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Repasses a fundo perdido crescem 274%
Gasto autorizado para 2007 é de R$ 7,1 bilhões; recursos favorecem diferentes atividades e não voltam para o caixa do governo
Agricultura é o segmento mais beneficiado pelas liberações; gastos com a garantia de preços mínimos aumentaram 4.263%
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As despesas federais com repasses de recursos a fundo perdido cresceram 274% desde o
início do governo Lula e beneficiaram atividades que vão da
agricultura e exportações ao
plantio de cacau e uso de óleo
diesel na pesca industrial. O levantamento foi feito pela organização não-governamental
Contas Abertas com base dados
do Siafi, sistema eletrônico de
controle de gastos da União.
Em 2002, o Tesouro pagou
R$ 1,9 bilhão nessas operações.
Para 2007, os gastos autorizados são de R$ 7,1 bilhões. Esses
recursos não voltam para o caixa, são repasses "de graça". O
objetivo é financiar programas
que o governo considera importantes ou igualar as condições de competição de produtores nacionais e estrangeiros.
O setor agrícola foi o que
mais se beneficiou desse aumento ao longo dos anos. Dos
R$ 7,1 bilhões em subsídios, reduções nas taxas de juros e repasses a fundo perdido deste
ano, os agricultores ficarão com
R$ 4,371 bilhões, 62% do total.
Além de subsidiar o plantio, o
investimento, o seguro contra
catástrofes e outros programas,
o governo gasta com o perdão
de parte da dívida dos grandes
agricultores, negociado em
1998 e 1999. Neste ano, devem
ser gastos R$ 228 milhões para
cobrir a redução nos juros.
É quase dez vezes mais do
que o governo autorizou o Ministério da Ciência e Tecnologia a aplicar no subsídio à inovação tecnológica no país.
O programa que mais cresceu desde 2002 foi o de garantias de preços de produtos agrícolas -4.263,4%. Neste ano, o
Ministério da Agricultura já
tem autorizados gastos de R$
2,493 bilhões. Em 2002, foram
R$ 58,475 milhões.
Por meio desse programa, o
governo garante um preço mínimo para a produção rural. Isso quer dizer que, se o preço do
produto no mercado estiver
abaixo daquele fixado pelo governo, o agricultor recebe a diferença do Tesouro Nacional.
Crise agrícola
O Ministério da Fazenda, por
meio da assessoria de imprensa, justificou o aumento como
resultado da crise que atingiu o
agronegócio a partir de 2006,
com a queda nos preços internacionais, e da decisão do governo de apoiar a produção de
grãos. "Estas ações possibilitaram que o país alcançasse, neste exercício, a produção de 135
milhões de toneladas de grãos",
explica a nota do governo.
A equalização de taxas de juros é uma operação em que o
governo subsidia os juros tomados em financiamentos. É o
caso, por exemplo, da produção
de cacau na Bahia, atingida pela
doença da vassoura-de-bruxa,
que chega a matar a árvore do
cacau. Os produtores tiveram
um programa criado em 1995
para recuperar a lavoura.
Em 2003, porém, o governo
autorizou que os empréstimos
em atraso fossem considerados
como pagos em dia. Sobre esse
valor aplicou a taxa de juros de
mercado e determinou que o
Tesouro Nacional pagasse a diferença nos juros. Desde então
já foram gastos R$ 4,011 milhões e este ano a previsão é de
repasses de R$ 7,1 milhões.
O ex-presidente do Banco
Central, Gustavo Loyola, considera as equalizações um instrumento importante do governo.
Ele cita, por exemplo, o caso
das exportações e da agricultura familiar. O Proex, que cobre
a diferença entre as taxas de juros obtidas pelos exportadores
brasileiros e aquelas cobradas
nessas mesmas operações em
países desenvolvidos, viabilizou as vendas de jatos da Embraer no mercado mundial.
O Pronaf, que subsidia pequenos agricultores e assentados da reforma agrária com bônus e redução nos juros, elevou
os gastos em mais de 200% desde 2002. Em 2007, há autorização para gastar R$ 1,3 bilhão, o
valor mais elevado do período.
"Num cenário de queda de
juros, esse gasto fiscal deveria
ser ajustado e reduzido. Além
disso, o subsídio e a equalização
não são os instrumentos ideais
para aumento de competitividade. É preferível uma carga
tributária menor que beneficie
toda a economia", diz Loyola.
Perguntado sobre a eficácia
das equalizações no estímulo a
setores econômicos, o Ministério da Fazenda não opinou.
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