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Área ambiental traz custo extra ao pré-sal
Tecnologia para captura e armazenamento de carbono emitido na exploração do petróleo pode encarecer projetos em até 30%
Para o ministro do Meio Ambiente, a riqueza do pré-sal deve ser aproveitada, mas sem fazer com que as emissões de CO2 "explodam"
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
"Vai ter de ter CCS", disse o
ministro Carlos Minc (Meio
Ambiente) ao lançar um ingrediente extra no debate das regras para a exploração de petróleo no pré-sal.
As três letras correspondem
à sigla em inglês para captura e
armazenamento de carbono,
uma tecnologia ainda em fase
de testes no mundo e de custo
elevado, que consiste em levar
de volta ao subsolo, longe da atmosfera, o principal vilão do
aquecimento global. Essa tecnologia será exigida no licenciamento ambiental para a exploração da camada do pré-sal,
adiantou Minc à Folha.
"Temos de aproveitar a riqueza do pré-sal, mas sem explodir as emissões [de gás carbônico]. O CCS é a saída. Não é
bicho de sete cabeças. Não vai
atrasar nem inviabilizar o pré-sal", afirma o ministro, cuja
pasta comanda a concessão de
licenças ambientais a empreendimentos, como a exploração de petróleo.
Minc lançou a mais recente
polêmica do pré-sal durante a
reunião do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva com o ministério em 13 de julho, na
Granja do Torto. Diante dos colegas, o ministro chamou a
atenção para um "pequeno detalhe": o fato de o petróleo do
pré-sal deter uma concentração de três a quatro vezes
maior de gás carbônico.
A quantidade de carbono varia de um campo de petróleo a
outro, e não há estimativas precisas. Segundo Suzana Kahn,
secretária nacional de Mudanças Climáticas, o campo de Tupi, na bacia de Santos, por
exemplo, tem entre 12% e 20%
de gás carbônico, enquanto os
demais campos, fora do pré-sal,
têm, em média, 3%. "A quantidade de CO2 num campo de
pré-sal é muito superior à de
um campo comum", disse.
Por se tratar de uma tecnologia em fase experimental, também é difícil, por ora, calcular o
custo da exigência de capturar
e armazenar o carbono nos
próprios campos de pré-sal.
Minc calcula que os gastos da
exploração dos poços aumentem entre 1% e 1,5%. "Comparado a não fazer nada, é caro,
mas não é nada que inviabilize
o pré-sal. O preço do CCS tem
de ser considerado", disse.
Relatório do governo da Noruega, um dos primeiros países
a investir no desenvolvimento
da tecnologia, estima que o
custo da captura e do armazenagem de gás carbônico pode
representar um acréscimo de
20% a 30% no custo da exploração do petróleo. "A tecnologia disponível é muito cara",
diz relatório do Ministério de
Petróleo e Energia norueguês.
Tese de mestrado apresentada em fevereiro na Coppe, instituto de pós-graduação em engenharia da UFRJ, estima em
cerca de US$ 63 o custo da captura e armazenamento por tonelada de gás carbônico, da separação do CO2 ao monitoramento posterior do lugar onde
o gás será armazenado, para
evitar vazamentos.
Para evitar o lançamento na
atmosfera de cerca de 3 bilhões
de toneladas de gás carbônico
de uma estimativa preliminar
para os campos de Tupi e Iara,
por exemplo, o custo extra seria de cerca de US$ 190 bilhões.
Mais ocupado em cuidar dos
lucros na exploração do pré-sal, o presidente Lula tratou até
aqui de reduzir o custo ambiental de exploração de petróleo. A taxa de compensação
ambiental paga por empreendimentos foi reduzida a, no
máximo, 0,5% do custo dos
projetos em geral, e seria menor na exploração do pré-sal.
Preocupado com a abertura
de mais uma frente de atritos
no governo, Minc alega que a
Petrobras vem estudando a
tecnologia de CCS há anos.
"Não descobrimos a pólvora,
todo mundo sabe do problema,
a Petrobras sempre soube que
vai ter de fazer isso", disse.
"Não é motivo de crise, não
tem estresse", afirmou.
O ministro não vê motivos
para deixar de exigir a captura
e o armazenamento do carbono na exploração do pré-sal,
embora a tecnologia ainda esteja em fase de testes no mundo. Minc afirmou ter alertado a
ministra Dilma Rousseff (Casa
Civil) sobre a necessidade de o
Brasil acelerar a definição de
regras para o uso da tecnologia
do CCS no Brasil.
"Esse negócio, no mais tardar, vai estar certificado daqui
a um ou dois anos. O CCS não
está pronto e acabado, mas está
90% avançado. Não há dúvida
de que é preciso exigir", disse.
A previsão do governo é dar início à exploração em larga escala do pré-sal a partir de 2015.
Por ora, o Ibama (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis) licenciou apenas a perfuração de poços para a investigação das reservas.
O Ministério do Meio Ambiente defende que o Brasil integre as discussões do instituto
criado recentemente pelo governo da Austrália para acelerar o desenvolvimento da tecnologia do CCS. O instituto já
tem o apoio de 16 países.
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