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OMC providencia até provador de comida
DO ENVIADO ESPECIAL A CANCÚN
Talvez porque já haja veneno
retórico suficiente nas divergências entre países ricos e pobres em
torno da agricultura, o Comitê
Organizador da Conferência de
Cancún tomou uma providência
inusitada: convocou provadores
de comida para evitar o envenenamento dos delegados, "como
na Idade Média", comenta o jornal mexicano "La Jornada".
É apenas um dos excepcionais
cuidados com a segurança para a
reunião, no evidente propósito de
evitar outra Seattle, a cidade americana em que naufragou, em
1999, a 3ª Conferência Ministerial
da OMC, em meio a divergências
entre os delegados (como agora) e
protestos nas ruas (como agora).
A diferença: Seattle não tem
praia e é uma cidade gelada, ao
contrário de Cancún, que não é
uma cidade propriamente, mas
uma faixa 22 quilômetros, em forma de "7", de praias paradisíacas,
hotéis pouco menos que faraônicos e um sol (ontem) devastador.
Natural que o protesto mais vistoso de ontem tenha sido na
praia: os manifestantes tiraram a
roupa e desenharam com o corpo
nu um dos mais moderados slogans de protesto ("No to WTO",
não para a OMC). Em geral, o grito é mais forte: "Destroy the
WTO" ("Destruam a OMC").
Se houvesse, de fato, o desejo de
destruir não propriamente a
OMC, mas a conferência de Cancún, a tarefa seria virtualmente
inatingível. O esquema de segurança, que pode chegar a 20 mil
homens, fechou a zona hoteleira,
a faixa de 22 quilômetros em que
estão os hotéis e o Centro de Convenções, o local da reunião.
Fechou por terra, mar e ar. Por
terra, aliás, nem é tão difícil: só há
uma entrada para a zona hoteleira, o Bulevar Kukulcán, bordeado
pelos hotéis e por uma lagoa que,
dizem os locais, tem crocodilos.
A grade de ferro que marca o limite além do qual os manifestantes não passarão fica a exatos
9,5 km do Centro de Convenções.
De todo o modo, pouco mais de
300 ONGs (Organizações Não-Governamentais) terão acesso ao
QG da reunião, cada uma podendo credenciar três representantes.
Mas só um deles de cada vez entrará no Centro de Convenções.
As restrições não impedem que
Cancún abrigue um sem-número
de manifestações e simpósios organizados pelos que são chamados, pelos inimigos, de "globalifóbicos", ou seja, o pessoal que tem
horror à globalização.
Eles próprios rejeitam o termo,
já que a globalização veio para ficar e não adianta ser contra. Preferiam ser chamados de "globalicríticos", mas, agora, definiram-se por um rótulo mais simpático,
na medida em que não é contra,
mas a favor de algo: "altermundialistas", ou seja, defensores de
que "um outro mundo é possível", o slogan sob o qual se reúnem no Fórum Social Mundial,
cujas três primeiras edições foram
em Porto Alegre.
(CLÓVIS ROSSI)
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