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ENTREVISTA
ABÍLIO DINIZ
Acionista do Pão de Açúcar comemora lucro maior no 2º trimestre, fala do desafio de envelhecer com qualidade de vida e diz que foi um erro ter dado muito espaço aos executivos
Eduardo Knapp/Folha Imagem
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O empresário Abílio Diniz, que lança site pessoal amanhã
Em bom momento, Diniz sugere "receita da felicidade"
AOS 72 ANOS , Abílio Diniz vive talvez um
de seus melhores momentos. Na semana passada, o Pão de Açúcar, o maior
grupo varejista do país, anunciou um lucro 155% maior no segundo trimestre. Amanhã o
empresário lança o site www.abiliodiniz.com.br
para compartilhar experiências de vida. O objetivo desta entrevista era Diniz falar do lançamento
do site, mas ele se estendeu por um tema caro a
todos: como envelhecer com qualidade de vida.
Prestes a nascer o seu sexto filho e casado com
uma mulher de 37 anos, ele dá uma série de dicas,
mas uma é considerada essencial. "Se você puder
escolher uma coisa, escolha sempre ser feliz."
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Leia a seguir a entrevista de
Abílio Diniz à Folha.
FOLHA -Por que o site?
ABÍLIO DINIZ - Há cinco anos, fiz
um livro. Inicialmente, era para
ser uma história empresarial,
uma minibiografia. Descobri
que havia coisas na minha vida
que valiam a pena colocar e
acabei escrevendo o livro para
se ter uma vida feliz, saudável e
até se buscar maior longevidade. O livro foi muito bem recebido. Até hoje, ainda encontro
pessoas que, às vezes, me param e dizem: desde que li o seu
livro, faço sempre as suas orações. Valeu a pena. As pessoas
veem muito o Abílio pelo lado
do esporte, da vida saudável,
mas tem um lado meu na parte
de espiritualidade que também
é muito importante. Foi uma
coisa que marcou muito as pessoas que leram o livro.
E o que é o site? O site é um
pouco a continuação de tudo isso. Quero continuar passando
coisas da minha experiência
para que as pessoas pensem sobre aquilo que eu faço e depois
decidam o que fazer para ter
melhor qualidade de vida.
O site não é uma coisa que o
Abílio está fazendo só para o
Abílio. Claro que estou fazendo
para mim também. É claro que
eu quero ter uma vida saudável,
viver o máximo que eu puder.
Tenho uma mulher de 37
anos, uma filha de três e um outro a caminho, o Miguel, para o
começo de novembro. Sou ousado, não é? Mas eu acho que
tem que ser assim. Você tem
que estar preparado para o que
Deus determinar para você.
Você tem que estar preparado
sempre para a vida acabar a
qualquer momento, mas você
tem que acreditar que é eterno.
FOLHA - Qual a sua receita para o
envelhecimento?
DINIZ - Eu quero que as pessoas envelheçam com alegria.
Tenho amigos que estão deprimidos aos 50 anos. Não, o melhor está pela frente. As pessoas
têm que olhar isso com alegria.
Quando vão envelhecendo,
há pessoas que ficam um pouco
envergonhadas de perder algumas das suas características, de
ter limitações e acabam às vezes não lutando, não fazendo
coisas que possam melhorar esse quadro. O quadro não é totalmente reversível, mas você pode melhorá-lo. Você vai envelhecendo e vai adquirindo muito mais conhecimento, mais sabedoria, uma capacidade de administração da vida e de relacionamento muito melhor. O
que pode estragar e comprometer isso? A sua capacidade física e mental. Se você estiver
com os dois bem, aos 50 anos, o
melhor está pela frente. Não há
dúvida sobre isso. Serão os melhores anos de sua vida.
FOLHA - E como envelhecer com
boa qualidade física e mental?
DINIZ - É muito importante
procurar fazer atividades novas, coisas novas, que você não
faz. Atualmente, por exemplo,
eu tenho agendados quatro dias
por semana de aulas de francês.
Já falo francês há algum tempo,
mas eu resolvi que não bastava
falar. Tinha que falar bem e ser
fluente. Para você conservar a
sua capacidade mental e o seu
cérebro ativo você deve se propor a aprender algo novo. Por
isso, me propus a melhorar
muito o meu francês.
Uma coisa que você nunca
pode descuidar também é da
musculação. Sempre trabalhei
os músculos. Existe um negócio chamado sarcopenia, que é
a perda de massa muscular com
o envelhecimento. Qual é a maneira de você contornar esse
problema? Fazendo um pouco
de musculação. Precisa ir para a
academia e malhar? De jeito
nenhum. Basta fazer um pouquinho de musculação, principalmente nas pernas.
Isso serve para evitar queda,
para ter mais equilíbrio. Você
precisa ter um mínimo de massa para você conseguir se equilibrar, para você se mexer com
um pouco mais de agilidade,
para subir escada, para não andar como enceradeira, arrastando o pé no chão. Não se deve
andar desse jeito. O ideal é sempre a pessoa fazer um pouco de
fortalecimento muscular.
