São Paulo, quarta-feira, 09 de julho de 2008

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análise

Prazo para corte de gás poluente é muito longo

AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem compromissos de médio prazo, o anúncio do G8 de reduzir 50% das emissões de gases de efeito estufa até 2050 é considerado por especialistas e ONGs insuficiente ou pouco provável de ser concretizado.
O embaixador extraordinário do Brasil para mudança do clima, Sérgio Serra, considera a meta "razoável" e diz que ela vai na direção das recomendações do IPCC (painel do clima da ONU).
No entanto, ele ressalta que, para o objetivo não virar "letra morta", é preciso ter compromissos concretos de médio prazo -até 2020. "É um compromisso meio vazio se não for reforçado por metas de médio prazo. Mas ainda há chance que isso ocorra nas negociações na Convenção do Clima."
De acordo com ele, a União Européia avançou mais e já se comprometeu a reduzir pelo menos 20% até 2020. "Mas é uma área em que há muita hesitação."
O primeiro-ministro japonês, Yasuo Fukuda, chegou a anunciar antes da reunião do G8 a meta do país de reduzir entre 60% e 80% as emissões totais do país. Mas também não estabeleceu compromissos de médio prazo.
Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe-UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), considera o prazo "muito longo" e diz que é necessário fazer uma "escadinha" de como vai se chegar até lá.
"É uma meta para 42 anos. Vai haver "n" governantes diferentes." Em sua opinião, apesar de ser "percentualmente significativa" a meta de 50% de redução nas emissões, o prazo muitíssimo distante "a torna inoperante".
Para Susana Kahn Ribeiro, secretária nacional de Mudança Climática, "seria desejável metas mais ambiciosas". No entanto, ela pondera que as tecnologias que poderiam fazer uma grande diferença não estarão disponíveis no curto e no médio prazo -como o uso de hidrogênio em veículos, por exemplo, e ações de captura e seqüestro de carbono.

Ações efetivas
O Greenpeace considera que a decisão anunciada pelos países do G8 "não passa de estratégia para postergar as ações efetivas que deveriam ser tomadas imediatamente". Segundo Luís Piva, coordenador de campanha de Clima do Greenpeace Brasil, o anúncio cria uma falsa expectativa de que algo está sendo feito para evitar o aquecimento global.
A ONG defende que os países industrializados se comprometam a cortar 30% das emissões até 2020 e a reduzir de 80% a 90% até 2050.
Piva não considera um avanço o fato de os Estados Unidos terem assumido uma meta, depois de não ratificar o Protocolo de Kyoto. "O país é o maior poluidor histórico. Se a gente colocar na balança a responsabilidade histórica e atual, é uma meta tímida."
De acordo com a organização WWF, os países do G8 são responsáveis "por 62% das emissões de dióxido de carbono acumulado na atmosfera da Terra", o que faz desses países o principal culpado das alterações climáticas. Por isso, a ONG considera "patética" a recusa do G8 em se tornar o maior condutor da solução para o problema do aquecimento global.


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