São Paulo, terça-feira, 09 de junho de 2009

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Com Ponto Frio, Pão de Açúcar vira líder

Grupo recupera 1º lugar no varejo com aquisição de rede por R$ 824 mi e aposta na expansão das vendas de eletroeletrônicos

Abilio Diniz afirma que não haverá demissões após negócio; Ponto Frio diz que objetivo é passar Casas Bahia em eletroeletrônicos


CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

O grupo Pão de Açúcar anunciou ontem a compra da Globex Utilidades, dona da rede Ponto Frio, por R$ 824,5 milhões.
Caso os acionistas minoritários da Globex também aceitem a proposta, o valor poderá chegar a R$ 1,164 bilhão, sendo que parte será paga em ações do Pão de Açúcar. Com a aquisição, a rede, controlada pelo grupo francês Casino, recupera a liderança no varejo brasileiro, ocupada desde 2007 pela também francesa Carrefour.
"Há cinco anos, o grupo decidiu que teria de dominar [a área] de não alimentos. Depois de recuar nos últimos anos, retomamos o crescimento nessa direção", afirmou Abilio Diniz, presidente do conselho do grupo Pão de Açúcar, durante o anúncio do negócio.
Com a compra, o Pão de Açúcar passa a ter receita anual de R$ 26 bilhões e mais de 1.200 lojas, sendo 455 delas do Ponto Frio. A rede se torna a segunda maior do país em eletroeletrônicos, atrás da Casas Bahia. No total, serão 79 mil funcionários.
Segundo Diniz, num primeiro momento não serão feitas demissões e as operações serão mantidas independentes, bem como as marcas Ponto Frio e Extra Eletro. A expectativa dos ganhos de sinergia é estimada em R$ 500 milhões, nos próximos 12 meses.
"Não podemos ter outro objetivo que não seja alcançar a liderança de mercado", afirma Manoel Amorim, presidente do Ponto Frio. "Apesar de os antigos controladores darem total apoio à gestão e ao conselho de administração, não tinham a experiência nem a proximidade geográfica do Pão de Açúcar." Amorim e outros dois executivos do Ponto Frio farão parte do grupo de transição montado pelo Pão de Açúcar para levar à frente a união.
O crescimento do poder aquisitivo das classes B e C e a perspectiva de expansão do crédito imobiliário foram alguns dos motivos que levaram o Pão de Açúcar a fechar a compra, negociada durante o último ano. "O mercado de eletroeletrônicos tende a se alavancar com o crescimento da venda de imóveis", diz Diniz.
Na estimativa do grupo, as vendas de eletroeletrônicos deverão dobrar em cinco anos, com crescimento anual de 15% ao ano, e atingir R$ 134 bilhões em 2013. Com a compra, o Pão de Açúcar passa a deter 10% desse mercado. Segundo a consultoria Accenture, a Casas Bahia é dona de 16% das vendas totais, de acordo com números de 2007.
Outro motivo para a compra do Ponto Frio -que foi disputada pelo Magazine Luiza, pelo grupo Silvio Santos e pelo fundo de investimentos BTG- foi o fato de que a maioria das vendas é feita em lojas especializadas. Hoje, cerca de 10% dos consumidores vão a hipermercados na hora de comprar eletrodomésticos e eletroeletrônicos, enquanto mais de 85% vão a redes que só vendem esses produtos. Ao adquirir a rede e seus pontos de venda, o Pão de Açúcar pode avançar na maior fatia desse mercado.
Para Eugenio Foganholo, diretor da consultoria Mixxer, a estratégia foi acertada. "O grupo Pão de Açúcar, com hiper e supermercados, lojas de conveniência e atacarejo, é a rede mais diversificada em alimentos", diz Foganholo. "Ao voltar à área de eletromóveis, que tem margens operacionais mais baixas, o grupo ganha a oportunidade de crescer no crédito e de diversificar sua receita."
Para Júlia Duarte, analista da Brascan Corretora, o impacto da aquisição será negativo no curto prazo. "A rentabilidade da Globex estava muito ruim nos últimos trimestres. Apesar de os ganhos estimados em sinergia serem grandes, é preciso ver se a companhia irá atingi-los." A analista também considerou a aquisição cara, na relação entre receita operacional medida antes de lucro, impostos, depreciação e amortização e o valor da empresa.


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