São Paulo, sexta-feira, 09 de junho de 2006

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Lance pela Varig fica abaixo do mínimo

Juiz diz que decide hoje se oferta de US$ 449 mi feita por funcionários da aérea é válida; proposta mínima era de US$ 860 mi

Proposta dos trabalhadores depende de financiamento de investidores estrangeiros que eles não identificaram e é vista com ceticismo


MAELI PRADO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

O leilão de venda da Varig frustrou expectativas. As concorrentes do setor e as demais empresas que tiveram acesso aos dados financeiros da empresa não apresentaram propostas. A única oferta partiu do TGV (Trabalhadores do Grupo Varig), que reúne pilotos, comissários e mecânicos. Eles ofereceram R$ 1,010 bilhão (US$ 449 milhões) pela Varig Operações, que reúne linhas domésticas e internacionais.
O valor inicial estimado para esse modelo de venda era de US$ 860 milhões. O juiz Luiz Roberto Ayoub, da 8ª Vara Empresarial, responsável pelo processo de recuperação, disse que decide hoje se a oferta é válida.
Em entrevista após o leilão, Ayoub afirmou que não necessariamente decretará a falência se a proposta for rejeitada. "Pela lei, a solução seria a falência. Mas não significa que será a minha interpretação. O que diz a lei é uma coisa, a interpretação da lei é outra coisa que eu tenho que analisar em um caso concreto." Ele descartou a possibilidade de um novo leilão.
Segundo o juiz Paulo Fragoso, que trabalha no caso, a Justiça decidirá com base em análise de viabilidade do negócio elaborada pela Deloitte, a administradora judicial da Varig.
No início do leilão, cinco empresas se credenciaram: TAM, Gol, OceanAir, NV Participações (empresa do TGV) e Céu Azul (representado pelo escritório Ulhôa Canto, Rezende e Guerra). Nenhum dos interessados fez oferta na primeira fase, com os preços mínimos estimados em US$ 700 milhões para a Varig Regional (linhas domésticas) e em US$ 860 milhões (domésticas e internacionais). Na segunda etapa, sem limite mínimo, só o TGV apresentou oferta, e no último instante. Ayoub examinou-a por 20 minutos, enquanto trabalhadores, interessados e credores esperavam em silêncio.
A proposta do TGV prevê o uso de R$ 225 milhões em créditos concursais (que estão na recuperação judicial, como passivo trabalhista) e extraconcursais, R$ 500 milhões em debêntures e participações em lucros da nova empresa e R$ 285 milhões em moeda corrente. O presidente da Amvvar (Associação dos Mecânicos da Varig), Oscar Bürgel, disse que contam com o financiamento de três investidores estrangeiros e que entregaram carta de fiança do banco dos investidores.
Após o leilão, o TGV teve reuniões com a Justiça. Segundo Fragoso, o grupo não apresentou o nome dos investidores nem a fiança bancária. Especialistas ouvidos pela Folha classificaram a proposta de inconsistente. Caracteriza-se como preço vil um valor menor do que 50% do preço mínimo oferecido. No caso da Varig Operações, algo abaixo de US$ 430 milhões. "Eles incluíram R$ 500 milhões em debêntures que ainda não foram emitidas de uma empresa que ainda não funciona", disse um analista, que preferiu não se identificar.
Segundo fontes da Infraero, a estatal, credora da Varig, avaliou que a proposta "não desagrada", pois se aproximou do mínimo aceitável (US$ 460 milhões). O montante arrecado no leilão será usado para pagar o passivo da aérea. Este ficará alocado na parte da empresa que não será vendida, que segue em recuperação judicial.
Se a proposta for aprovada, o TGV terá três dias para depositar US$ 75 milhões, antes mesmo de obter a necessária autorização da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Como novo dono da Varig, a única outra alternativa é que o TGV negocie novos prazos com fornecedores da companhia.
Dessa forma, na prática a Varig, que era controlada acionariamente pelos empregados, por meio da Fundação Ruben Berta, poderá continuar nas mãos dos funcionários. O resultado do leilão não foi bem recebido pelo mercado e as ações da Varig caíram 57,22%.


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