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OPINIÃO ECONÔMICA
Quanto melhor, melhor
BENJAMIN STEINBRUCH
Durante muitos anos, as
oposições brasileiras adotaram a velha tática do "quanto
pior, melhor". A ação consiste em
pregar o advento do caos na economia e incentivar distúrbios de
toda ordem. Objetivo: propagar a
idéia de que o governo está levando o país ao desastre.
Essa é uma atitude, no mínimo,
irresponsável. As oposições a adotam, naturalmente, com o intuito
de chegar ao poder por meio da
destruição da confiança da população em seus líderes. A novidade,
no Brasil, é que a tática do "quanto pior, melhor" foi ensaiada agora não apenas pela oposição, mas
também pela própria situação.
Em declarações infelizes, autoridades do governo falaram na possibilidade da "argentinização" do
país em caso de vitória de um
candidato da oposição. Os assessores do candidato do governo insinuaram a mesma coisa.
Não tenho o dom de ler pensamentos, mas imagino que por trás
dessas declarações estava a idéia
do "quanto pior, melhor". Ou seja, se houvesse uma turbulência
agora, provocada pela simples
possibilidade de vitória de um
candidato da oposição, seria mais
fácil eleger o candidato do governo em outubro, com a promessa
de que ele traria de volta a estabilidade.
Quando faz isso, seja de oposição ou de situação, um candidato
está usando a economia para superar suas deficiências políticas.
Nada mais lamentável e mesquinho.
Homens públicos devem ter a
grandeza de usar a política para
vencer problemas econômicos.
Não têm o direito de fazer o contrário: detonar a economia em
busca de alcançar objetivos políticos.
Homens públicos devem ter a
grandeza de resistir à tentação de
mandar fabricar dossiês ou espalhar difamações contra adversários ou contra qualquer cidadão
que possa representar ameaça a
seus planos de poder. Devem resistir à tentação de utilizar, por
exemplo, escutas telefônicas para
colher informações ilícitas que
lhes sejam úteis durante a campanha. Aliás, o grampo telefônico é
uma peste que se alastrou de forma assustadora pelo país nos últimos tempos.
Homens públicos também devem ter a grandeza de avaliar objetivamente os problemas da economia. Comparar o país com o
Titanic é inoportuno e desnecessário.Todos sabem qual foi o destino do Titanic e não parece correto prever um desastre dessas dimensões para o país.
Grandeza, no caso de candidatos à Presidência da República, é
olhar para a frente, abandonar o
derrotismo, parar de propagar o
possível fracasso dos adversários e
concentrar forças para sugerir caminhos que possam levar o país
ao sucesso. Na semana passada,
por exemplo, abriu-se a possibilidade de renovação do acordo do
Brasil com o Fundo Monetário
Internacional. Conhecemos os
males que os programas do FMI
causaram às economias brasileira e de outros países emergentes.
Mas, na atual situação, ruim com
ele e pior sem ele. Os candidatos
de oposição têm a responsabilidade de discutir esse possível acordo,
até para modificar algumas cláusulas inaceitáveis, porque o aval
do Fundo pode ajudar a tranquilizar o mercado em relação ao
Brasil e permitir uma transição
mais fácil do governo ao sucessor
de Fernando Henrique Cardoso.
Em editorial na semana passada, a Folha sugeriu que os protagonistas da disputa sucessória darão uma grande contribuição se
pararem de fornecer subsídios
gratuitos para o pânico dos agentes financeiros. O caminho é por
aí. Que a economia tem problemas não é novidade para ninguém, pois seus fundamentos não
são tão sólidos quanto prega o governo. Os candidatos dariam
uma contribuição positiva se concentrassem baterias na divulgação de planos e idéias para enfrentar os problemas reais da economia: o pífio crescimento da
produção e do emprego e a exagerada dependência externa que há
longos anos nos obriga a conviver
com a praga dos juros altos.
Benjamin Steinbruch, 47, empresário, é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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