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Lula rejeita e Palocci aceita discutir FMI
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O PT admite conversar com o
governo federal caso seja convidado a debater um novo acordo
que garanta a estabilidade macroeconômica na transição para a
nova administração.
Isso não significa necessariamente, no entanto, que o PT se
comprometerá com princípios ou
metas a serem acertadas em um
acordo de transição com o FMI
(Fundo Monetário Internacional). Pelo menos essa é a versão
do coordenador do programa de
governo de Luiz Inácio Lula da
Silva, Antônio Palocci Filho.
Mas Lula é bastante refratário à
idéia. Questionado na chegada a
Goiânia, ontem, se iria assinar um
acordo de transição com o FMI, o
candidato respondeu: "Não existe
pré-acordo. Até o dia 31 de dezembro de 2002 o presidente Fernando Henrique governa este
país, portanto, ele tem de arcar
com o ônus e com o bônus".
"Não existe essa da oposição,
que não é nem convidada a assumir compromisso, assinar acordo
que tem que ser assinado pelo governo. Acho que só pode ser informação da imprensa [sobre assinar o pré-acordo" porque não
acredito que isso possa ser sério."
Lula ironizou a proposta. "Não
acredito que alguém queira que a
oposição participe de assinatura
de acordo, porque seria necessário também chamar a oposição
para participar da verbas de campanha do candidato oficial do governo. Coisas para as quais não
vamos ser chamados."
Ressalvas de Palocci
Segundo Palocci , o partido está
"à disposição" de um chamado
do governo federal para debater
"o que estiver no melhor interesse
do país". Essa posição já havia sido explicitada pelo próprio Lula
no mês passado, ao ler um pronunciamento preparado especialmente pelo partido para tranquilizar investidores.
"O PT não tem intenção de negociar diretamente com o FMI,
até porque isso é função exclusiva
do atual governo", declarou Palocci. O partido, no entanto, afirma que o debate tem de ser feito
sem a imposição de pré-condições por parte do governo.
Segundo o coordenador, não
houve, até o momento, contato
direto do Fundo com autoridades
do partido.
Ontem, o ministro da Fazenda,
Pedro Malan, admitiu, durante
viagem à Espanha, a elaboração
de um acordo de transição com o
Fundo.
O FMI quer o compromisso de
que o próximo governo não fará
mudanças que comprometam a
estabilidade econômica e o ajuste
fiscal. Entre elas, a meta de superávit primário (atualmente em
3,75% do PIB) e a manutenção do
sistema de metas de inflação.
O único item com o qual os petistas não concordam é a independência do Banco Central, por
temerem que isso poderia "engessar" a próxima administração.
Entrevista
Em entrevista ao jornal espanhol "La Vanguardia", publicada
ontem, Lula declarou que os contratos firmados nos últimos anos
entre o governo brasileiro e o FMI
foram "ruins e mal-feitos".
"O FMI não tem dado uma boa
orientação aos países. Veja os casos da Argentina e da Rússia. Eles
mesmos reconheceram que se
equivocaram. Então, por que o
Brasil deve aceitar condições
equivocadas?", afirmou o candidato do PT.
Lula diz que, se vencer as eleições, pretende adotar um tom
mais duro nas negociações. "Nosso governo será soberano e não
aceitará imposições nem receitas
prontas. Vamos discutir e negociar. Se tivermos que recorrer novamente ao FMI, o que espero
que não aconteça, será em outras
condições."
Lula voltou a afirmar que não
existe o risco de o PT romper contratos já firmados se chegar ao poder, mas deixou em aberto a possibilidade de rever a situação de
algumas empresas que venceram
licitações para prestar serviços
públicos.
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