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RECEITA ORTODOXA
Apenas 61% da arrecadação poderá ser destinada a quitar débito; restante está vinculado a despesas
Economia para pagar dívida tem limites
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar do grande esforço que o
governo vai fazer neste ano para
economizar recursos de impostos
para pagar dívidas, apenas 61%
do total da economia poderá efetivamente ser usado para esse fim.
A estimativa foi calculada pelo
Ministério do Planejamento em
um estudo sobre vinculações de
receitas e de despesas fechado em
fevereiro deste ano. Cerca de 40%
do esforço fiscal não poderá ser
usado para abater dívidas porque
os recursos estão vinculados a outras despesas.
Segundo o estudo, 80,3% das receitas orçamentárias estão destinadas ao pagamento de despesas
específicas.
"Assim, os recursos restantes do
resultado primário ficam esterilizados, servindo apenas para aumentar a disponibilidade de caixa
do Tesouro e, indiretamente, reduzir a dívida líquida da União",
diz o estudo. É que o cálculo da dívida líquida exclui o que o governo tem a receber e o que está no
caixa do Tesouro.
Para o ministério, é preciso melhorar a qualidade do resultado
primário (saldo das receitas utilizadas para o pagamento de juros), evitando o superávit fictício.
O modelo atual, segundo o estudo, "cria uma falsa idéia de maior
disponibilidade de recursos do
Tesouro".
Para este ano, o governo federal
pretende economizar R$ 39,1 bilhões do Orçamento para compor
o superávit do setor público
(agrega Estados, municípios e estatais) de R$ 68 bilhões.
Obrigatoriedade
Existem vinculações de receitas
e de despesas. De acordo com o
Ministério do Planejamento, ao
retirar todas as vinculações do
Orçamento de R$ 406,4 bilhões
(Receita Federal e Previdência Social) previsto para 2003, sobram
apenas R$ 20 bilhões, ou menos
de 5% do total. Ou seja, esse é o total sobre o qual o governo tem poder de decisão sobre seu destino.
A Folha apurou que o ministro
Guido Mantega (Planejamento)
pretendia utilizar a emenda da reforma tributária para estabelecer
algumas desvinculações de receita, mas acabou prevalecendo a tese de que o texto deveria ser menos complexo.
A emenda apenas prevê a prorrogação da DRU (Desvinculação
das Receitas da União), que acabava no final deste ano, para 2007.
O mecanismo desvincula 20% das
receitas orçamentárias (descontadas as transferências para Estados
e municípios).
Mas o estudo afirma que é necessária uma desvinculação
maior porque a DRU também sofre com o total de despesas obrigatórias. Hoje, a DRU abrange R$
45,7 bilhões. Entretanto, desse total, apenas R$ 7,3 bilhões não estão destinados a despesas intocáveis, como pessoal, saúde e benefícios previdenciários.
Segundo o ministério, a Lei de
Responsabilidade Fiscal foi interessante ao estabelecer que a expansão dos gastos obrigatórios
depende do aumento de receitas
ou do corte permanente de outras
despesas.
Mas a mesma lei determina que
as receitas vinculadas só podem
ser utilizadas para seu fim específico mesmo que os gastos aconteçam em outros anos. "Intensificou o problema das vinculações
orçamentárias", comenta o estudo do Planejamento.
É o que vinha acontecendo, por
exemplo, com a receita de alguns
fundos, como o de Combate à Pobreza e o de Universalização dos
Serviços de Telecomunicações. A
receita desses fundos passou de
um ano para o outro por causa de
contingenciamento ou baixa execução orçamentária.
Constituição
A vinculação de receitas aumentou com a Constituição de 1988.
Até aquele ano, o governo podia
gastar livremente 55,5% das receitas. Já em 1993, esse total havia
caído para 22,9%. Em 2003, a previsão é que esse número seja de
apenas 19,7%.
A Constituição criou a vinculação de 18% para a Educação e destinou os recursos das contribuições sociais ao financiamento da
seguridade social. Além disso, estabeleceu os mecanismos de
transferências automáticas para
Estados e municípios.
Depois da Constituição, foram
criadas a CPMF (imposto do cheque) e a Cide (contribuição sobre
o consumo de combustíveis), ambas com vinculações específicas.
O governo também contribuiu
para aumentar o grau de vinculação ao preferir aumentar a carga
tributária por meio de contribuições sociais.
Essa preferência foi motivada
pelo fato de que essas contribuições não precisam ser divididas
com os Estados e os municípios,
como ocorre com os impostos.
Contribuições
A participação das contribuições aumentou de 4,6% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma
das riquezas produzidas no país)
em 1995 para 7,7% em 2002.
Pelo lado das despesas, houve
um aumento expressivo dos gastos com benefícios previdenciários assistenciais e para pessoas
que não contribuíram regularmente, como é o caso dos trabalhadores rurais.
Outra inovação foi a emenda
que fez as despesas com saúde
acompanharem, no mínimo, a
variação estimada do Produto Interno Bruto.
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