São Paulo, terça-feira, 09 de julho de 2002

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FRAUDES DO CAPITAL

Presidente nega irregularidades em empresa da qual foi sócio

Bush fala em credibilidade, mas vira alvo de suspeita

Associated Press
Bush durante entrevista ontem, na Casa Branca, em que se defendeu de supostas irregularidades


MARCIO AITH
DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, George W. Bush, transformou-se ontem em presa de uma iniciativa criada por ele mesmo para desassociar-se do escândalo corporativo que ameaça a credibilidade do mercado de ações norte-americano.
Bush fará hoje em Wall Street um discurso anunciando medidas para restaurar a confiança dos investidores. Ontem, realizou uma entrevista coletiva para antecipar seu discurso e criticar a lentidão do Congresso ao tratar de assuntos comerciais.
O evento tomou uma direção desfavorável à Casa Branca quando jornalistas insistiram em abordar irregularidades praticadas pelo próprio presidente como empresário e pela companhia da qual foi sócio e executivo, a Harken Energy, do Texas.
A polêmica resulta de dois fatos ocorridos em 1989 e que, embora nunca tenham sido contestados pela Casa Branca, pareciam relegadas ao esquecimento.
A Harken foi obrigada a refazer seus balanços naquele ano quando a SEC (órgão responsável pela fiscalização dos negócios com ações nos EUA) constatou a existência de uma operação supostamente fictícia, para ocultar prejuízos. Além disso, Bush vendeu US$ 848 mil de suas próprias ações na Harken pouco antes da divulgação pública da intervenção da SEC, tendo demorado 34 semanas para informar ao governo que as havia vendido.
Nos EUA, executivos são obrigados a informar à SEC a venda de suas ações pessoais assim que a operação se realiza.
Jornalistas perguntaram ao presidente se há alguma diferença entre a irregularidade da Harken e as cometidas pela Enron -companhia de energia do Texas que quebrou em dezembro passado, protagonizando a maior concordata da história dos EUA.
Bush respondeu: "Existe uma grande distinção entre fraude e uma simples divergência de opinião. No mundo corporativo, nem tudo é preto no branco com relação a procedimentos contábeis. Houve [no caso da Harken" uma divergência honesta com relação a procedimentos contábeis. A SEC olhou para o problema e pediu à Harken que reapresentasse seu balanço. Não houve tentativa de esconder nada."
Quanto ao fato de ter entregue com 34 semanas de atraso o documento à SEC em que comunica a venda de suas ações pessoais, Bush deu uma resposta que, embora evasiva, foi claramente desenhada por advogados: "Eu ainda não consegui entender o porquê".
A resposta de Bush decorre da contradição entre declarações sobre o assunto dele próprio, feitas em 1994, e da Casa Branca, divulgadas na semana passada. Em 1994, quando era candidato a governador, Bush dissera ter enviado o relatório à SEC imediatamente depois de ter vendido as ações, mas que a agência do governo "extraviou" o documento. Na semana passada, o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, declarou que foram os advogados de Bush que extraviaram o documento.
Bush é o político que mais arrecadou doações eleitorais de companhias em toda a história da política norte-americana. Apesar de sua popularidade depois dos atentados de 11 de setembro, Bush é visto pela opinião pública como um "amigo" das corporações e conivente com escândalos corporativos.
Eleito com a promessa de desregulamentar a economia do país e transformar a SEC numa agência menos intervencionista, Bush colocou na direção da agência Harvey Pitt, ex-advogado da Arthur Andersen -a mesma empresa de auditoria por trás de todos os recentes escândalos corporativos no país.
Ontem, Bush disse que não aceitaria pedido de demissão de Pitt feito pelo líder da maioria democrata no Senado dos EUA, Tom Daschle. "Ele está fazendo um bom trabalho."



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