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Justiça põe em xeque privatização de teles
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
A guerra judicial iniciada pela Embratel para impedir que a Telefônica ofereça interurbanos em âmbito nacional colocou em xeque o modelo de privatização da
telefonia adotado nas duas gestões do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Na sexta-feira, pela segunda vez, a juíza da 15ª Vara Federal de São
Paulo, Luciana Aguiar Alves, impediu a Telefônica de completar
ligações interurbanas de São Paulo para o resto do país. A juíza
considerou inconstitucional a autorização da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).
Segundo ela, serviços públicos
não podem ser delegados a empresas por meio de simples autorização, mas apenas por concessão ou permissão, precedidas de
licitação pública. A autorização,
no entendimento da juíza, é um
ato precário, que não se aplica aos
serviços públicos.
A decisão atinge o modelo de
privatização, baseado na competição e na universalização dos serviços. Para estimular o aumento
da oferta de telefones, a Anatel
prometeu que as teles que antecipassem o cumprimento das metas de expansão de linhas fixadas
para dezembro de 2003 seriam
compensadas com autorização
para disputar mercados fora de
suas áreas de concessão.
A juíza diz que o modelo de privatização não pode sobrepor-se à
Constituição.
A Telefônica obteve a certificação de antecipação de metas e, em
abril, a Anatel fez um aditivo ao
seu contrato de concessão para
que ela oferecesse o serviço de interurbanos de São Paulo para o
restante do país. Também foi concedida autorização para completar chamadas internacionais.
A Embratel entrou com uma
ação judicial contra a Anatel, contestando o aditivo contratual da
Telefônica. A juíza da 15ª Vara Federal suspendeu o aditivo, alegando que a Anatel havia ampliado o
objeto de concessão da empresa,
sem fazer concorrência pública.
Enquanto a Embratel e a Anatel
discutem na Justiça, a Telefônica
tem feito chegar ao governo sua
insatisfação com a situação criada. O presidente da Telefônica para a América Latina, Antônio Viana, esteve em Brasília na semana
passada e se queixou do prejuízo
diário de R$ 2 milhões que a empresa estaria sofrendo por não
poder oferecer o o serviço de
DDD, depois de ter investido R$ 5
bilhões na antecipação de metas.
A empresa alega que teria deixado de faturar R$ 100 milhões desde que a Embratel obteve a primeira liminar judicial.
Para o consultor de telecomunicações Virgílio Freire, a batalha
judicial iniciada pela Embratel esconde uma guerra econômica feroz entre as empresas pelo mercado de ligações de longa distância.
""A Embratel quer postergar a
entrada das operadoras locais
nesse mercado", afirma Freire.
As concessionárias do serviço
local (Telefônica, Telemar e Brasil
Telecom) concentram mais de
70% dos interurbanos dentro de
suas áreas de concessão, onde já
são autorizadas a operar.
O que está em jogo, agora, são as
ligações entre diferentes áreas de
concessão, que formam um mercado hoje dominado pela Embratel. Na semana passada, assim que obteve a autorização da Anatel (posteriormente suspensa pela
juíza), a Telefônica anunciou um desconto de 50% nas ligações de
São Paulo para outros Estados, sinalizando a disputa de mercado
que está por vir.
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