São Paulo, Domingo, 09 de Maio de 1999
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EMPRESAS
Projeto foi criado pelo departamento de mercado de capitais da Goldman Sachs
Programa de salvamento do BNDES nasceu em Wall Street

do enviado especial a Nova York

Nasceu em Wall Street o projeto de salvar, com o patrocínio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), um grupo de 90 grandes empresas brasileiras endividadas em dólar. Mais especificamente no número 85 da Broad Street, sede da Goldman Sachs, um dos maiores bancos de investimento do mundo.
Em entrevista à Folha, a brasileira Angela Mello, vice-presidente de finanças corporativas da Goldman Sachs, contou que o criativo e complicado projeto foi criado pelo departamento de mercado de capitais do banco no ano passado.
Anunciado formalmente há duas semanas pelo BNDES e pela Goldman, o projeto consiste em criar uma companhia que vai comprar, no mercado secundário, títulos da dívida de empresas brasileiras nas mãos de investidores que estão preocupados com a queda do preço desses papéis nas recentes crises.
Essa companhia (que terá o formato de uma Sociedade de Propósitos Específicos) não desembolsará dinheiro, mas pagará os investidores com novos títulos, emitidos por ela com uma garantia limitada do BNDES. Segundo Angela Mello o projeto foi oferecido no final de 1998 à diretoria do BNDES, antes da desvalorização do real. "O BNDES é um cliente nosso, com quem a gente está sempre conversando. Numa dessas visitas mencionamos a idéia e eles a consideraram muito inteligente."
Angela confirmou ainda que a Goldman Sachs fora contratada para fazer a emissão, no passado recente, de títulos em dólar de algumas das 90 companhias beneficiadas pelo projeto com o BNDES. Perguntada, ela confirmou o caso da Globopar, "holding" das Organizações Globo que teve títulos de quase US$ 1,5 bilhão incluídos na lista de papéis que poderão ser trocados pela nova companhia. "Fizemos duas emissões para a Globo, mas não vejo problema nenhum nisso. Montamos o projeto com o BNDES para ajudar a equacionar a situação de todas as empresas brasileiras com dívidas, não para ajudar clientes nossos. É incrível como, toda vez que aparece uma idéia nova, as pessoas ficam com a pulga atrás da orelha", disse ela.
Ajudar empresas a lançar títulos no exterior e, depois, trabalhar para o BNDES num projeto como esse, significa ganhar duas vezes, nas duas pontas, e essa é uma crítica cada vez maior de parlamentares brasileiros que querem derrubar o projeto. Angela não quis mencionar o valor da remuneração que a Goldman Sachs receberá caso a operação seja viabilizada. Ela reconhece que, embora os riscos de o BNDES ter de desembolsar de fato algum dinheiro sejam muito pequenos, sua participação no projeto é essencial. No entanto, afirmou não ter idéia da necessidade de uma licitação numa operação como essa. "Pergunte ao BNDES".
Angela, considerada pelo mercado como uma das mais criativas "arquitetas" de projetos financeiros como o que está em via de ser lançado, nasceu no Rio e mora há 16 anos em Nova York, onde trabalhou como "trader" para a Lehman Brothers e para a Merryl Lynch, entre outros bancos de investimento. Ela voltou do Brasil na sexta-feira, depois de uma viagem feita para esclarecer o projeto ao mercado e à opinião pública.
Mello pediu que dois pontos fossem esclarecidos. "A companhia que estamos criando é um novo investidor que está comprando papel no mercado secundário. Não tá fazendo absolutamente nada de inusual. Só que, ao invés de ela pagar com cash, ela vai pagar com título de dez anos. O fato de o investidor estar aceitando um papel que pode ir a até dez anos mostra que quem está oferecendo essa possibilidade são os investidores. É uma maneira inteligentíssima de o Brasil fazer com que os investidores, voluntariamente, ofereçam essa opção de refinanciamento para os emissores brasileiros", disse ela.
Outro ponto é a garantia do BNDES. "Estão dizendo que o BNDES garante o pagamento dos juros nos dois primeiros anos. Não é isso. O valor da garantia se limita ao valor dos juros de dois anos, mas essa garantia vale durante os dez anos da operação". (MA)




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