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Suíça rejeita abrir dados bancários aos EUA
Governo promete até confiscar informações sobre 52 mil clientes para que elas não sejam entregues à Justiça americana
Sob o risco de entrar em lista negra de paraísos fiscais, a Suíça concordou em março em respeitar normas de combate à evasão fiscal
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
O governo suíço decidiu jogar todo o seu peso na disputa
entre o UBS e a Justiça dos Estados Unidos ao anunciar ontem que proibirá a revelação de
dados sigilosos de clientes do
banco, conforme exigem as autoridades norte-americanas.
É mais uma escalada na batalha legal travada há meses nos
EUA pelo maior banco suíço,
acusado de facilitar a sonegação fiscal para milhares de contribuintes americanos. Em fevereiro, o UBS pagou multa de
US$ 780 milhões e revelou dados de 255 clientes para fechar
um processo penal e não perder
sua licença nos EUA.
Entretanto, um processo civil que intima o banco a fornecer informações de 52 mil contribuintes do fisco americano
continua aberto e culminará
em audiências judiciais marcadas para a próxima semana. Na
semana passada, o Departamento de Justiça americano
reiterou que deseja que sejam
revelados os dados sobre esses
clientes do UBS.
Com a advertência feita ontem, o governo suíço se antecipa às audiências, nas quais a intimação deverá ser renovada. O
banco até agora se negou a fornecer os dados, alegando que
está proibido pela lei suíça de
cumprir a intimação.
Em um comunicado divulgado em seu site na internet, o
Ministério da Justiça suíço
afirma que poderá até confiscar
os dados exigidos pelos Estados
Unidos caso a exigência seja
mantida. Na Suíça, onde a sonegação não é um delito penal,
a legislação proíbe que os bancos revelem dados de clientes,
salvo em casos de atividade criminal comprovada. Executivos
de bancos que quebrarem o sigilo de um cliente podem ser
multados ou até presos.
A interferência do governo
suíço aumenta a tensão criada
pela batalha legal envolvendo o
UBS, que ganha cada vez mais
contornos de uma guerra diplomática entre Berna e Washington. Além disso, aumenta a
pressão sobre o banco suíço,
uma das instituições mais atingidas pela crise financeira.
Diante da insistência dos
americanos em obter os dados
sigilosos, as autoridades suíças
decidiram intervir, embora
ainda torçam para que a disputa termine com um acordo. Em
visita aos EUA, a ministra da
Economia suíça, Doris Leuthard, reconheceu que o UBS
cometeu erros e que terá que
"pagar um preço".
Especialistas estimam que
um acordo não custará menos
de US$ 4 bilhões aos cofres do
UBS. As autoridades americanas, contudo, não parecem dispostas a recuar, argumentando
que o banco admitiu ter realizado operações que violaram as
leis fiscais do país.
Pressão
Além de criar séria ameaça
para a sobrevivência do UBS
nos Estados Unidos, a disputa
legal deflagrou uma onda de
pressão internacional sem precedentes contra o polêmico sistema bancário da Suíça, onde,
acredita-se, está um terço da
fortuna "offshore" do mundo.
Sob intenso cerco e o risco de
ser incluída numa lista negra de
paraísos fiscais feita pela
OCDE (órgão do qual ela faz
parte), a Suíça concordou em
março em relaxar suas regras e
respeitar as normas internacionais de combate à evasão fiscal.
Mas o governo suíço ressalvou que o sigilo bancário não
será extinto e que a revelação
de dados só ocorrerá em casos
pontuais e no contexto de acordos bilaterais.
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