São Paulo, terça-feira, 09 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lula rejeita e Palocci aceita discutir FMI

DA REPORTAGEM LOCAL

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PT admite conversar com o governo federal caso seja convidado a debater um novo acordo que garanta a estabilidade macroeconômica na transição para a nova administração.
Isso não significa necessariamente, no entanto, que o PT se comprometerá com princípios ou metas a serem acertadas em um acordo de transição com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Pelo menos essa é a versão do coordenador do programa de governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Antônio Palocci Filho.
Mas Lula é bastante refratário à idéia. Questionado na chegada a Goiânia, ontem, se iria assinar um acordo de transição com o FMI, o candidato respondeu: "Não existe pré-acordo. Até o dia 31 de dezembro de 2002 o presidente Fernando Henrique governa este país, portanto, ele tem de arcar com o ônus e com o bônus".
"Não existe essa da oposição, que não é nem convidada a assumir compromisso, assinar acordo que tem que ser assinado pelo governo. Acho que só pode ser informação da imprensa [sobre assinar o pré-acordo" porque não acredito que isso possa ser sério."
Lula ironizou a proposta. "Não acredito que alguém queira que a oposição participe de assinatura de acordo, porque seria necessário também chamar a oposição para participar da verbas de campanha do candidato oficial do governo. Coisas para as quais não vamos ser chamados."

Ressalvas de Palocci
Segundo Palocci , o partido está "à disposição" de um chamado do governo federal para debater "o que estiver no melhor interesse do país". Essa posição já havia sido explicitada pelo próprio Lula no mês passado, ao ler um pronunciamento preparado especialmente pelo partido para tranquilizar investidores.
"O PT não tem intenção de negociar diretamente com o FMI, até porque isso é função exclusiva do atual governo", declarou Palocci. O partido, no entanto, afirma que o debate tem de ser feito sem a imposição de pré-condições por parte do governo.
Segundo o coordenador, não houve, até o momento, contato direto do Fundo com autoridades do partido.
Ontem, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, admitiu, durante viagem à Espanha, a elaboração de um acordo de transição com o Fundo.
O FMI quer o compromisso de que o próximo governo não fará mudanças que comprometam a estabilidade econômica e o ajuste fiscal. Entre elas, a meta de superávit primário (atualmente em 3,75% do PIB) e a manutenção do sistema de metas de inflação.
O único item com o qual os petistas não concordam é a independência do Banco Central, por temerem que isso poderia "engessar" a próxima administração.

Entrevista
Em entrevista ao jornal espanhol "La Vanguardia", publicada ontem, Lula declarou que os contratos firmados nos últimos anos entre o governo brasileiro e o FMI foram "ruins e mal-feitos".
"O FMI não tem dado uma boa orientação aos países. Veja os casos da Argentina e da Rússia. Eles mesmos reconheceram que se equivocaram. Então, por que o Brasil deve aceitar condições equivocadas?", afirmou o candidato do PT.
Lula diz que, se vencer as eleições, pretende adotar um tom mais duro nas negociações. "Nosso governo será soberano e não aceitará imposições nem receitas prontas. Vamos discutir e negociar. Se tivermos que recorrer novamente ao FMI, o que espero que não aconteça, será em outras condições."
Lula voltou a afirmar que não existe o risco de o PT romper contratos já firmados se chegar ao poder, mas deixou em aberto a possibilidade de rever a situação de algumas empresas que venceram licitações para prestar serviços públicos.



Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Mercado financeiro: Feriado em SP esvazia Bolsa, câmbio e juros
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.