São Paulo, quinta-feira, 09 de agosto de 2007

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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

A turma da bufunfa cansou

Com o crescimento, o risco é que a turma da bufunfa consiga pressionar o BC a frear a queda do juro

CHEGUEI AO Brasil na semana passada e li nos jornais que a elite se declara "cansada". Fiz então uma rápida pesquisa sociológica e constatei que, de fato, a turma da bufunfa está totalmente exausta. Há motivos para essa exaustão?
Talvez. Os bufunfeiros já tiveram momentos mais brilhantes e mais exaltados. A taxa de juro, por exemplo, continua muito alta, mas não é mais a mesma. Segundo levantamento da Uptrend Consultoria Econômica, a taxa básica de juro caiu para 7,7% em termos reais. De março a julho de 2003, a taxa real básica superava 16%. Entre abril e outubro de 2005, ela ficou acima de 13%. Bons tempos... A turma da bufunfa ficou na saudade.
Com a última redução de 0,5 ponto percentual determinada pelo Copom (Comitê de Política Monetária do BC), o Brasil perdeu para a Turquia a liderança mundial em matéria de juros reais. A remuneração de alguns fundos de investimento começou a se aproximar perigosamente do rendimento da aplicação popular -a modesta caderneta de poupança. Bufunfeiro que se preza jamais aceitará tal nivelamento.
Mas, convenhamos, a turma da bufunfa precisa moderar suas queixas. Nosso juro real básico ainda é mais de três vezes superior à média mundial. Os bancos continuam registrando lucros gordos, diria mesmo, obscenos. Graças à expansão do crédito, aos elevados "spreads" e às pesadas tarifas cobradas da clientela indefesa, os estabelecimentos bancários exibem extraordinária rentabilidade. Devem (ou deveriam) estar exultantes, e não "cansados".
Com a ampliação do crédito e a queda dos juros, a economia passou a crescer mais rapidamente. No primeiro semestre, a indústria cresceu quase 5% em relação a igual período do ano passado. As projeções para o PIB estão sendo revistas para cima.
O risco agora é que a turma da bufunfa consiga pressionar o Banco Central a frear a queda do juro. Na imprensa, já surgiram economistas bufunfeiros, ligados aos bancos, proclamando que o "forte" crescimento da indústria confirma os temores do Copom de que a economia está mais aquecida do que se esperava.
Mas seria um erro reduzir o ritmo de queda dos juros ou, pior ainda, interromper o processo de diminuição da Selic. A economia apenas começa a reagir. Não há indícios de pressão exagerada da demanda sobre a capacidade instalada. Essa última tem aumentado em razão da recuperação dos investimentos. A inflação e as expectativas de inflação estão controladas. Uma posição restritiva do BC agravaria o problema da excessiva valorização cambial, ressaltado por Benjamim Steinbruch em sua coluna na Folha de anteontem.
Vamos ver como se comporta o Banco Central. Temos motivos para algum otimismo. Afinal, as mudanças recentes na diretoria do BC parecem ter arejado um pouco o ambiente por lá.
Por fim, uma nota de caráter estritamente pessoal. Eu estava, confesso, com uma certa saudade da turma da bufunfa e das suas manifestações pitorescas. Em Washington, os ruídos da bufunfa tupiniquim não repercutem.
E as suas contrapartes nos Estados Unidos são bem mais discretas. Não imagino, por exemplo, que o presidente da subsidiária da Philips nos Estados Unidos se animasse a congregar patrocinadores de eventos e publicitários para lançar um "convite à meditação", de caráter "apartidário", em protesto, digamos, contra a guerra no Iraque ou o colapso de pontes. O companheiro Bush subiria pelas paredes.
Lá as companhias estrangeiras têm que ser mais cautelosas.


PAULO NOGUEIRA BATISTA JR., 52, escreve às quintas-feiras nesta coluna. Diretor-executivo no FMI, representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago).

pnbjr@attglobal.net


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