana para que a YPFB [estatal] assuma a responsabilidade de exportar nossos hidrocarbonetos", disse, segundo a Agência Boliviana de Informação (ABI).

Sem jurisdição
Caso a Petrobras decida pela arbitragem internacional, a Bolívia argumentará que ela não tem esse direito, já que o Brasil não tem acordos desse nível com La Paz nem participa do Ciadi (Centro Internacional para Arbitragem de Disputa sobre Investimento), vinculado ao Banco Mundial.
A Petrobras Bolívia, por outro lado, já ameaçou recorrer ao Ciadi porque sua sede oficial é na Holanda, país com quem La Paz tem um acordo mútuo de proteção de investimentos assinado em 1992.
Tanto a Holanda como a Bolívia participam do Ciadi. Morales anunciou recentemente que se retirará do órgão, mas há um prazo de carência de seis meses.
Uma alta fonte do governo boliviano, sob a condição de anonimato, disse que, se houver uma demanda desde a Holanda, a Bolívia demonstrará que a Petrobras não tem jurisdição. Disse ainda que o tratado com a Holanda visava a proteção de investimentos holandeses.
De acordo com essa fonte, La Paz pedirá mostras à Petrobras de que o dinheiro investido na Bolívia é holandês, e não brasileiro.
O funcionário boliviano afirmou ainda que o governo Morales considerou desproporcional a reação da Petrobras e de Brasília contra o decreto, já que as refinarias não foram transformadas em prestadoras de serviço.
Da perspectiva boliviana, o decreto foi "light", disse o funcionário boliviano, no qual a Petrobras continua tendo o controle de todas as refinarias que tem no país.


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