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Mercado Aberto
GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br
Redução do compulsório segue ação dos BCs
A decisão de ontem do Banco
Central de promover mais um
afrouxamento do compulsório
pode ser interpretada como
uma adesão do Brasil ao movimento coordenado de redução
de juro dos oito BCs do mundo
inteiro, na opinião de Octavio
de Barros, diretor de pesquisas
macroeconômicas do Bradesco.
"Redução de compulsório é
igual à redução de juros. Portanto, podemos dizer que o
Banco Central do Brasil sem
dúvida seguiu os demais bancos centrais do mundo afrouxando a política monetária",
diz o economista.
Nos últimos dias, foi discutido entre economistas se havia
ou não contradição entre política monetária e política de liquidez. Ou seja, se o Banco
Central poderia continuar aumentando os juros e, ao mesmo
tempo, injetando liquidez no
mercado por meio de medidas
de afrouxamento do compulsório.
Para Octavio de Barros, não
faz o menor sentido separar política monetária de política de
liquidez. São dois instrumentos
de política monetária. É por essa razão que a decisão do BC de
baixar o compulsório tem o
mesmo efeito de uma redução
da taxa de juros.
Isso significa, a seu ver, que o
próximo Copom tem enormes
chances de não mexer na taxa
de juros e justificar na ata que a
dramaticidade do momento
global atual requer uma pausa
para observações, deixando a
porta aberta para os futuros
movimentos até de alta na taxa
de juros.
"Essa seria, na minha visão, a
decisão mais sábia neste momento", diz o economista.
Sobre a eficácia da medida de
ontem de redução do compulsório, Octavio de Barros diz que
ela é necessária, correta, mas
talvez ainda seja necessário um
afrouxamento monetário adicional levando em conta a demanda de crédito do sistema financeiro.
Para Octavio de Barros, a medida de ontem representa o primeiro passo para um afrouxamento monetário ainda maior,
talvez até com novas reduções
no compulsório.
A grande preocupação do BC,
hoje, na opinião do economista,
deve ser a contração do crédito
e os seus efeitos sobre a atividade econômica.
"Em razão da forte contração
do crédito global a que estamos
assistindo nesses últimos dias,
o risco maior recai sobre a atividade econômica, e não sobre a
inflação", diz.
Até porque a abrupta desvalorização do real ajuda também
ainda mais a jogar a atividade
econômica para baixo.
"A depreciação do câmbio
tem um elemento de depreciação muito forte."
Credit Suisse prevê manutenção da Selic em 13,75% até fim do ano
Mais um banco defende a interrupção do aperto monetário
do Banco Central diante da crise econômica internacional. O
Credit Suisse mudou ontem
sua projeção de elevação da Selic de duas altas de 0,50 ponto
percentual para a estabilização
da taxa básica de juros nos
atuais 13,75% ao ano até o encerramento de 2008.
A decisão do banco foi tomada com base em perspectivas
negativas para a expansão do
crédito no Brasil e de um cenário de desaceleração do crescimento global, informa o relatório. "No nosso entender, o
aperto monetário necessário
no Brasil para ajustar o suposto
desequilíbrio entre a expansão
da demanda doméstica e o crescimento da oferta agregada é,
certamente, inferior ao anteriormente projetado", diz o relatório do banco.
Após reduzir na semana passada a projeção de crescimento
mundial para 2009 de 3,6% para 3,3%, o Credit Suisse também alterou as estimativas para
o Brasil. O banco espera agora
uma alta de 3% no PIB do país
em 2009 ante os 4% projetados
até ontem.
No relatório, o banco também admitiu que a recente depreciação cambial pode levar a
novas pressões inflacionárias
nos próximos trimestres.
