São Paulo, sexta-feira, 09 de junho de 2006

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Copom acha que turbulência é temporária

Diretores do BC dizem que fundamentos da economia brasileira protegerão o país da volatilidade internacional

Mas alertam de que, em caso de piora no cenário de crise internacional, estratégia do banco será "prontamente adequada"


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central já pensa em interromper o processo de redução dos juros caso se agrave a instabilidade nos mercados devido às incertezas sobre o futuro das taxas praticadas nos EUA. O nervosismo dos investidores foi o principal motivo apresentado pelo BC para, na semana passada, diminuir o ritmo de redução da taxa Selic.
As informações constam da ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). Na ocasião, decidiu-se reduzir os juros em 0,50 ponto percentual -para 15,25% ao ano. Nas três reuniões anteriores, os cortes foram de 0,75.
A ata divulgada ontem expõe as justificativas para a decisão. Nela, o BC se diz atento à turbulência dos mercados, mas afirma que, por enquanto, não gerou crise no país. "Essa instabilidade não configura um quadro de crise, tanto devido ao caráter potencialmente transitório de suas causas principais quanto graças aos sólidos fundamentos da economia", dizem os diretores do BC.
"Só que esse "temporário" pode durar vários meses", observa o economista Ricardo Amorim do banco WestLB. Para ele, a volatilidade deve durar até a próxima reunião do Copom (marcada para 18 e 19 de julho), podendo se estender até o encontro posterior (em agosto).
Os mercados internacionais têm vivido dias de intranqüilidade desde meados de maio, com sinalizações do Federal Reserve (o banco central dos EUA) de que os juros nos EUA devem aumentar mais para conter pressões inflacionárias. Juros mais altos por lá tendem a estimular os investidores a reduzir aplicações em países emergentes -como o Brasil- para direcioná-las para papéis no mercado americano.
Para o BC brasileiro, fatores como o saldo positivo da balança comercial e a redução da dívida externa, ocorridos nos últimos anos, ajudam a proteger o país desse tipo de turbulência. Ainda assim, as anotações feitas na última reunião do Copom mostram que, caso a situação piore, os juros podem cair menos -ou mesmo pararem de cair- nos próximos meses.
"Evidentemente, na eventualidade de se verificar uma exacerbação de riscos que implique alteração do cenário prospectivo traçado para a inflação neste momento pelo Comitê [Copom], a estratégia de política monetária será prontamente adequada às circunstâncias", diz o documento.
A taxa Selic tem sido reduzida seguidamente desde setembro passado. A reunião de abril do Copom, porém, já sinalizava uma queda mais gradual dos juros. Isso porque, para o BC, os cortes desde 2005 -quando a taxa chegou a 19,75% ao ano- ainda não haviam surtido efeito por completo na economia.
Ou seja, mesmo antes da maior instabilidade do mercado financeiro, o Copom já contava com um cenário em que a queda recente dos juros abriria espaço, naturalmente, para uma alta ligeiramente maior da inflação daqui para a frente. Agora, com a crise, a diretoria do BC vê riscos maiores para a estabilidade dos preços.


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