Uma outra coisa que as pessoas dizem é que correr é ruim
porque provoca muito impacto,
machuca. Mas não dá para deixar de ter impacto. Tem que ter
sim. Um pouco pelo menos.
Uma das coisas que mais se
veem nos idosos é eles sofrerem uma queda, quebrarem um
osso. Isso acaba com a vida deles. A volta é lenta, complicada,
nunca fica do mesmo jeito. Por
isso é importante conservar a
densidade óssea. O final da vida
do meu pai se acelerou depois
que ele quebrou o fêmur. Dali
para a frente, ele nunca foi o
mesmo. Já estava com 90 anos.
É importante você ter que
conservar a densidade óssea e
para isso tem que ter um pouco
de impacto. Como fazer isso?
Anda, caminha, não precisa
correr. Não precisa caminhar
longas horas, caminha meia hora, 40 minutos, e isso vai gerar o
impacto necessário.
Existem algumas coisas em
que eu acredito na vida. Se você
só puder eleger uma coisa na
sua vida, escolha sempre ser feliz e balize o resto por isso. Balize o seu esporte, balize o seu
trabalho, na medida do possível, o seu lazer, a sua vida familiar, o seu relacionamento.
FOLHA - O esporte contribui...
DINIZ - Essa é a ideia. Mesmo
que a pessoa não goste, é preciso, às vezes, ter um mínimo de
determinação. Acho que uma
das minhas principais características é essa. Ninguém precisa
ser como eu, mas é preciso ter
um mínimo de determinação.
O importante é que dá para
uma pessoa ter uma vida muito
mais saudável. Dá para evitar
uma série de coisas como diabetes, pressão alta, colesterol
alto, tudo isso é perfeitamente
evitável sem remédio, só com
um pouquinho de atividade física, de determinação na alimentação, um pouco de noção
que não dá para você evitar o
estresse totalmente, mas dá para você administrá-lo, controlá-lo. Até porque uma vida
completamente sem estresse
também não tem graça.
É chato, mas você tem que
saber lidar com o estresse.
FOLHA - Mas se uma pessoa tem
um grande problema financeiro ou
está desempregada, como ela vai
ter condições de mudar a vida?
DINIZ - Você não consegue deixar de evitar problemas na vida.
Muitos podem dizer: "Ah! O
Abílio fala essas coisas porque
ele é rico, cheio da grana, tem
um monte de coisas e pode falar o que quiser". Escute, eu já
fui sequestrado, num sequestro
completamente maluco, onde
eu tinha certeza que eu ia morrer, esta empresa [o Pão de
Açúcar] já quase desapareceu
nos anos 90 e eu comecei a minha vida sem dinheiro, sem nada. Fui para os Estados Unidos
sem nada, para estudar. Eu só
me tornei controlador desta
empresa em 1994. Até lá, não
era empregado, mas era um
membro da família. Dificuldades? Já enfrentei muitas.
Mas como é que uma pessoa
pode ser feliz se não tem grana,
está desempregada, tem um familiar doente ou perdeu uma
pessoa querida? Essas coisas
acontecem. O importante é você dizer: aconteça o que acontecer, eu sou um cara que se propõe a ser feliz. Esse é o meu
norte. O resto entra pelos lados.
As dificuldades que aparecem
você tem que administrar.
FOLHA - O sr. não toma álcool?
DINIZ - Tomo sim, eu gosto das
mesmas coisas que você. Eu
gosto de tomar um vinhozinho
e vinho é um negócio recente
na minha vida. Numa determinada altura, não faz muito tempo, no máximo uns quatro
anos, descobri que vinho era
melhor que Coca-Cola. Sério,
não estou brincando. Não tomava vinho porque não gostava. Não é porque fazia mal. Não
tomava porque não gostava.
Tomava de vez em quando até
uma cervejinha e um uísque diluído com club soda, mas não
tomava vinho. Descobri vinho
há uns quatro anos e gosto. Da
mesma forma que eu gosto de
pizza, lasanha, feijoada, churrasco... Escute, são as coisas
boas da vida.
FOLHA - O sr. diria que está num
dos seus melhores momentos?
DINIZ - Estou num momento
muito bom da minha vida, inclusive da vida empresarial. Eu,
em 2003, me propus a fazer o
que tinha que fazer: a profissionalização do Pão de Açúcar. Eu
saí da diretoria executiva, meus
filhos Ana e João Paulo, que
trabalhavam comigo, saíram
também, e eu os trouxe para o
conselho. Saí da minha função
de executivo e fui para o conselho, mas fiquei na mesma sala
compartilhada da diretoria: me
propus a um trabalho de profissionalização e dei um espaço
imenso para os dois presidentes que nós tivemos nesses cinco anos, de 2003 a 2007.
Foi um erro ter dado muito
espaço para os executivos. Tivemos um período que não foi
bom para a companhia. Do fim
de 2007 para cá, as coisas mudaram com a chegada do Cláudio Galeazzi. É um jovenzinho
de 69 anos com quem eu me entendo maravilhosamente bem.
Temos uma sinergia excelente.
É um grande companheiro. A
companhia deixou de andar de
lado, passou a retomar o rumo.
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