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China ocupa lacunas da indústria nacional
Além do câmbio, importação do país asiático é favorecida pela ausência de fornecedores brasileiros em setores com demanda maior
Compra de itens para segmentos como os
de telecomunicações, informática e parte dos eletrônicos disparou
MARCELO SAKATE
DA REDAÇÃO
À margem do câmbio, o avanço recente das importações de
produtos chineses tem ocorrido na esteira da expansão de setores industriais que necessitam de bens que, em muitos casos, têm produção reduzida ou
não são fabricados no país. É o
caso de componentes para telecomunicações, informática e
parte dos eletrônicos, cujas
compras registraram os maiores saltos desde 2003.
É um movimento que, embora também influenciado pela
apreciação da moeda brasileira,
sinaliza um estreitamento cada
vez maior do saldo do país com
a China, em fenômeno sustentado por fatores não tão conjunturais, dizem analistas.
"Fabrica-se muito pouco no
Brasil [de componentes para
telecomunicações e informática e semicondutores]. A indústria de componentes no país foi
dizimada, um processo que começou com o advento da Zona
Franca de Manaus, onde é mais
barato importar do que produzir", diz Humberto Barbato, diretor da Abinee (Associação
Brasileira da Indústria Elétrica
e Eletrônica) e de Comércio
Exterior do Ciesp (Centro das
Indústrias do Estado de São
Paulo). Ele minimiza o efeito
do câmbio nessa situação.
Visão semelhante tem Chau
Kuo Hue, da LCA Consultores,
para quem o próprio crescimento da economia tem tido
maior influência do que o real
valorizado nesse processo. Segundo o economista, o aumento das importações, impulsionado por componentes, vai
continuar ao menos pelos próximos dois ou três anos, porque
"o país não tem um parque industrial desenvolvido o suficiente nesses setores para atender à demanda interna".
Mesmo no caso da indústria
de celulares, que registrou um
aumento de 16% na exportação
de aparelhos prontos no primeiro semestre e é o principal
bem eletroeletrônico negociado pelo país, a aquisição de
componentes não é tão vantajosa quanto pode parecer, diz
Barbato, porque eles correspondem a cerca de 85% do custo total -ou seja, o valor agregado na produção é baixo.
Em alguns itens, a alta das
importações chegou a superar
6.000% desde 2003, caso dos
aparelhos de celular já acabados. Dispositivos de cristais líquidos -para as telas dos mesmos telefones -, o segundo na
pauta de bens importados da
China, cresceram 351%.
Empresas importadoras
A dependência maior em relação a componentes se reflete
na lista das empresas no Brasil
que mais importam da China.
Das 12 que compraram acima
de US$ 50 milhões em 2005, oito eram de eletroeletrônicos ou
informática (Motorola, Nokia,
Siemens, Dell, Flextronics, Philips, LG e Samsung), havia duas
siderúrgicas (Usiminas e CSN)
e ainda duas "tradings".
No rol dos que mais importaram da China em 2005, a operação no Brasil da americana
Dell praticamente dobrou o volume de compras da Ásia em
três anos, diz Laury Johnson,
diretor de operações e distribuição para o Mercosul.
Quem não compra diretamente o faz por meio de "tradings". A Sab Company começou a importar equipamentos
de telecomunicações em 2003
para atender a uma demanda
de operadoras e empresas do
setor. Hoje tais equipamentos e
de eletroeletrônicos são cerca
de 90% das aquisições do país
asiático, diz João Batista de
Paula, presidente da empresa.
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