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RECEITA ORTODOXA
Ministro e Bird avaliam necessidade de superávit maior
Palocci admite elevar aperto
fiscal se o cenário se agravar
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) admite a possibilidade de o país ser obrigado a adotar um aperto fiscal ainda mais rígido que o de hoje -o que significaria elevar a meta para o superávit primário (economia destinada
ao pagamento de juros).
Em negociações para um novo
empréstimo do Bird (Banco
Mundial) ao governo brasileiro,
as duas partes trataram da possibilidade de o país aumentar a meta, que é de 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto) até 2006.
Segundo um estudo realizado
pelo organismo, a meta atual não
será capaz de estancar o crescimento da dívida pública se o Brasil passar por mais e -diante do
ambiente externo muito desfavorável- nada improváveis turbulências financeiras.
Em simulações com diferentes
graus de probabilidade, o trabalho calcula os níveis de superávit
necessários em cenários mais adversos que os previstos nos documentos oficiais. Os resultados vão
de 4,6% a 5,8% do PIB.
Em carta à instituição, de 9 de
maio, Palocci diz considerar que o
superávit atual bastará para reduzir a dívida pública de 56% para
50% do PIB no governo Lula. Palocci mostra sintonia, porém,
com as preocupações do Bird.
"Com as metas anunciadas de
4,25% do PIB para o superávit
primário, acreditamos que o objetivo intermediário relativo à relação dívida/PIB [50%] pode ser alcançado nos próximos três anos.
Entretanto, se circunstâncias
inesperadas levarem a desvios
nessa trajetória, medidas de correção serão tomadas", escreve.
Essas "circunstâncias inesperadas" não são propriamente inesperadas, na avaliação que o Bird
anexou aos documentos referentes ao empréstimo de US$ 404 milhões ao Brasil, examinado no
mês passado -com o objetivo,
aliás, de promover aperfeiçoamentos da política fiscal.
Vulnerabilidade
"Apesar dos consideráveis ajustes nas contas externas e fiscais
nos anos recentes, reduzir as vulnerabilidades remanescentes levará tempo. Riscos macroeconômicos substanciais permanecerão
por algum tempo", diz o Bird.
O Banco Mundial começa suas
simulações adotando premissas
semelhantes às dos documentos
oficiais da Fazenda: estabilização
da taxa de câmbio, redução gradual dos juros a partir deste ano e
mais crescimento do PIB a partir
de 2004. Nesse cenário, como nas
projeções da Fazenda, a dívida
pública segue uma trajetória de
queda contínua até chegar aos desejados 50% do PIB em 2006.
"A simulação básica acima ignora, no entanto, o fato de que a
economia brasileira é sujeita a
choques aleatórios", diz o trabalho. Isso explica, conclui-se, por
que a política de superávits primários iniciada em 1999 fracassou em reduzir a dívida pública.
O passo seguinte é incorporar a
probabilidade de diferentes graus
de turbulência aos cálculos. No
pior cenário, seria preciso um superávit de 5,8% do PIB para obter
os resultados prometidos por Palocci. No jargão técnico, esse cenário tem intervalo de confiança
de 10% -em outras palavras, o
superávit calculado teria 90% de
chances de atingir os objetivos.
Usando um intervalo de confiança de 15%, o superávit necessário é de 5,3% do PIB; com intervalo de 25%, o superávit seria de
4,6%. O estudo esclarece que tais
intervalos não chegam a ser rígidos para simulações desse tipo.
O que se pretende dizer é: em
uma economia dependente de capital externo, com juros altos,
câmbio volátil e baixo crescimento, dificilmente se pode contar
com cenários em que todas essas
variáveis sigam o comportamento desejado por prazos longos.
Os cenários pessimistas do organismo divergem dos já apresentados em documentos do governo -nestes últimos, a dívida
sofre uma elevação inicial, mas
volta à trajetória de queda sem necessidade de elevar o superávit.
Riscos
Em outro cálculo, o Bird faz
uma relação entre o nível da dívida pública, o superávit primário e
o risco-país. No cálculo, o superávit brasileiro é compatível com
uma dívida pública em torno de
50% e um risco de 700 pontos. Para um risco menor, são precisos
superávits maiores.
Em termos concretos, o Bird
enumera os riscos que rondam a
economia brasileira: "A vulnerabilidade externa continua uma
preocupação. A experiência recente mostrou as dificuldades de
um acesso difícil aos mercados
externos. Depreciação do real, inflação mais alta, interrupção na
queda dos juros e crescimento
mais baixo geraram uma dinâmica perversa para a dívida pública,
que piorou ainda mais o acesso ao
mercado externo".
"Pelo lado interno", diz o texto,
"os riscos principais vêm do alto
nível de inflação e da incerteza em
relação ao destino das reformas
propostas pelo governo".
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