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Ferrugem e seca são os desafios para a soja
Nova variedade transgênica do grão, resistente à seca, pode diminuir perda
Nas últimas três safras, seca gerou perdas de US$ 4,5 bi;
ferrugem já deu prejuízos
de US$ 7,8 bi desde que
chegou ao país, em 2001
MAURO ZAFALON
ENVIADO ESPECIAL A LONDRINA
A safra argentina de café, líder mundial em produção, deve
passar por problemas neste
ano. Já o cenário para o Paraná,
o líder nacional na cafeicultura,
é muito bom. Nos EUA, a safrinha de inverno do milho promete boa produtividade.
Essas afirmações, bastante
ilógicas atualmente, podem vir
a se confirmar no futuro. Isso
se as previsões pessimistas de
aquecimento de 5,8 C na temperatura nos próximos cem
anos vier a se confirmar. As
mais otimistas indicam elevação de apenas 1 C.
Eduardo Delgado Assad, chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária, disse, durante o 4º Congresso Brasileiro
de Soja, que terminou ontem
em Londrina (PR), que uma
mudança climática tão drástica
promoveria forte mudança na
geografia da produção agrícola.
O café, em busca de locais
mais frios, desceria para o Sul
do Brasil e da Argentina, e o milho e a soja se deslocariam para
regiões acima das atuais.
Uma mudança climática tão
drástica beneficiaria as agriculturas européia e norte-americana, regiões que, com o aquecimento mundial, ficariam aptas a novos produtos e a alterações no calendário anual de
plantio. O inverno norte-americano, período de baixa temperatura e não-apropriado para o
plantio hoje, poderia entrar no
calendário das safras.
O Brasil seria um dos grandes
prejudicados, e a máxima de
que "Deus é brasileiro" cairia
por terra. Muitas áreas ficariam
impróprias para o cultivo e a
soja, líder entre os grãos, seria
um dos produtos mais afetados.
A produção brasileira cairia do
potencial atual superior a 60
milhões de toneladas para 22
milhões de toneladas.
Apesar do cenário dramático,
o próprio Assad avisa que "há
soluções". Uma das vantagens é
que se está descobrindo isso
cem anos antes de acontecer.
Para não chegar a esse ponto, o
pesquisador da Embrapa diz
que o país precisa de melhoramento genético e usar plantas
mais adaptadas a essas novas
condições climáticas. Outro
ponto básico é a preservação da
biodiversidade brasileira.
Perdas elevadas
Diante desse cenário de
aquecimento e de secas mais
intensas, Alexandre Lima Nepomuceno, da Embrapa Soja,
diz que a seca e a ferrugem passam a ser os grandes desafios
para a sojicultura brasileira.
Nas últimas três safras, só
com os efeitos da seca os agricultores tiveram perdas diretas
de US$ 4,5 bilhões. A ferrugem
trouxe prejuízos de US$ 7,8 bilhões desde que chegou ao país,
em 2001, nas contas de José
Tadashi, da Embrapa Soja. Em
volume, a perda foi de 15 milhões de toneladas no período.
Na avaliação de Nepomuceno, o Brasil já começa a se preparar para esses eventos adversos. A Embrapa Soja e a japonesa Jircas (uma empresa de pesquisas que é uma espécie de
Embrapa japonesa) anunciaram um convênio para o desenvolvimento de uma soja transgênica resistente à seca.
A soja recebeu um gene, extraído de uma planta chamada
"Arabidopsis" -a primeira
planta a ter o seu genoma seqüenciado. Esse gene, adicionado à soja, aciona os genes de
defesa das estruturas celulares
da planta, retardando a reação
à seca em 20 a 30 dias.
Ao contrário de outras sementes transgênicas, que têm a
adição de genes de bactérias, o
projeto da Embrapa e da Jircas
adiciona o gene de outra planta.
Segundo Nepomuceno, coordenador do projeto, essa será a
primeira soja transgênica resistente à seca a ir ao mercado. O
projeto deve passar, ainda, pela
fase de pesquisas em campo.
O cientista da Embrapa está
descrente, no entanto, com o
ritmo de aprovação de processos na CTNBio, onde as discussões estão tomando mais um
rumo "ideológico e politizado"
do que técnico. Há 538 projetos
na fila de espera para serem
analisados, o que preocupa os
cientistas. Nepomuceno diz
que outra preocupação é com a
presença de um membro do
Ministério Público na comissão. "Ela inibe os cientistas."
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