São Paulo, sexta-feira, 09 de maio de 2008

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Cana passa a ser 2ª principal fonte de energia do Brasil

Com 16% da matriz energética, derivados do produto superaram energia hidráulica (14,7%)

Avanço da cana foi puxado pelo uso do álcool como combustível; liderança é do petróleo e seus derivados, com participação de 36,7%


CIRILO JUNIOR
DA FOLHA ONLINE, NO RIO

O uso da cana-de-açúcar para fins energéticos atingiu, no ano passado, um patamar inédito na história do país. Os produtos derivados da cana (bagaço e álcool) foram responsáveis por 16% da matriz energética brasileira, tornando-se a segunda fonte primária de energia.
Os derivados da cana deixaram para trás a energia hidráulica, cuja participação não passou dos 14,7%. Petróleo e derivados continuam sendo a principal fonte energética do país, com 36,7% de participação na matriz.
O crescimento da cana-de-açúcar foi impulsionado pelo elevado consumo de álcool combustível no país, que, em fevereiro deste ano, suplantou a gasolina no ranking de consumo dos combustíveis. No ano passado, o consumo de álcool hidratado -o chamado álcool puro, que não é misturado à gasolina- teve incremento de 46,1%, somando 10,4 bilhões de litros. A produção do mesmo combustível cresceu 45,2%, totalizando 14,3 bilhões de litros.
Os dados fazem parte dos estudos preliminares do BEN (Balanço Energético Nacional), divulgado pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética). Para o presidente do órgão responsável pelo planejamento energético do país, Mauricio Tolmasquim, o crescimento da cana-de-açúcar como fonte primária de energia "é uma tendência meio irreversível" no Brasil.
"É um fato inédito. A cana passará a ter papel superior ao da hidráulica mesmo com a previsão de entrada de grandes hidrelétricas, como as usinas do Madeira e a de Belo Monte."

Oferta
Ao todo, a oferta interna de energia em 2007 cresceu 5,9%, na comparação com o ano anterior, totalizando 239,4 milhões de tep (toneladas equivalentes de petróleo). O petróleo perdeu um pouco de espaço em relação a 2006 -37,8% para 36,7%-, mas Tolmasquim acha que, diante das perspectivas de descobertas de reservas gigantes na camada pré-sal, a tendência futura indica também maior participação dessa fonte não-renovável.
O balanço da EPE indica também que as fontes renováveis ganharam mais espaço na matriz energética no ano passado. Elas foram responsáveis por 46,4% da oferta energética, totalizando 111 milhões de tep. No ano anterior, essas fontes, que incluem energia hidráulica e os produtos da cana, respondiam por 44,9% da matriz.
As fontes não-renováveis (petróleo e derivados, gás natural, carvão mineral) corresponderam aos 53,6% restantes, ante parcela de 55,1% em 2006. Ao todo foram ofertados 128,3 milhões de tep oriundos de fontes não-renováveis em 2007.
Tolmasquim exaltou o fato de o Brasil ter um aproveitamento de fontes renováveis acima da média verificada em todo o mundo, que não passa de 12,7%. A forte presença de fontes renováveis na matriz energética brasileira é decisiva para que o país tenha um número relativamente baixo de emissões de gás carbônico, em razão da produção de energia. Cada habitante emite, em média, 1,84 tonelada de gás carbônico. Nos EUA, essa média chega a 19,61 t por habitante. A média mundial é de 4,22 t de gás carbônico por habitante.
"Isso mostra que o Brasil tem melhor qualidade na matriz energética, com menores emissões de gás carbônico", resumiu Tolmasquim.

Auto-suficiência
Ainda de acordo com a EPE, o Brasil manteve a auto-suficiência de petróleo no ano passado. Foi produzido, em média, 1,751 milhão de barris/dia, diante de consumo médio de 1,734 milhão de barris/dia. A EPE mede o consumo pelo volume de barris processado nas refinarias brasileiras.
Foram exportados 421 mil barris/dia em 2007. Já o volume importado de petróleo ficou em 418 mil barris/dia. No ano anterior, haviam sido vendidos ao exterior, em média, 368 mil barris/dia, e importados 335 mil barris diários.


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