São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2008

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Mercado americano melhora, mas segue cético

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

O maior mercado acionário do planeta, em Nova York, teve uma boa reação inicial ao pacote do governo para salvar as gigantes do mercado de financiamento imobiliário, Fannie Mae e Freddie Mac. O mesmo aconteceu nas principais Bolsas européias e asiáticas.
Mas, conforme o dia foi chegando ao final, a euforia foi perdendo fôlego. A Bolsa de Nova York subiu 290,4 pontos. Na manhã, tinha ganho 350 pontos. O secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, apareceu logo cedo dando entrevistas a canais de TV especializados em economia. Tentou acalmar o mercado e defender o pacote: "Intervenção do governo não é algo que eu gostaria de apoiar, mas é certamente a melhor alternativa".
Indagado pela TV CNBC sobre o quanto o contribuinte norte-americano pagará, ele respondeu que a resposta depende de "quanto tempo vai levar para que os preços dos imóveis se estabilizem e a economia volte a crescer". Paulson foi realista: "Enquanto o grosso dessa crise não ficar para trás, continuaremos a ter nervosismo".
Além da alta na Bolsa, pelo menos outro indicador relevante deu um sinal positivo ontem. A taxa fixa de juros para empréstimos imobiliários caiu de 6,5% para 6% anuais (financiamentos de 30 anos).
A economia dos EUA é 72% baseada em consumo. O consenso dos analistas é de que as medidas anunciadas devem demorar para fazer efeito pelos menos algumas semanas, ou até meses.
Por enquanto, muitos indicadores ruins serão conhecidos sobre o que já passou. Ontem, por exemplo, o Fed (BC dos EUA) anunciou que o volume de empréstimos dos consumidores em julho é o menor dos últimos sete meses, sobretudo por causa da demanda menor para a compra de carros, que em julho foi a menor em 16 anos.
Até agora, a administração Bush já tomou três providências de intervenção direta na economia por causa da crise no setor imobiliário. Ajudou com US$ 29 bilhões na operação de venda do banco de investimentos Bear Stearns para o JPMorgan, em março. Baixou um pacote de estímulo aos contribuintes que receberam cheques num total de US$ 100 bilhões para aquecer o consumo. E agora veio a injeção de até US$ 200 bilhões para as financeiras imobiliárias.
Para o economista Ken Goldstein, do renomado Conference Board (instituição responsável pelos principais índices de confiança do consumidor dos EUA), o pacote de domingo "foi só o primeiro passo, não último capítulo" na reestruturação do setor de crédito imobiliário. Em entrevista à Folha, Goldstein disse que "vai demorar uma década para o setor voltar ao normal. O período mais dramático são as próximas semanas, quando será necessário observar se a taxa de juros cobrada de empréstimos imobiliários cairá de maneira sustentável para níveis normais".
Ele viu como positiva a ação do governo, pois havia um imobilismo "de quase três quartos de século, quando essa estrutura foi montada". Agora, Goldstein avalia que um dos problemas reais terá de ser atacado.
"Tínhamos essas empresas que recebiam altos volumes de dinheiro subsidiado para alimentar o mercado imobiliário. Há mais dinheiro público indo para as pessoas comprarem casas do que para empresas fazerem investimentos. O problema é que muitos investidores europeus e asiáticos se aproveitavam do dinheiro barato para aplicarem no mercado imobiliário dos EUA. Agora, creio que haverá uma discussão a respeito da utilidade de tal tipo de política", diz o economista.


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