São Paulo, domingo, 09 de julho de 2006

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LUCIANO COUTINHO

A agenda do desenvolvimento

O setor privado pode ampliar seus investimentos se puder contar com crédito e financiamento favoráveis

O INVESTIMENTO é a mola propulsora do desenvolvimento: cria capacidade de oferta e dissemina progresso técnico. Sem investimentos suficientes, a oferta de bens e serviços (inclusive infra-estruturais) não cresce proporcionalmente à expansão da demanda (movida a crédito) ensejando estrangulamentos que redundam em pressões inflacionárias. Não há, por isso, política monetária capaz de assegurar a conciliação entre crescimento firme e estabilidade de preços na ausência de investimentos em escala adequada.
Neste momento, a economia brasileira se defronta com uma perspectiva relativamente benigna quanto às contas externas e às expectativas de inflação, permitindo mais reduções da taxa de juros. O ciclo mundial de comércio com preços favoráveis para as commodities que exportamos aumentou extraordinariamente o superávit comercial nos últimos anos, revertendo a terrível situação de vulnerabilidade cambial herdada do Plano Real. Hoje, a taxa de câmbio não se maxideprecia ante situações de estresse externo. Sofre impactos, mas são bem mais moderados e isso viabiliza uma trajetória menos acidentada para a inflação futura. Se o Banco Central, doravante, evitar que a sobreapreciação mais prolongada da taxa de câmbio desfaça o robustecimento da posição externa brasileira e inviabilize investimentos em atividades de exportação, será possível pensar em um projeto de desenvolvimento com estabilidade. Mas, para isso, é imprescindível aumentar substancialmente os investimentos.
A taxa agregada de investimento (razão entre a formação bruta de capital fixo e o PIB) teve desempenho medíocre nos últimos 15 anos, situando-se sempre abaixo de 20%. Os cálculos indicam que a proporção dos investimentos em relação ao PIB precisará ascender para perto de 24% (mais R$ 60 bilhões por ano em inversões adicionais) para que a economia possa crescer a 5% ao ano sem gerar pressões inflacionárias. Em que condições será possível vencer esse desafio?
Para que a formação de capital ascenda firmemente será necessário um aumento correspondente e conjugado das taxas de poupança (e investimento) dos setores público e privado. O setor privado pode ampliar substancialmente os seus investimentos se, além do seu fluxo de lucros, puder contar com crédito e financiamento em condições mais favoráveis. Hoje apenas os grandes grupos privados conseguem mobilizar capital a custos compatíveis. A queda continuada da taxa Selic pode abrir uma promissora avenida para expansão do crédito doméstico e do mercado de capitais. Do lado do setor público o desafio é maior. A regeneração da sua capacidade de poupança e investimento requer reformas que contenham a expansão descontrolada dos gastos correntes e requer uma melhoria substancial da gestão, da regulação e do planejamento do Estado. O fortalecimento fiscal do setor público expeditará a curva de queda da taxa de juros e liberará mais poupança para financiar investimentos. Essa é, hoje, a agenda crítica para o desenvolvimento: conjugar reformas que aumentem a capacidade nacional de poupança e de investimento.


LUCIANO COUTINHO, 59, é consultor e professor convidado do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/Unicamp). Foi secretário-geral do Ministério da Ciência e Tecnologia (1985-88).

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