São Paulo, terça-feira, 09 de julho de 2002

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PRODUÇÃO

Fuga de investimentos de risco e disputa eleitoral foram os motivos para a queda de 5,1% em maio, diz o IBGE

Indústria tem pior desempenho em 7 anos

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Impulsionada pela tendência mundial de fuga dos investimentos de risco e pela disputa eleitoral, a turbulência do mercado financeiro já atingiu o lado real da economia brasileira. A produção industrial de maio, livre de influências sazonais (típicas de cada período), caiu 5,1% em relação ao mês de abril.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), é o pior resultado desde maio de 1995. Na época, houve queda de 10,9%, influenciada pela greve dos petroleiros que durou 32 dias.
Sem contar essa retração atípica, a maior queda desde o início do Plano Real ocorrera em novembro de 1997, em meio à crise asiática, quando houve recuo de 3,8% na produção do setor.
"Já havia um cenário de juro alto, taxas de desemprego elevadas, renda em queda contínua. A isso tudo, veio se somar a instabilidade do mercado financeiro", disse o chefe do Departamento de Indústria do IBGE, Sílvio Sales.
"A taxa de juros [de mercado, que serve de referência para empréstimos" já subiu em maio e mais ainda em junho. Isso é reflexo da incerteza eleitoral e da crise externa de aversão ao risco. Com isso, a confiança [do empresário em investir e do consumidor em comprar" caiu ainda mais", disse Marcelo Cypriano, economista do BankBoston.
Odair Abate, economista-chefe do Lloyds TSB, afirmou que o resultado de maio "foi surpreendentemente baixo" -o mercado esperava queda de 3%- e reflete a percepção de que não há espaço para a redução dos juros.
Hamilton Kay, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), diz que já esperava um recuo dessa magnitude, pois a base de comparação é elevada -em abril houve crescimento de 4,5% por ter tido mais dias úteis e um incremento na produção devido à Copa do Mundo.
Marcela Prada, da Tendências Consultoria, concorda com a avaliação e acrescenta que a produção de abril cresceu também por causa do Dias das Mães.
Os sucessivos recordes de produção da Petrobras têm evitado um desempenho pior da indústria neste ano. Em maio, o segmento extrativo mineral, cujo maior peso é o da exploração de óleo, cresceu 2,8%, impedindo a queda maior da indústria.
De janeiro a maio, o setor de extração mineral cresceu 11,5% em comparação com os cinco primeiros meses de 2001. No mesmo período, a indústria de transformação caiu 1,7%.

Vendas caem
As vendas reais da indústria recuaram 3,19% em maio em comparação com abril. As horas trabalhadas na produção também apresentaram queda de 1,94% no mês, atingindo o nível mais baixo deste ano. Os dois dados foram divulgados ontem pela CNI (Confederação Nacional da Indústria).
O desaquecimento atingiu também o mercado de trabalho. O emprego na indústria não deixou de crescer, mas diminuiu o ritmo. O nível de emprego aumentou 0,48% em maio (0,73% em abril).


Colaborou a Sucursal de Brasília


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