São Paulo, domingo, 09 de setembro de 2007

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Sócios tentam reduzir estrangeiros na Telemar

Recompra de ações pode custar R$ 12,7 bilhões e ser uma das maiores operações já realizadas no mercado de capitais

Negociação, marcada para 25 de setembro, seria 1º passo para a fusão com a Brasil Telecom, que também passa por mudanças societárias

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

O bloco de acionistas controladores da Telemar (Oi) tenta, numa das maiores operações já realizadas no mercado de capitais, aumentar sua fatia no capital total da empresa, recomprando ações que estão em mãos de investidores estrangeiros. Calcula-se que os estrangeiros tenham pelo menos 45% do capital total da companhia, em ações sem direito a voto, enquanto o bloco controlador tem 17,48% do capital total.
A gestão da Telemar está nas mãos de três sócios privados -GP Investimentos, La Fonte e Andrade Gutierrez, que somam perto de 6% do capital total- e pelo BNDES, que tem 4,6% do capital total. Três sócios do bloco de controle foram afastados da gestão pela Anatel, por serem também acionistas da Brasil Telecom.
A recompra das ações pode custar R$ 12,7 bilhões, e será financiada por um pool de bancos do qual fazem parte ABN, Citibank, JP Morgan, Banco do Brasil e UBS. A crise de liquidez do mercado financeiro internacional, gerada pelo risco de perdas no mercado imobiliário dos EUA, estourou no meio da negociação dos acionistas com os bancos, o que levou ao adiamento do leilão de recompra por duas vezes. A nova data prevista é 25 de setembro, mas empresários e bancos ainda não chegaram a acordo sobre as condições do empréstimo.
O leilão só acontecerá com garantia de compra de pelo menos dois terços das ações preferenciais da Tele Norte Participações (holding da cadeia societária do grupo Telemar, que controla a tele) existentes no mercado. Nessa hipótese, a operação custaria R$ 9,5 bilhões. Os R$ 12,7 bilhões referem-se à recompra de 100% das preferenciais, pelo valor proposto de R$ 45 por ação.

Fusão
A recompra das ações seria o primeiro passo para a comentada fusão com a Brasil Telecom. Na seqüência, se o leilão for bem-sucedido, a Telemar Participações faria uma emissão de ações na Bolsa e o controle acionário da companhia seria pulverizado, o que, na avaliação dos acionistas, favoreceria a fusão.
Na BrT, também há uma movimentação entre os acionistas controladores. O Citigroup e os fundos de pensão estatais (liderados pela Previ, do Banco do Brasil) pediram autorização da Anatel para comprar a participação acionária da Telecom Itália no capital da companhia, por US$ 515 milhões. A aquisição será feita pela holding Techold, da cadeia societária da BrT, e não apenas pelos fundos de pensão, como havia sido anunciado em julho.
A retirada da Telecom Italia, na visão de um acionista da Telemar, seria precondição para a fusão entre as duas teles. O grupo espanhol Telefónica tornou-se importante acionista da Telecom Italia na Europa, em abril. Como a Telefónica concorre com a BrT e a Telemar no Brasil, a presunção é a de que o grupo espanhol tentaria impedir a fusão de suas concorrentes.

Estrangeiros
Em entrevista publicada pela Folha, em agosto, o empresário Carlos Jereissati, presidente do conselho de administração da Telemar Participações, admitiu que há fragilidade no controle acionário tanto da Telemar quanto da BrT, porque os controladores têm pequena participação no capital total.
No final do ano passado, os controladores da Telemar foram impedidos pelos investidores estrangeiros de fazerem uma reestruturação societária na companhia. A operação envolvia troca de ações preferencias por ordinárias. Essa é uma das raras situações que dependem de aprovação dos preferencialistas em assembléia, e eles rejeitaram a oferta dos controladores.
A Tele Norte Leste Participações, que controla as operadoras de telefonia fixa, telefonia celular e de internet do grupo, tem 1,2 milhão de acionistas preferencialistas. Eles não têm direito a voto, não são identificados pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) nem pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Do total de preferenciais, (incluindo as ADRs, negociadas na Bolsa de Nova York), 89% pertencem a 160 investidores, e 40% estão concentrados nas mãos de sete.
Os maiores são os fundos de investimento norte-americanos Brandes e Templeton -o primeiro com 15% do capital sem direito a voto da Tele Norte Leste e o segundo com 11,78%- e o britânico Genesys, com 5,6%.
A holding Telemar Participações -pertencente aos grupos La Fonte, Andrade Gutierrez, GP Investimento, Alutrens (seguradoras privadas e BB), Lexpart (Citi, Opportunity e fundos de pensão), Fiago (fundos de pensão) e BNDES- controla a concessionária com 52,45% das ações com direito a voto da Tele Norte Leste. Como o capital total das companhias é composto por um terço de ações com direito a voto e dois terços de preferenciais, a fatia dos controladores no capital total representa 17,48%.
A legislação limita a atuação de um mesmo acionista em empresas de telefonia fixa e celular. A Telecom Italia também foi afastada da gestão da Brasil Telecom por ser dona da TIM, e suas ações na BrT, objetos da negociação com o Citi e com os fundos, estão sob a guarda de um banco.
Telemar, Brasil Telecom, Telefônica e Embratel foram privatizadas pela União em julho de 1998. Na ocasião, a União já não possuía ações preferenciais. A grande pulverização do capital das teles é fruto da política de financiamento dos planos de expansão do passado, em que o assinante pagava antecipadamente para implantação da rede e recebia ações ordinárias e preferenciais. Em 1992, ainda no período estatal, a Telebrás foi registrada na Bolsa de Nova York.
Depois da privatização, o grupo Telefônica ofereceu aos acionistas minoritários trocar suas ações da Telesp por títulos da Telefónica Internacional. Hoje, a matriz espanhola detém, direta e indiretamente, quase 90% do capital da Telesp. O mesmo processo ocorreu na Embratel: o grupo Telmex recomprou ações dos minoritários e detém quase a totalidade do capital.


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