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Sócios tentam reduzir estrangeiros na Telemar
Recompra de ações pode custar R$ 12,7 bilhões e ser uma das maiores operações já realizadas no mercado de capitais
Negociação, marcada para 25 de setembro, seria 1º passo para a fusão com a Brasil Telecom, que também passa por mudanças societárias
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O bloco de acionistas controladores da Telemar (Oi) tenta,
numa das maiores operações já
realizadas no mercado de capitais, aumentar sua fatia no capital total da empresa, recomprando ações que estão em
mãos de investidores estrangeiros. Calcula-se que os estrangeiros tenham pelo menos
45% do capital total da companhia, em ações sem direito a voto, enquanto o bloco controlador tem 17,48% do capital total.
A gestão da Telemar está nas
mãos de três sócios privados
-GP Investimentos, La Fonte
e Andrade Gutierrez, que somam perto de 6% do capital total- e pelo BNDES, que tem
4,6% do capital total. Três sócios do bloco de controle foram
afastados da gestão pela Anatel,
por serem também acionistas
da Brasil Telecom.
A recompra das ações pode
custar R$ 12,7 bilhões, e será financiada por um pool de bancos do qual fazem parte ABN,
Citibank, JP Morgan, Banco do
Brasil e UBS. A crise de liquidez
do mercado financeiro internacional, gerada pelo risco de perdas no mercado imobiliário dos
EUA, estourou no meio da negociação dos acionistas com os
bancos, o que levou ao adiamento do leilão de recompra
por duas vezes. A nova data
prevista é 25 de setembro, mas
empresários e bancos ainda
não chegaram a acordo sobre as
condições do empréstimo.
O leilão só acontecerá com
garantia de compra de pelo menos dois terços das ações preferenciais da Tele Norte Participações (holding da cadeia societária do grupo Telemar, que
controla a tele) existentes no
mercado. Nessa hipótese, a
operação custaria R$ 9,5 bilhões. Os R$ 12,7 bilhões referem-se à recompra de 100% das
preferenciais, pelo valor proposto de R$ 45 por ação.
Fusão
A recompra das ações seria o
primeiro passo para a comentada fusão com a Brasil Telecom. Na seqüência, se o leilão
for bem-sucedido, a Telemar
Participações faria uma emissão de ações na Bolsa e o controle acionário da companhia
seria pulverizado, o que, na avaliação dos acionistas, favoreceria a fusão.
Na BrT, também há uma movimentação entre os acionistas
controladores. O Citigroup e os
fundos de pensão estatais (liderados pela Previ, do Banco do
Brasil) pediram autorização da
Anatel para comprar a participação acionária da Telecom
Itália no capital da companhia,
por US$ 515 milhões. A aquisição será feita pela holding Techold, da cadeia societária da
BrT, e não apenas pelos fundos
de pensão, como havia sido
anunciado em julho.
A retirada da Telecom Italia,
na visão de um acionista da Telemar, seria precondição para a
fusão entre as duas teles. O grupo espanhol Telefónica tornou-se importante acionista da Telecom Italia na Europa, em
abril. Como a Telefónica concorre com a BrT e a Telemar no
Brasil, a presunção é a de que o
grupo espanhol tentaria
impedir a fusão de suas
concorrentes.
Estrangeiros
Em entrevista publicada pela
Folha, em agosto, o empresário Carlos Jereissati, presidente do conselho de administração da Telemar Participações,
admitiu que há fragilidade no
controle acionário tanto da Telemar quanto da BrT, porque
os controladores têm pequena
participação no capital total.
No final do ano passado, os
controladores da Telemar foram impedidos pelos investidores estrangeiros de fazerem
uma reestruturação societária
na companhia. A operação envolvia troca de ações preferencias por ordinárias. Essa é uma
das raras situações que dependem de aprovação dos preferencialistas em assembléia, e
eles rejeitaram a oferta dos
controladores.
A Tele Norte Leste Participações, que controla as operadoras de telefonia fixa, telefonia
celular e de internet do grupo,
tem 1,2 milhão de acionistas
preferencialistas. Eles não têm
direito a voto, não são identificados pela CVM (Comissão de
Valores Mobiliários) nem pela
Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações). Do total
de preferenciais, (incluindo as
ADRs, negociadas na Bolsa de
Nova York), 89% pertencem a
160 investidores, e 40% estão
concentrados nas mãos de sete.
Os maiores são os fundos de
investimento norte-americanos Brandes e Templeton -o
primeiro com 15% do capital
sem direito a voto da Tele Norte Leste e o segundo com
11,78%- e o britânico Genesys,
com 5,6%.
A holding Telemar Participações -pertencente aos grupos
La Fonte, Andrade Gutierrez,
GP Investimento, Alutrens (seguradoras privadas e BB), Lexpart (Citi, Opportunity e fundos de pensão), Fiago (fundos
de pensão) e BNDES- controla a concessionária com
52,45% das ações com direito a
voto da Tele Norte Leste. Como o capital total das companhias é composto por um terço
de ações com direito a voto e
dois terços de preferenciais, a
fatia dos controladores no capital total representa 17,48%.
A legislação limita a atuação
de um mesmo acionista em
empresas de telefonia fixa e celular. A Telecom Italia também
foi afastada da gestão da Brasil
Telecom por ser dona da TIM,
e suas ações na BrT, objetos da
negociação com o Citi e com os
fundos, estão sob a guarda de
um banco.
Telemar, Brasil Telecom, Telefônica e Embratel foram privatizadas pela União em julho
de 1998. Na ocasião, a União já
não possuía ações preferenciais. A grande pulverização do
capital das teles é fruto da política de financiamento dos planos de expansão do passado,
em que o assinante pagava antecipadamente para implantação da rede e recebia ações ordinárias e preferenciais. Em
1992, ainda no período estatal,
a Telebrás foi registrada na
Bolsa de Nova York.
Depois da privatização, o
grupo Telefônica ofereceu aos
acionistas minoritários trocar
suas ações da Telesp por títulos
da Telefónica Internacional.
Hoje, a matriz espanhola detém, direta e indiretamente,
quase 90% do capital da Telesp. O mesmo processo ocorreu na Embratel: o grupo Telmex recomprou ações dos minoritários e detém quase a totalidade do capital.
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