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LUCIANO COUTINHO
A agenda do desenvolvimento
O setor privado pode ampliar seus investimentos se puder contar com crédito e financiamento favoráveis
O INVESTIMENTO é a mola propulsora do desenvolvimento:
cria capacidade de oferta e
dissemina progresso técnico. Sem
investimentos suficientes, a oferta
de bens e serviços (inclusive infra-estruturais) não cresce proporcionalmente à expansão da demanda
(movida a crédito) ensejando estrangulamentos que redundam em pressões inflacionárias. Não há, por isso,
política monetária capaz de assegurar a conciliação entre crescimento
firme e estabilidade de preços na ausência de investimentos em escala
adequada.
Neste momento, a economia brasileira se defronta com uma perspectiva relativamente benigna quanto
às contas externas e às expectativas
de inflação, permitindo mais reduções da taxa de juros. O ciclo mundial
de comércio com preços favoráveis
para as commodities que exportamos aumentou extraordinariamente o superávit comercial nos últimos
anos, revertendo a terrível situação
de vulnerabilidade cambial herdada
do Plano Real. Hoje, a taxa de câmbio
não se maxideprecia ante situações
de estresse externo. Sofre impactos,
mas são bem mais moderados e isso
viabiliza uma trajetória menos acidentada para a inflação futura. Se o
Banco Central, doravante, evitar que
a sobreapreciação mais prolongada
da taxa de câmbio desfaça o robustecimento da posição externa brasileira e inviabilize investimentos em atividades de exportação, será possível
pensar em um projeto de desenvolvimento com estabilidade. Mas, para
isso, é imprescindível aumentar
substancialmente os investimentos.
A taxa agregada de investimento
(razão entre a formação bruta de capital fixo e o PIB) teve desempenho
medíocre nos últimos 15 anos, situando-se sempre abaixo de 20%. Os
cálculos indicam que a proporção
dos investimentos em relação ao PIB
precisará ascender para perto de
24% (mais R$ 60 bilhões por ano em
inversões adicionais) para que a economia possa crescer a 5% ao ano sem
gerar pressões inflacionárias. Em
que condições será possível vencer
esse desafio?
Para que a formação de capital ascenda firmemente será necessário
um aumento correspondente e conjugado das taxas de poupança (e investimento) dos setores público e
privado. O setor privado pode ampliar substancialmente os seus investimentos se, além do seu fluxo de
lucros, puder contar com crédito e financiamento em condições mais favoráveis. Hoje apenas os grandes
grupos privados conseguem mobilizar capital a custos compatíveis. A
queda continuada da taxa Selic pode
abrir uma promissora avenida para
expansão do crédito doméstico e do
mercado de capitais. Do lado do setor público o desafio é maior. A regeneração da sua capacidade de poupança e investimento requer reformas que contenham a expansão descontrolada dos gastos correntes e
requer uma melhoria substancial da
gestão, da regulação e do planejamento do Estado. O fortalecimento
fiscal do setor público expeditará a
curva de queda da taxa de juros e liberará mais poupança para financiar investimentos. Essa é, hoje, a
agenda crítica para o desenvolvimento: conjugar reformas que aumentem a capacidade nacional de
poupança e de investimento.
LUCIANO COUTINHO, 59, é consultor e professor convidado do Instituto de Economia da Universidade Estadual de
Campinas (IE/Unicamp). Foi secretário-geral do Ministério
da Ciência e Tecnologia (1985-88).
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