São Paulo, terça-feira, 09 de julho de 2002

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OPINIÃO ECONÔMICA

Quanto melhor, melhor

BENJAMIN STEINBRUCH

Durante muitos anos, as oposições brasileiras adotaram a velha tática do "quanto pior, melhor". A ação consiste em pregar o advento do caos na economia e incentivar distúrbios de toda ordem. Objetivo: propagar a idéia de que o governo está levando o país ao desastre.
Essa é uma atitude, no mínimo, irresponsável. As oposições a adotam, naturalmente, com o intuito de chegar ao poder por meio da destruição da confiança da população em seus líderes. A novidade, no Brasil, é que a tática do "quanto pior, melhor" foi ensaiada agora não apenas pela oposição, mas também pela própria situação. Em declarações infelizes, autoridades do governo falaram na possibilidade da "argentinização" do país em caso de vitória de um candidato da oposição. Os assessores do candidato do governo insinuaram a mesma coisa.
Não tenho o dom de ler pensamentos, mas imagino que por trás dessas declarações estava a idéia do "quanto pior, melhor". Ou seja, se houvesse uma turbulência agora, provocada pela simples possibilidade de vitória de um candidato da oposição, seria mais fácil eleger o candidato do governo em outubro, com a promessa de que ele traria de volta a estabilidade.
Quando faz isso, seja de oposição ou de situação, um candidato está usando a economia para superar suas deficiências políticas. Nada mais lamentável e mesquinho.
Homens públicos devem ter a grandeza de usar a política para vencer problemas econômicos. Não têm o direito de fazer o contrário: detonar a economia em busca de alcançar objetivos políticos.
Homens públicos devem ter a grandeza de resistir à tentação de mandar fabricar dossiês ou espalhar difamações contra adversários ou contra qualquer cidadão que possa representar ameaça a seus planos de poder. Devem resistir à tentação de utilizar, por exemplo, escutas telefônicas para colher informações ilícitas que lhes sejam úteis durante a campanha. Aliás, o grampo telefônico é uma peste que se alastrou de forma assustadora pelo país nos últimos tempos.
Homens públicos também devem ter a grandeza de avaliar objetivamente os problemas da economia. Comparar o país com o Titanic é inoportuno e desnecessário.Todos sabem qual foi o destino do Titanic e não parece correto prever um desastre dessas dimensões para o país.
Grandeza, no caso de candidatos à Presidência da República, é olhar para a frente, abandonar o derrotismo, parar de propagar o possível fracasso dos adversários e concentrar forças para sugerir caminhos que possam levar o país ao sucesso. Na semana passada, por exemplo, abriu-se a possibilidade de renovação do acordo do Brasil com o Fundo Monetário Internacional. Conhecemos os males que os programas do FMI causaram às economias brasileira e de outros países emergentes. Mas, na atual situação, ruim com ele e pior sem ele. Os candidatos de oposição têm a responsabilidade de discutir esse possível acordo, até para modificar algumas cláusulas inaceitáveis, porque o aval do Fundo pode ajudar a tranquilizar o mercado em relação ao Brasil e permitir uma transição mais fácil do governo ao sucessor de Fernando Henrique Cardoso.
Em editorial na semana passada, a Folha sugeriu que os protagonistas da disputa sucessória darão uma grande contribuição se pararem de fornecer subsídios gratuitos para o pânico dos agentes financeiros. O caminho é por aí. Que a economia tem problemas não é novidade para ninguém, pois seus fundamentos não são tão sólidos quanto prega o governo. Os candidatos dariam uma contribuição positiva se concentrassem baterias na divulgação de planos e idéias para enfrentar os problemas reais da economia: o pífio crescimento da produção e do emprego e a exagerada dependência externa que há longos anos nos obriga a conviver com a praga dos juros altos.


Benjamin Steinbruch, 47, empresário, é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br


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