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EMPRESAS
Projeto foi criado pelo departamento de mercado de capitais da Goldman Sachs
Programa de salvamento do BNDES nasceu em Wall Street
do enviado especial a Nova York
Nasceu em Wall Street o projeto
de salvar, com o patrocínio do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), um grupo de 90 grandes empresas brasileiras endividadas em
dólar. Mais especificamente no
número 85 da Broad Street, sede da
Goldman Sachs, um dos maiores
bancos de investimento do mundo.
Em entrevista à Folha, a brasileira Angela Mello, vice-presidente
de finanças corporativas da Goldman Sachs, contou que o criativo e
complicado projeto foi criado pelo
departamento de mercado de capitais do banco no ano passado.
Anunciado formalmente há duas
semanas pelo BNDES e pela Goldman, o projeto consiste em criar
uma companhia que vai comprar,
no mercado secundário, títulos da
dívida de empresas brasileiras nas
mãos de investidores que estão
preocupados com a queda do preço desses papéis nas recentes crises.
Essa companhia (que terá o formato de uma Sociedade de Propósitos Específicos) não desembolsará dinheiro, mas pagará os investidores com novos títulos, emitidos
por ela com uma garantia limitada
do BNDES. Segundo Angela Mello
o projeto foi oferecido no final de
1998 à diretoria do BNDES, antes
da desvalorização do real. "O
BNDES é um cliente nosso, com
quem a gente está sempre conversando. Numa dessas visitas mencionamos a idéia e eles a consideraram muito inteligente."
Angela confirmou ainda que a
Goldman Sachs fora contratada
para fazer a emissão, no passado
recente, de títulos em dólar de algumas das 90 companhias beneficiadas pelo projeto com o BNDES.
Perguntada, ela confirmou o caso
da Globopar, "holding" das Organizações Globo que teve títulos de
quase US$ 1,5 bilhão incluídos na
lista de papéis que poderão ser trocados pela nova companhia. "Fizemos duas emissões para a Globo,
mas não vejo problema nenhum
nisso. Montamos o projeto com o
BNDES para ajudar a equacionar a
situação de todas as empresas brasileiras com dívidas, não para ajudar clientes nossos. É incrível como, toda vez que aparece uma
idéia nova, as pessoas ficam com a
pulga atrás da orelha", disse ela.
Ajudar empresas a lançar títulos
no exterior e, depois, trabalhar para o BNDES num projeto como esse, significa ganhar duas vezes, nas
duas pontas, e essa é uma crítica
cada vez maior de parlamentares
brasileiros que querem derrubar o
projeto. Angela não quis mencionar o valor da remuneração que a
Goldman Sachs receberá caso a
operação seja viabilizada. Ela reconhece que, embora os riscos de o
BNDES ter de desembolsar de fato
algum dinheiro sejam muito pequenos, sua participação no projeto é essencial. No entanto, afirmou
não ter idéia da necessidade de
uma licitação numa operação como essa. "Pergunte ao BNDES".
Angela, considerada pelo mercado como uma das mais criativas
"arquitetas" de projetos financeiros como o que está em via de ser
lançado, nasceu no Rio e mora há
16 anos em Nova York, onde trabalhou como "trader" para a Lehman
Brothers e para a Merryl Lynch,
entre outros bancos de investimento. Ela voltou do Brasil na sexta-feira, depois de uma viagem feita para esclarecer o projeto ao mercado e à opinião pública.
Mello pediu que dois pontos fossem esclarecidos. "A companhia
que estamos criando é um novo investidor que está comprando papel no mercado secundário. Não tá
fazendo absolutamente nada de
inusual. Só que, ao invés de ela pagar com cash, ela vai pagar com título de dez anos. O fato de o investidor estar aceitando um papel que
pode ir a até dez anos mostra que
quem está oferecendo essa possibilidade são os investidores. É uma
maneira inteligentíssima de o Brasil fazer com que os investidores,
voluntariamente, ofereçam essa
opção de refinanciamento para os
emissores brasileiros", disse ela.
Outro ponto é a garantia do
BNDES. "Estão dizendo que o
BNDES garante o pagamento dos
juros nos dois primeiros anos. Não
é isso. O valor da garantia se limita
ao valor dos juros de dois anos,
mas essa garantia vale durante os
dez anos da operação".
(MA)
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