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TRABALHO
Estudo de secretário de Trabalho de SP mostra que desemprego cresce mais que volume de recursos para combatê-lo
Crise corrói políticas de emprego de FHC
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os gastos do governo federal
com políticas de emprego não
acompanharam a explosão do desemprego no Brasil entre 95 e
2000. Os recursos do FAT (Fundo
de Amparo ao Trabalhador) foram mal distribuídos entre as regiões do país e entre os setores
econômicos. Os investimentos
realizados pelo governo brasileiro
são escassos se comparados aos
de governos de outros países.
Essas informações fazem parte
do estudo "Desemprego e políticas de emprego no Brasil: o que
precisa avançar", divulgado ontem pelo economista e secretário
do Desenvolvimento, Trabalho e
Solidariedade da prefeitura de
São Paulo (governada pelo PT),
Marcio Pochmann. O levantamento será apresentado hoje ao
ministro do Trabalho, Paulo Jobim. O objetivo é discutir a reformulação das políticas de emprego
do governo FHC.
Enquanto o desemprego cresceu 155% entre 95 e 2000, passando de 4,5 milhões de trabalhadores para 11,5 milhões de pessoas
sem emprego, segundo informações do IBGE, o volume de recursos usado para gerar emprego e
dar assistência aos desempregados aumentou 64,7%.
Em 95, foram gastos R$ 6,47 bilhões de recursos do FAT (Fundo
de Amparo ao Trabalhador) em
programas públicos -inclui qualificação profissional, intermediação de mão-de-obra, geração de
emprego e renda, seguro-desemprego entre outros. Em 2000, foram utilizados R$ 10,68 bilhões,
de acordo com dados do Ministério do Trabalho.
O gasto médio das políticas de
emprego em relação ao total de
desempregados caiu de R$
1.410,40 para R$ 913,40 -o que
corresponde a queda de 35,2%.
"Isso significa que, embora os
recursos aplicados tenham aumentado em números absolutos,
houve uma diminuição significativa quando se considera a proporção de dinheiro usado e o número de desempregados", afirma
Pochmann. "Apesar do esforço
do governo em criar, nos anos 90,
ações como o Planfor [Programa
Nacional de Qualificação Profissional], o Proger [Programa de
Geração de Emprego e Renda] e o
Proemprego [Programa de Expansão do Emprego e Melhoria
da Qualidade de Vida do Trabalhador], elas foram ineficientes."
O estudo mostra ainda, segundo o secretário, que o governo utiliza de maneira desproporcional
os recursos usados -seja entre as
regiões do país ou entre os setores
econômicos.
As regiões Sul e Centro-Oeste,
por exemplo, registraram 19,2%
do desemprego total do país, mas
receberam 53% do total de investimentos voltados à criação de
empregos em 2000. A região Sudeste, que registrou 47,9% do desemprego, recebeu 32,5% dos recursos aplicados -ou seja, menos de um terço do total.
Em relação à atividade econômica, o estudo mostra que a indústria de transformação, que representava 13,9% do total de ocupações em 2000, recebeu 48,3%
do total de investimentos destinados à criação de vagas.
No mesmo ano, o setor de comércio e serviços, responsável
por cerca de dois terços do total
dos empregos do país (64,2%), recebeu 32% do volume de recursos
aplicados pelo governo federal.
No setor agropecuário, foram
aplicados 19,7% dos investimentos do país no combate ao desemprego -a ocupação nessa área
corresponde a 17,5%.
O estudo destaca ainda a importância de discutir políticas específicas que respeitem as diversidades do desemprego - tanto por
gênero como por escolaridade.
Apesar de o desemprego ter caído entre as pessoas com menos
anos de estudo (até sete anos), esse segmento continua recebendo
mais recursos do governo em
programas sociais.
Como é lá fora
Para o secretário, o país investe
"pouco" para resolver o problema
de falta de vagas quando se comparam os gastos feitos por outros
países. No Brasil, gastou-se 0,9%
do total do PIB (Produto Interno
Bruto) com políticas públicas de
emprego em 2000, quando a taxa
de desemprego medida pelo IBGE
atingiu 15% da população economicamente ativa. Na Espanha, cuja taxa de desemprego foi de
14,1% no mesmo ano, foram aplicados 2,6% do PIB com a mesma
finalidade.
Pochmann reconhece, entretanto, que os recursos gastos pelo
governo federal para combater o
desemprego aumentaram no período em estudo -passaram a
corresponder 0,9% do PIB, quando representavam 0,62% de todo
o Produto Interno Bruto em 95.
Procurado pela Folha para comentar o estudo e a utilização dos
recursos usados em políticas públicas de emprego entre os anos
95 e 2000, o Ministério do Trabalho não telefonou para a reportagem até o fechamento desta edição.
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