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LUÍS NASSIF
A diplomacia brasileira
O neonacionalismo
brasileiro tem forte componente diplomático e geopolítico. Na verdade, o pensamento
estratégico no Brasil vem evoluindo desde o Império. Na época, a consolidação do país estava centrada no Prata. Até a Revolução de 30, na América do
Sul.
Até recentemente, nas Américas.
A grande transformação começa a ocorrer agora, com os
primeiros ensaios do governo
Fernando Henrique Cardoso,
aprofundados no governo Lula,
de uma atuação diplomática
centrada no mundo.
Para consolidar seu papel de
interlocutor global, o grande
desafio geopolítico brasileiro é a
integração da América do Sul,
transformando a região em um
megapaís, nos moldes da União
Européia.
Será a maneira de ganhar escala, conseguir unir o Atlântico
ao Pacífico e se inserir no comércio internacional com vantagens comparativas consistentes. De certo modo, repetindo a
saga americana do século 19.
As negociações comerciais em
torno do Mercosul estarão sempre sujeitas a fricções. A integração física, não. Segundo estudos desses especialistas, a
América do Sul tem sete espaços
de tráfego consistente, ambientes capazes de gerar negócios e
dinamismo: 1) o litoral Atlântico; 2) o planalto brasileiro; 3) a
bacia do Prata; 4) a bacia amazônica; 5) o litoral do Pacífico;
6) a cordilheira dos Andes e 7) o
Orinoco-Caribe. Mas a Amazônia só se transformará em um
centro em que se articulam
ações de produção se se integrar
com os vizinhos do continente.
O desafio estratégico consiste
na montagem da estrutura para unir esses espaços por redes
de energia elétrica, logística de
acesso e comunicação. Dois terços da América do Sul não são
dotados das três coisas. Unido,
o continente sul-americano seria auto-suficiente em quase todas as matérias-primas essenciais.
O movimento de integração
começou imperceptivelmente
há alguns anos, quando ministros do Planejamento do Mercosul começaram a se reunir
para pensar na integração física do continente. Depois, a
idéia evoluiu quando se percebeu que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) poderia se associar ao CAF (Cooperação Andina de Fomento), ganhando
escala e capacidade de captação.
Até o final do ano está na
agenda a reestruturação da Alide (Associação Latino-Americana das Instituições de Fomento Econômico) para que
trabalhem em conjunto, em co-financiamento das obras de infra-estrutura necessárias. Juntará BNDES, BNB, Basa e
BDMG, do Brasil, bancos de desenvolvimento da Argentina e
do Chile, entre outros.
O CCR (Convênio de Crédito
Recíproco) é visto como a grande ferramenta de integração comercial -uma espécie de câmara de compensação, permitindo aos países da região negociar com suas próprias moedas.
Quando o dólar deixar de arbitrar as negociações comerciais,
haverá enorme avanço no comércio da América do Sul.
A grande resistência aos
CCRs tem sido, historicamente,
do Banco Central. A desculpa é
o risco de crédito -que jamais
ocorreu nas relações entre os
países da região.
Um dos grandes desafios será
sustentar o conceito de grande
empresa nacional ou latino-americana em um contexto de
globalização. Mas isso é tema
para uma próxima coluna.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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