São Paulo, quinta-feira, 09 de setembro de 2004

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PIB

Instituto eleva de 3,5% a 4,6% previsão de expansão neste ano, mas vê crescimento de só 3,8% no próximo

Ipea mantém ceticismo para 2005

GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DO RIO

O crescimento acima do esperado da economia brasileira no primeiro semestre fez o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão do Ministério do Planejamento, revisar a projeção do PIB (Produto Interno Bruto) deste ano de 3,5% para 4,6%. Em compensação, a estimativa continua a ser de que a economia crescerá menos em 2005. A previsão do PIB do próximo ano, que era de 3,7%, passou para 3,8%.
No seu Boletim de Conjuntura divulgado ontem, o Ipea afirma que, para o país avançar numa média de crescimento de 5% ao ano, o setor público precisa poupar mais, ou seja, aprofundar o ajuste fiscal. Entre as medidas defendidas, está o aumento do superávit primário (economia de receitas para o pagamento de juros), cuja meta atual é de 4,25% do PIB. Ele não fez previsão de quanto deveria ser este aumento.
O PIB do primeiro semestre, divulgado na semana passada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cresceu 4,2% em relação ao mesmo período de 2003. O diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea, Paulo Levy, afirmou que, pelo fato de a economia brasileira ter passado por "um período relativamente longo" de investimentos muito baixos, uma "retomada um pouco mais forte do crescimento leva rapidamente determinados setores da economia ao limite de sua capacidade de produção".
Para o Ipea, o país precisa aumentar os níveis de investimento para sustentar o atual ritmo de crescimento do PIB. "A taxa de investimento caiu de um patamar de 19,5% do PIB, na qual oscilou da segunda metade dos anos 1990 até 2002, para 18% do PIB em 2003" -último dado divulgado pela União. Segundo estimativa do instituto, a taxa deve ficar entre 19% e 20% do PIB em 2004.
O Ipea calcula que a taxa de investimentos tem que atingir 25% do PIB nos próximos anos. "Se isso não acontecer, você acaba tendo ou pressões inflacionárias ou um desequilíbrio no setor externo sob a forma de uma redução do superávit na balança comercial [por causa do aumento das importações para suprir a demanda]." No caso do setor siderúrgico, por exemplo, as usinas estão operando com mais de 90% de sua capacidade instalada.
Para o Ipea, os estímulos aos investimentos já estão sendo dados pelo simples fato de a economia estar crescendo. Por isso, é preciso aumentar a poupança do país para financiar a expansão.
"É difícil imaginar que se possa atingir os níveis de investimentos para aumentar de forma sustentada o crescimento sem um esforço adicional por parte do setor público", diz o boletim. "Isso pode ser alcançado por uma combinação de redução de pagamento de juros reais, crescimento do superávit primário e aumento da proporção do investimento do gasto público." Resumindo, segundo Levy, o governo tem que "aprofundar o ajuste fiscal para aumentar a poupança do setor público".
O boletim diz ainda que o terceiro trimestre "deve crescer ainda forte na comparação com o mesmo período do ano passado [5,6%], mas se espera uma desaceleração" em comparação ao segundo trimestre "à medida que perdem força o impulso da queda de juros reais do final do ano passado e o das exportações líquidas, agora que as importações voltaram a crescer aceleradamente".
Segundo o instituto, o impacto dos dois casos "tende a ser moderado, seja porque o crédito continua crescendo em termos reais, seja porque as exportações continuam em ritmo forte".
O Ipea aumentou de 6,5% para 7,3% a estimativa de inflação para 2004. E prevê que a taxa básica de juros (Selic), hoje em 16%, atinja 16,2% neste ano. "É um cenário, não estamos prevendo que vá acontecer", disse Levy. "É só a leitura de dados mais recentes, como a ata do Copom e do comportamento dos mercados futuros."


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