CALÇADOS: CONTRATOS ESTÃO PARADOS POR VOLATILIDADE DA COTAÇÃO DO DÓLAR
Apesar de comemorarem a alta do dólar, os empresários
do setor calçadista estão preocupados com a volatilidade do
câmbio. "Os negócios estão paralisados, porque não há como
imaginar a cotação do dia seguinte", disse Eitor Klein, da
Abicalçados. Segundo ele, compradores já pedem desconto
no preço das encomendas firmadas até setembro, com dólar
mais baixo. "Não tem como atender. Os contratos estão lastreados a operações de hedge e ACC sobre o câmbio antigo."
NEGOCIAÇÕES
O Banco Cruzeiro do Sul
está negociando sua carteira
de consignado, a quarta
maior do país, com um banco oficial. E pensar que, há
alguns meses, o Cruzeiro do
Sul negou uma proposta
tentadora do Unibanco.
INSTINTO
Uma experiente raposa do
mercado tem uma explicação para as operações de alto
risco do mercado derivativo
de dólar. Muitos diretores financeiros vinham de bancos
de investimento e achavam
que poderiam continuar fazendo as mesmas operações.
NA BOLSA
Questionado sobre a crise,
o ex-presidente FHC deu a
seguinte resposta: "Nessas
horas é que a Bolsa é pobre".
CARTEIRA DE CRÉDITO: BANCOS BUSCAM CONSULTORIA PARA AVALIAR ATIVOS
Três bancos interessados em comprar ou vender carteiras
de crédito procuraram nos últimos dias a consultoria Hampton Solfise, especializada em captação de recursos, para avaliar os ativos. "É preciso medir todos os recebíveis da carteira de forma conjunta, e não isolada, como está sendo feito
hoje. A avaliação errada pode fazer muitos bancos vender
carteiras por preços menores do que valem ou deixar de
comprar créditos bons", diz Patricia Bentes, sócia-diretora
da Hampton, que fará palestra sobre o tema hoje, em SP.
CENÁRIO DE RISCO
Os focos da Broadway estão em Wall Street. Produtores de espetáculos, dependentes de patrocínios e
doações, começaram a ser afetados pela crise, segundo o "New York Times". Karen Hopkins, presidente
de um centro de artes, já ouviu de colaboradores:
"Não quero falar com você, ligue-me daqui a seis meses". O espetáculo "Hairspray" anunciou fechamento
na semana passada, segundo seu representante, por
conta da economia. "Guys and Dolls" foi cancelado.
OLHO DO FURACÃO
Guido Mantega e Henrique Meirelles decidiram
adiar por um dia a viagem a
Washington para a reunião
anual do FMI. Eles só embarcam hoje à noite. Os dois
têm uma reunião com o presidente Lula em Brasília. A
decisão de adiar a ida para
Washington foi tomada depois de um longo encontro
de Mantega com Meirelles e
várias conversas por telefone com Lula. Mantega também falou com banqueiros.
ESTOQUE
Para estimular as vendas,
a General Motors vai colocar
seu vice-presidente, José
Carlos Pinheiro Neto, em
uma campanha promocional de varejo que estréia hoje em rede nacional de televisão e também em rádio.
Neto anunciará uma taxa de
juro promocional de 0,99%
ao mês para os modelos
Prisma, Classic, Astra e Corsa. Sinal de que os estoques
de automóveis estão altos.
ARMISTÍCIO
Para Júlio Sérgio Gomes
de Almeida, o Brasil foi contagiado pela crise e o BC deve agir rápido. A receita deve
ser cortar juros, baixar compulsório e vender dólar, como os BCs pelo mundo. Antes, porém, ele sugere um armistício entre os economistas. "Monetaristas devem
esquecer que são monetaristas, e neoliberais, que são liberais. Somos todos keynesianos nessa hora."
SEM VAGA
Uma semana antes de o
acordo com a Cyrela desandar, a Agra demitiu 40 pessoas, o equivalente a 20% de
sua força de trabalho. Segundo a construtora, os cortes foram causados pela crise e seriam feitos com ou
sem a aquisição.
PROCURA-SE
Mais bancos pequenos e
médios ofereceram à Caixa
suas carteiras de crédito.
com JOANA CUNHA e MARINA GAZZONI
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