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ELETRÔNICA
Remanescente da abertura dos anos 90, Semikron defende incentivo para fabricação de produtos de maior valor agregado
Sobrevivente do chip quer isenção de imposto
Eduardo Knapp/Folha Imagem
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José Luiz Lopes, da Semikron, uma das duas únicas fabricantes de chips do país; empresa pede isenção de impostos para insumos |
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto o governo tenta convencer grandes multinacionais a
instalarem uma fábrica de chips
de microeletrônica no país, uma
empresa de Carapicuíba (Grande
São Paulo) acompanha o assunto,
à distância, com grande interesse.
A Semikron fabrica, desde 1963,
chips de potência, que controlam
a energia elétrica que circula em
aparelhos como rádios, televisores, máquinas de lavar e elevadores. Ligada ao grupo alemão Semikron, sobreviveu à abertura
brasileira às importações, iniciada
em 1990. É uma das duas fábricas
de chips no Brasil.
O governo quer atrair para o
país uma fábrica de chips de microeletrônica para reduzir o déficit comercial (as fábricas de televisores e rádios, por exemplo, gastam muito com importações de
componentes).
Os chips de potência da Semikron funcionam para uma tarefa
específica e são diferentes daqueles de microeletrônica, que exercem várias funções.
José Luiz Lopes, diretor administrativo da Semikron, diz, porém, que as medidas para estimular a produção dos dois chips no
Brasil são semelhantes.
Nesta entrevista, ele diz que o
governo deveria isentar de impostos a importação de insumos, o
que permitiria a fabricação local
de componentes com maior valor
agregado.
Folha - O plano do governo de
trazer uma grande indústria de
chips de microeletrônica é viável?
José Luiz Lopes - Um dos problemas é garantir escala de produção. A demanda interna para a Semikron, por exemplo, não atende
suas necessidades. Para sobreviver, é preciso exportar. Minha estimativa é que uma indústria de
chips de microeletrônica teria de
exportar cerca de 90% de sua produção para justificar um investimento de US$ 1,5 bilhão [estimado pelo governo]. Para que isso dê
certo, o governo precisa criar uma
política industrial.
Folha - Qual política industrial?
Lopes - A Zona Franca de Manaus estimula hoje a importação
de componentes, pois o governo
exige pouco índice de nacionalização. Para que a indústria de semicondutores e de microeletrônica se desenvolva, são necessários
incentivos. Não falo de subsídios.
Os impostos de importação para
insumos, como as lâminas de silício, são em média de 10% hoje.
Deveriam ser zerados, se o governo quiser incentivar a criação de
indústrias de semicondutores.
Folha - Por exemplo?
Lopes - Os fornos de difusão,
usados em etapas de preparo de
chips. Para fazer um chip, é preciso adicionar à placa de silício materiais como fósforo, alumínio e
ouro, o que exige altas temperaturas. Os fornos usados para isso
não são fabricados no Brasil.
Folha - Isso não desestimularia a
vinda de indústrias de máquinas
sofisticadas para o Brasil?
Lopes - Não. Essas indústrias fazem equipamentos muito específicos. Nenhum grupo industrial
construiria uma fábrica de fornos
para semicondutores no Brasil.
Isso exigiria muito dinheiro. Não
defendo a importação de produtos usados, como pneus, que são
fabricados no Brasil. Há equipamentos específicos usados e de última geração em fábricas na Europa e que não são utilizados por
falta de encomendas. Eles poderiam chegar ao Brasil por um valor equivalente a 30% do preço
original. A tributação sobre o lucro das empresas também não estimula a indústria de chips.
Folha - Qual o motivo?
Lopes - Se o governo pretende
estimular a indústria de semicondutores, deveria isentar de imposto o lucro não distribuído. Ele seria reinvestido na pesquisa tecnológica, na produção ou no capital
de giro. Isso é comum em países
que decidem estimular o desenvolvimento de determinados setores. Acho também fundamental
que o governo ofereça às indústrias linhas de crédito compatíveis
com o mercado internacional.
Folha - Esse dinheiro viria do
BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]?
Lopes - Deveria ser do BNDES,
pois é o agente incentivador da indústria. Mas a taxa de juros que o
BNDES cobra hoje é incompatível
com a realidade lá fora. Por mais
barata que seja, por volta de 17%
ao ano, é incompatível com os 3%
a 5% cobrados nos Estados Unidos e na Europa. A Semikron não
usa dinheiro do BNDES hoje porque é muito caro. Chegou a fazer
isso nos anos 80, quando o banco
cobrava somente parte da correção monetária.
Folha - Quais produtos a Semikron fabrica?
Lopes - Fabrica semicondutores
de potência, ou chips de potência,
para a indústria de rádios, de televisores e de máquinas de lavar,
por exemplo, e para máquinas de
outras empresas. Até o início dos
anos 90, grandes multinacionais,
como a Texas Instruments, a Philips e a Siemens, produziram
chips de potência no país. Com a
abertura do mercado, feita de modo desorganizado pelo então presidente Fernando Collor, elas fecharam suas fábricas de chips. A
política cambial do governo Fernando Henrique Cardoso também não ajudou.
Folha - Quais são seus clientes?
Lopes - Cerca de 60% da produção é exportada para Alemanha,
Suécia, Estados Unidos, Japão e
outros países. Ao todo, são mais
de 30 países, e 40% da produção é
vendida para empresas no Brasil.
Folha - A empresa dá lucro?
Lopes - Sim. O lucro atualmente
é de 7% do faturamento. A receita
no ano passado foi de R$ 50 milhões [lucro de R$ 3,5 milhões].
Mas a Semikron trabalha com a
metade da sua capacidade. Falta
para a companhia mais escala de
produção, pois a demanda interna pelos produtos é muito fraca.
Folha - A abertura das importações foi prejudicial à empresa?
Lopes - Antes da abertura a empresa chegou a faturar US$ 30 milhões por ano. Hoje, fatura cerca
de US$ 20 milhões por ano. A empresa passou por sérias dificuldades de 1990 a 1999.
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