São Paulo, sábado, 09 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BC faz a 1ª compra de dólares na crise

Após intervenção com contratos futuros, Banco Central adquire moeda diretamente no mercado, mas não impede queda da cotação

Com entrada de recursos estrangeiros, dólar recua 5% na semana e atinge R$ 2,06; BC diz que intenção é reforçar as reservas internacionais


FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

As novas intervenções do Banco Central no mercado de câmbio não detiveram a depreciação do dólar, que recuou 5,18% na semana, para terminar vendido ontem a R$ 2,068 -menor valor desde 3 de outubro de 2008. Apenas ontem a queda foi de 2,04%.
Ontem o BC foi ao mercado para comprar dólares diretamente das instituições financeiras, o que não fazia desde setembro, quando a crise internacional se agravou e passou a pressionar de forma mais intensa a cotação da moeda. Operadores do mercado estimaram que o montante da intervenção tenha ficado entre US$ 250 milhões US$ 300 milhões.
Na terça, o BC estreou sua nova forma de atuação, que tende a amortecer a depreciação do dólar. Naquele dia, realizou leilão de títulos que girou cerca de US$ 3,7 bilhões.
No ano, a baixa da moeda americana alcança os 11,40%. Para analistas, se a entrada de recursos externos no país se mantiver em ritmo forte, não há limites para que essa desvalorização se aprofunde.
O BC afirmou que não tem por objetivo deter a depreciação do dólar. Segundo a instituição, a atuação ocorreu na tentativa de aproveitar o fluxo positivo para retomar a política de recomposição de reservas internacionais do país. Em outras palavras, o BC estaria aproveitando para elevar sua poupança em dólares, relevante nos momentos de crise.
"Não acho que o BC trabalhe com um piso para a cotação, mas tem deixado claro que não quer que a moeda caia tanto e tão rapidamente. O BC está tentando evitar que a depreciação da moeda seja muito intensa, o que poderia se tornar um problema mais à frente", afirma Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.
Mesmo com a forte queda recente, o dólar ainda está bastante distante das cotações mínimas registradas em 2008. Em agosto, desceu até R$ 1,559.
Na outra ponta, a moeda americana alcançou R$ 2,536 em dezembro passado.
"Há menos de um ano o dólar rondava patamares muito mais baixos que os atuais", diz Maristela Ansanelli, economista-chefe do banco Fibra. "Mais do que a simples cotação, o BC deve estar vendo um fluxo de recursos muito expressivo ao país. Assim, suas novas atuações devem visar equilibrar um pouco os fluxos e os ânimos do mercado. Temos de lembrar que a crise não acabou."
Na terça, o BC vendeu títulos conhecidos como "swap cambial reverso". Esses papéis têm o efeito de compras de dólares no mercado futuro e acabam por pressionar as cotações da moeda. Uma das justificativas para a atuação foi a de que o BC estava aproveitando para antecipar vencimentos de títulos que ocorreriam em junho.
Um dos pontos que explicam a depreciação da moeda americana é o fato de os estrangeiros terem diminuído de forma expressiva suas apostas no dólar valorizado. Isso pode ser verificado nos contratos que mantêm no pregão da BM&F.
Quando os investidores esperam que o dólar continue em rota de alta, fazem operações nas quais ficam com "posições compradas" na moeda. Quanto maior essa posição, mais forte as apostas no dólar valorizado. De um patamar que superou os US$ 14 bilhões em março, as posições compradas dos estrangeiros caíram para US$ 2,5 bilhões nesta semana.
Esse movimento mostra que há cada vez menos investidores confiantes na manutenção do dólar em patamares elevados.


Texto Anterior: Mercado Aberto
Próximo Texto: Nova estratégia recompõe reservas e tenta evitar queda brusca do dólar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.