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Consórcio obtém adesão de 86% do ABN
Santander, RBS e Fortis conseguem acordo com acionistas do banco holandês para fechar negócio, a ser anunciado até sexta
Compra do ABN Amro, dono do Real, cria a 3ª maior instituição brasileira e acirra a concorrência com Itaú, Bradesco e Banco do Brasil
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O consórcio formado pelos
bancos RBS (Royal Bank of
Scotland), Santander e Fortis
conseguiu a adesão de 86% dos
acionistas dos ABN Amro
Bank, dono no Brasil do Real,
em sua proposta de compra por
US$ 100 bilhões.
A oferta envolve a completa
divisão do grupo no mundo e
cria a terceira maior instituição
financeira brasileira, com porte
de fazer frente a Banco do Brasil, Bradesco e Itaú, que até agora dominam o setor.
O negócio acontece no momento de maior expansão do
crédito brasileiro, um mercado
pouco explorado em que apenas o ganho de escala permitirá
aos bancos manterem os atuais
níveis de lucratividade. Além
disso, governo e bancos travam
sua maior queda-de-braço por
conta de limites nas tarifas
bancárias, uma das maiores
fontes de receita dos bancos.
Segundo o consórcio, a adesão de 86% dos acionistas do
ABN cumpre a exigência mínima de 80% para o fechamento
do negócio, que deve ser oficialmente anunciado até a próxima
sexta-feira, dependendo de
eventuais condições impostas
pelos compradores.
A novela, que começou há
mais de seis meses, só estará
completamente encerrada
quando o consórcio declarar
que não tem mais qualquer exigência a fazer.
A única forma de o negócio
andar para trás agora é se o
consórcio impuser alguma condição que tenha de ser reavaliada pelos acionistas -como a reversão da venda da unidade
americana para o Bank of America, assunto aparentemente
encerrado.
Após a chamada "declaração
de incondicionalidade", os bancos do consórcio têm até cinco
dias úteis para fazer o pagamento acertado -em dinheiro
e em ações do RBS.
O prazo é considerado mais
do que suficiente para o RBS
colocar na Bolsa as novas ações
emitidas para levantar 7% do
valor do negócio e para o Fortis
completar seu aumento de capital, operação em que deve levantar US$ 18,76 bilhões.
Na sexta, o britânico Barclays
decidiu retirar sua oferta, avaliada em US$ 88 bilhões, pelo
ABN, após ter a adesão de apenas 0,2% dos acionistas do banco holandês. Com a retirada da
proposta, ainda leva 200 milhões em indenização, valor
que deve cobrir suas despesas
por ter entrado na disputa.
Pela proposta do consórcio, o
Santander fica com as operações no Brasil e na Itália, enquanto o Fortis fica com o varejo na Holanda; as demais
operações, especialmente as de
atacado, vão para o RBS. O
ABN emprega 105 mil funcionários e tem 4.500 agências em
153 países. Os sindicatos estimam pelo menos 19 mil demissões no mundo.
Contrária ao negócio que significa o fim de sua presença
mundial, a direção do ABN divulgou ontem um comunicado
confirmando que a proposta do
consórcio teve a adesão de 86%
dos acionistas.
Antes de o consórcio fazer
uma oferta formal pelo banco,
o presidente do ABN, Rijkman
Groenink, vendeu o banco LaSalle, sua unidade americana,
para o Bank of America. O La
Salle era o principal ativo de interesse do RBS, e a venda foi
vista como uma "poison pill"
(pílula envenenada, na tradução literal) para acabar com o
interesse do consórcio no ABN.
A venda do LaSalle foi fechada
no dia 1º por US$ 21 bilhões.
Com 80% de apoio dos acionistas, o consórcio poderá mudar membros do conselho do
ABN e tomar decisões em seu
interesse. No entanto, apenas
com 95% do controle é que o
consórcio pode forçar a compra das demais ações.
Segundo a lei holandesa, se
forem atingidos 95%, a Justiça
deve decidir o valor que os demais acionistas receberão pela
venda de seus papéis. O consórcio tem forte interesse em
conseguir somar o percentual.
As ações do RBS recuaram
ontem 1,6%, enquanto as do
ABN subiram 0,7%. Os papéis
do Santander tiveram baixa de
0,57% e os do Fortis, de 2,36%.
No Brasil, as ações do Santander, que têm menos de 3% do
capital negociado, subiram
9,29%. No Brasil, nem o Santander nem o ABN Real quiseram comentar o negócio.
Com agências internacionais
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