São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2007

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Consórcio obtém adesão de 86% do ABN

Santander, RBS e Fortis conseguem acordo com acionistas do banco holandês para fechar negócio, a ser anunciado até sexta

Compra do ABN Amro, dono do Real, cria a 3ª maior instituição brasileira e acirra a concorrência com Itaú, Bradesco e Banco do Brasil

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O consórcio formado pelos bancos RBS (Royal Bank of Scotland), Santander e Fortis conseguiu a adesão de 86% dos acionistas dos ABN Amro Bank, dono no Brasil do Real, em sua proposta de compra por US$ 100 bilhões.
A oferta envolve a completa divisão do grupo no mundo e cria a terceira maior instituição financeira brasileira, com porte de fazer frente a Banco do Brasil, Bradesco e Itaú, que até agora dominam o setor.
O negócio acontece no momento de maior expansão do crédito brasileiro, um mercado pouco explorado em que apenas o ganho de escala permitirá aos bancos manterem os atuais níveis de lucratividade. Além disso, governo e bancos travam sua maior queda-de-braço por conta de limites nas tarifas bancárias, uma das maiores fontes de receita dos bancos.
Segundo o consórcio, a adesão de 86% dos acionistas do ABN cumpre a exigência mínima de 80% para o fechamento do negócio, que deve ser oficialmente anunciado até a próxima sexta-feira, dependendo de eventuais condições impostas pelos compradores.
A novela, que começou há mais de seis meses, só estará completamente encerrada quando o consórcio declarar que não tem mais qualquer exigência a fazer.
A única forma de o negócio andar para trás agora é se o consórcio impuser alguma condição que tenha de ser reavaliada pelos acionistas -como a reversão da venda da unidade americana para o Bank of America, assunto aparentemente encerrado.
Após a chamada "declaração de incondicionalidade", os bancos do consórcio têm até cinco dias úteis para fazer o pagamento acertado -em dinheiro e em ações do RBS.
O prazo é considerado mais do que suficiente para o RBS colocar na Bolsa as novas ações emitidas para levantar 7% do valor do negócio e para o Fortis completar seu aumento de capital, operação em que deve levantar US$ 18,76 bilhões.
Na sexta, o britânico Barclays decidiu retirar sua oferta, avaliada em US$ 88 bilhões, pelo ABN, após ter a adesão de apenas 0,2% dos acionistas do banco holandês. Com a retirada da proposta, ainda leva 200 milhões em indenização, valor que deve cobrir suas despesas por ter entrado na disputa.
Pela proposta do consórcio, o Santander fica com as operações no Brasil e na Itália, enquanto o Fortis fica com o varejo na Holanda; as demais operações, especialmente as de atacado, vão para o RBS. O ABN emprega 105 mil funcionários e tem 4.500 agências em 153 países. Os sindicatos estimam pelo menos 19 mil demissões no mundo.
Contrária ao negócio que significa o fim de sua presença mundial, a direção do ABN divulgou ontem um comunicado confirmando que a proposta do consórcio teve a adesão de 86% dos acionistas.
Antes de o consórcio fazer uma oferta formal pelo banco, o presidente do ABN, Rijkman Groenink, vendeu o banco LaSalle, sua unidade americana, para o Bank of America. O La Salle era o principal ativo de interesse do RBS, e a venda foi vista como uma "poison pill" (pílula envenenada, na tradução literal) para acabar com o interesse do consórcio no ABN. A venda do LaSalle foi fechada no dia 1º por US$ 21 bilhões.
Com 80% de apoio dos acionistas, o consórcio poderá mudar membros do conselho do ABN e tomar decisões em seu interesse. No entanto, apenas com 95% do controle é que o consórcio pode forçar a compra das demais ações.
Segundo a lei holandesa, se forem atingidos 95%, a Justiça deve decidir o valor que os demais acionistas receberão pela venda de seus papéis. O consórcio tem forte interesse em conseguir somar o percentual.
As ações do RBS recuaram ontem 1,6%, enquanto as do ABN subiram 0,7%. Os papéis do Santander tiveram baixa de 0,57% e os do Fortis, de 2,36%. No Brasil, as ações do Santander, que têm menos de 3% do capital negociado, subiram 9,29%. No Brasil, nem o Santander nem o ABN Real quiseram comentar o negócio.


Com agências internacionais


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