São Paulo, Domingo, 09 de Maio de 1999
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"EXUBERÂNCIA IRRACIONAL"
Maior temor é que crescimento da economia do país entre em colapso e arraste o mundo globalizado
Mercado teme freada brusca dos EUA

MARCIO AITH
de Washington

Nos últimos 15 dias, novos sinais de superaquecimento da economia dos Estados Unidos acenderam mais uma luz amarela nos mercados mundiais.
Dados recentes fizeram aumentar ainda mais o temor de que a euforia dos consumidores e investidores norte-americanos, considerada exagerada e perigosa pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), transforme-se em recessão do dia para a noite, o que colocaria um ponto final na atual fase de expansão recorde na economia dos Estados Unidos e provocaria a mais séria recaída na economia mundial desde o início da crise financeira asiática, em julho de 1997.
Os indícios são fortes.
O índice Dow Jones, que havia demorado 13 meses para passar de 9.000 pontos para 10 mil pontos, chegou a 11 mil em apenas 24 dias úteis.
Pela primeira vez nesse período de expansão, o índice Russel, que mede a variação das ações de 2.000 pequenas e médias empresas, apresentou variação positiva. Isso significa que os investidores não estão se limitando a comprar ações de empresas grandes e conhecidas, mas de praticamente todos os tipos de companhias listadas na Bolsa de Valores.
Os consumidores norte-americanos estão gastando mais rápido do que no ano passado. Nos primeiros quatro meses de 1999, as vendas no comércio cresceram 6,7%, o maior aumento em quatro anos. Esse índice se soma aos 5,1% de aumento nas vendas no ano passado.

Sede de consumo
Diferentemente do que se verificou nos primeiros anos da expansão econômica dos EUA, o aumento no consumo durante os quatro primeiros meses foi puxado pelos gastos das camadas mais baixas da população. O crescimento real nos salários e os menores índices de desemprego nos últimos 29 anos encheram as lojas de consumidores sedentos.
A sensação de que esses novos dados revelam um perigo adicional à economia dos Estados Unidos foi expressa na última quinta-feira pelo presidente do Fed, Alan Greenspan.
De acordo com ele, sérios desequilíbrios nessa expansão transformam a euforia num castelo de cartas. "A menos que sejam administrados, esses desequilíbrios trarão um fim a essa longa trajetória de crescimento forte e de baixa inflação".
A economia dos Estados Unidos cresce ininterruptamente desde 1991. Nos últimos dois anos, a taxa de crescimento médio anual do país ficou em 3,9%, a maior entre os países considerados altamente industrializados.

Limite
De acordo com o presidente do Fed, o maior problema da economia dos EUA é o limite a que chegou seu mercado de trabalho. Pela primeira vez na história, o desemprego nos EUA foi inferior ao do Japão.
A oferta de trabalho chegou a tal ponto que empresas em todos os setores demoram até um ano para conseguir empregados.
O desemprego nos Estados Unidos está em 4,2%, uma situação que os economistas classificam de pleno emprego.
"Num determinado ponto, as condições do mercado de trabalho podem se tornar tão apertadas que o aumento nos salários começará a superar os ganhos de produtividade. Aí, os preços inevitavelmente começarão a subir", afirmou Greenspan.

Freio
O presidente do Fed disse que os ganhos de produtividade nas fábricas dos Estados Unidos e a queda mundial nos preços de "commodities" evitaram que os salários cada vez mais altos provocassem aumentos significativos nas taxas de inflação.
No entanto Greenspan sugeriu que esses ganhos de produtividade podem não aumentar no mesmo ritmo daqui para a frente e lembrou o risco adicional causado pela recuperação recente nos preços das "commodities".
O que determina os riscos de explosão na economia e os efeitos que causariam nos mercados emergentes são fatores incertos.
Na última semana, o secretário do Tesouro norte-americano, Robert Rubin, afirmou que os efeitos de uma desaceleração dos Estados Unidos sobre a economia mundial poderão ser piores caso o Japão e os países europeus não compensem essa redução com um aumento significativo do PIB.


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