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Lance pela Varig fica abaixo do mínimo
Juiz diz que decide hoje se oferta de US$ 449 mi feita por funcionários da aérea é válida; proposta mínima era de US$ 860 mi
Proposta dos trabalhadores depende de financiamento de investidores estrangeiros que eles não identificaram
e é vista com ceticismo
MAELI PRADO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
O leilão de venda da Varig
frustrou expectativas. As concorrentes do setor e as demais
empresas que tiveram acesso
aos dados financeiros da empresa não apresentaram propostas. A única oferta partiu do
TGV (Trabalhadores do Grupo
Varig), que reúne pilotos, comissários e mecânicos. Eles
ofereceram R$ 1,010 bilhão
(US$ 449 milhões) pela Varig
Operações, que reúne linhas
domésticas e internacionais.
O valor inicial estimado para
esse modelo de venda era de
US$ 860 milhões. O juiz Luiz
Roberto Ayoub, da 8ª Vara Empresarial, responsável pelo processo de recuperação, disse que
decide hoje se a oferta é válida.
Em entrevista após o leilão,
Ayoub afirmou que não necessariamente decretará a falência
se a proposta for rejeitada. "Pela lei, a solução seria a falência.
Mas não significa que será a minha interpretação. O que diz a
lei é uma coisa, a interpretação
da lei é outra coisa que eu tenho
que analisar em um caso concreto." Ele descartou a possibilidade de um novo leilão.
Segundo o juiz Paulo Fragoso, que trabalha no caso, a Justiça decidirá com base em análise de viabilidade do negócio
elaborada pela Deloitte, a administradora judicial da Varig.
No início do leilão, cinco empresas se credenciaram: TAM,
Gol, OceanAir, NV Participações (empresa do TGV) e Céu
Azul (representado pelo escritório Ulhôa Canto, Rezende e
Guerra). Nenhum dos interessados fez oferta na primeira fase, com os preços mínimos estimados em US$ 700 milhões para a Varig Regional (linhas domésticas) e em US$ 860 milhões (domésticas e internacionais). Na segunda etapa, sem limite mínimo, só o TGV apresentou oferta, e no último instante. Ayoub examinou-a por
20 minutos, enquanto trabalhadores, interessados e credores esperavam em silêncio.
A proposta do TGV prevê o
uso de R$ 225 milhões em créditos concursais (que estão na
recuperação judicial, como
passivo trabalhista) e extraconcursais, R$ 500 milhões em debêntures e participações em lucros da nova empresa e R$ 285
milhões em moeda corrente. O
presidente da Amvvar (Associação dos Mecânicos da Varig),
Oscar Bürgel, disse que contam
com o financiamento de três
investidores estrangeiros e que
entregaram carta de fiança do
banco dos investidores.
Após o leilão, o TGV teve reuniões com a Justiça. Segundo
Fragoso, o grupo não apresentou o nome dos investidores
nem a fiança bancária. Especialistas ouvidos pela Folha classificaram a proposta de inconsistente. Caracteriza-se como
preço vil um valor menor do
que 50% do preço mínimo oferecido. No caso da Varig Operações, algo abaixo de US$ 430
milhões. "Eles incluíram R$
500 milhões em debêntures
que ainda não foram emitidas
de uma empresa que ainda não
funciona", disse um analista,
que preferiu não se identificar.
Segundo fontes da Infraero,
a estatal, credora da Varig, avaliou que a proposta "não desagrada", pois se aproximou do
mínimo aceitável (US$ 460 milhões). O montante arrecado
no leilão será usado para pagar
o passivo da aérea. Este ficará
alocado na parte da empresa
que não será vendida, que segue em recuperação judicial.
Se a proposta for aprovada, o
TGV terá três dias para depositar US$ 75 milhões, antes mesmo de obter a necessária autorização da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Como
novo dono da Varig, a única outra alternativa é que o TGV negocie novos prazos com fornecedores da companhia.
Dessa forma, na prática a Varig, que era controlada acionariamente pelos empregados,
por meio da Fundação Ruben
Berta, poderá continuar nas
mãos dos funcionários. O resultado do leilão não foi bem
recebido pelo mercado e as
ações da Varig caíram 57,22%.
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