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OPINIÃO ECONÔMICA
Da luta das mulheres à batalha pelo 1º emprego
AMALIA SINA
Muito tem se falado da
questão das cotas que garantem o acesso das minorias raciais, sociais e sexuais em empresas, instituições de ensino e órgãos públicos. O assunto despertou a sociedade recentemente,
com a adoção de medidas de afirmação nas universidades cariocas. As minorias exigem -e merecem- espaço, e poucos questionam esse fato. No entanto temos encontrado uma sociedade
dividida, longe de ter opinião homogênea quanto ao assunto. Não
pretendo entrar na questão de serem ou não justas as cotas, serem
ou não estes mecanismos legais
uma forma de "preconceito ao
contrário", como dizem muitos.
O que quero dizer é que, antes
mesmo de pensar em cotas, é imprescindível fazer a sociedade entender que pode crescer com a inclusão daqueles que em algum aspecto -seja ele social, racial, sexual etc.- são diferentes da
maioria.
No mundo empresarial, assim
tem sido com as mulheres. Quando entramos no mercado, trazendo nossa bagagem cultural, muito
diferente da do homem, enriquecemos o jeito de fazer negócios.
Não que o mercado de trabalho
seja machista: jamais sofri preconceito por ser mulher. Na verdade, o mundo dos negócios sempre foi, e ainda é, muito masculino. É preciso entender que as mulheres trouxeram ao sistema seu
"jeito", sua maneira de ser. Foi
preciso que a mulher mostrasse
ao homem que ela possuía muitas
habilidades que poderiam ser
aplicadas com sucesso nas corporações e que o mercado estivesse
interessado em abrigar essas diferenças.
A diversidade é enriquecedora,
pois cria situações que um espaço
monótono é incapaz de criar. Colocar pessoas diferentes em um
mesmo ambiente cria uma situação propícia à troca, à evolução,
por meio da diferença. Toda vez
que você encontra um ambiente,
principalmente de negócios, no
qual as pessoas são muito parecidas o nível de criatividade é menor. Empresas diversificadas evoluirão como nichos ecológicos do
nível da Amazônia ou do Pantanal, ricos em variedade de espécies, em biodiversidade.
No entanto poucas empresas estão evoluindo no sentido de buscar o crescimento na diversidade.
Mesmo quando pensamos na entrada das mulheres no mercado, a
batalha não pode ser considerada
ganha. Se hoje temos 30% dos cargos de trabalho de todo o mundo
ocupados por mulheres, o mesmo
não é verdade quando pensamos
apenas nos cargos executivos, nos
quais as decisões efetivas das empresas são tomadas. Infelizmente,
apenas 5% desses postos estão nas
mãos de mulheres, segundo pesquisa do grupo Catho. É muito
pouco. Significa que ainda não estamos conseguindo mesclar nossas características próprias com o
modo de fazer negócios das corporações. Significa que, em boa
parte dos casos, ainda jogamos de
acordo com regras estritamente
masculinas.
O que nos leva a outra questão:
estariam as empresas preparadas
para acolher esse universo de diferenças? Em alguns casos, podemos dizer com muito orgulho e
otimismo que o caminho correto
já foi tomado. A empresa na qual
trabalho, por exemplo, admitiu
em seu primeiro relatório de balanço social que há a necessidade
de diversificar a característica de
seus gestores. O plano é aumentar
o número de mulheres nos cargos
executivos de 4% para 10% nos
próximos anos, além de desenvolver políticas de absorção da cultura local nas filiais do grupo holandês espalhado pelo mundo.
No entanto ainda há diversos
percalços nessa jornada. Muitas
companhias não têm ao menos o
básico para permitir a integração
das minorias. Tomemos o caso
dos deficientes físicos, que, amparados pela lei, estão conquistando
com justiça o espaço que lhes é devido. O triste é perceber que muitas empresas não se deram nem
ao trabalho de adaptar seus ambientes às necessidades desses novos trabalhadores. As construções
em si já são preconceituosas, despidas de rampas, banheiros especiais, elevadores etc. O mercado,
ao incorporar essas pessoas, tem
que assumir a responsabilidade
de tratá-las com dignidade e respeito.
Chego, enfim, a um ponto da
maior importância. Muito se fala
em estabelecimento de cotas para
minorias, mas não se pensa numa
grande maioria que sofre muito
preconceito. Os jovens, em busca
de seu primeiro emprego, deparam com exigências excessivas,
um verdadeiro entrave ao ingresso no mercado de trabalho, principalmente em tempos de crise.
Não há empregos para quem não
tem experiência, e não se adquire
experiência sem que se conquiste
um emprego. Apóio o projeto que
o governo federal pretende implantar em todo o país, criando
estímulos para que as empresas
adotem esses jovens e dêem a eles
a primeira oportunidade, quebrando o círculo vicioso da falta
de experiência. Os jovens, com
sua visão de mundo mais fresca e
recente, também têm muito a oferecer ao mercado. É bom que as
empresas estejam prontas para
lucrar com essa incorporação.
Amalia Sina, presidente da Walita, é
professora universitária e autora do livro
"Marketing Global - O Desafio de Construir Uma Marca em Tempos de Globalização" (Crescente Editorial), além de outros dois livros sobre marketing.
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