São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2008

Próximo Texto | Índice

Mercado Aberto

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

Redução do compulsório segue ação dos BCs

A decisão de ontem do Banco Central de promover mais um afrouxamento do compulsório pode ser interpretada como uma adesão do Brasil ao movimento coordenado de redução de juro dos oito BCs do mundo inteiro, na opinião de Octavio de Barros, diretor de pesquisas macroeconômicas do Bradesco.
"Redução de compulsório é igual à redução de juros. Portanto, podemos dizer que o Banco Central do Brasil sem dúvida seguiu os demais bancos centrais do mundo afrouxando a política monetária", diz o economista.
Nos últimos dias, foi discutido entre economistas se havia ou não contradição entre política monetária e política de liquidez. Ou seja, se o Banco Central poderia continuar aumentando os juros e, ao mesmo tempo, injetando liquidez no mercado por meio de medidas de afrouxamento do compulsório.
Para Octavio de Barros, não faz o menor sentido separar política monetária de política de liquidez. São dois instrumentos de política monetária. É por essa razão que a decisão do BC de baixar o compulsório tem o mesmo efeito de uma redução da taxa de juros.
Isso significa, a seu ver, que o próximo Copom tem enormes chances de não mexer na taxa de juros e justificar na ata que a dramaticidade do momento global atual requer uma pausa para observações, deixando a porta aberta para os futuros movimentos até de alta na taxa de juros.
"Essa seria, na minha visão, a decisão mais sábia neste momento", diz o economista.
Sobre a eficácia da medida de ontem de redução do compulsório, Octavio de Barros diz que ela é necessária, correta, mas talvez ainda seja necessário um afrouxamento monetário adicional levando em conta a demanda de crédito do sistema financeiro.
Para Octavio de Barros, a medida de ontem representa o primeiro passo para um afrouxamento monetário ainda maior, talvez até com novas reduções no compulsório.
A grande preocupação do BC, hoje, na opinião do economista, deve ser a contração do crédito e os seus efeitos sobre a atividade econômica.
"Em razão da forte contração do crédito global a que estamos assistindo nesses últimos dias, o risco maior recai sobre a atividade econômica, e não sobre a inflação", diz.
Até porque a abrupta desvalorização do real ajuda também ainda mais a jogar a atividade econômica para baixo.
"A depreciação do câmbio tem um elemento de depreciação muito forte."

Credit Suisse prevê manutenção da Selic em 13,75% até fim do ano

Mais um banco defende a interrupção do aperto monetário do Banco Central diante da crise econômica internacional. O Credit Suisse mudou ontem sua projeção de elevação da Selic de duas altas de 0,50 ponto percentual para a estabilização da taxa básica de juros nos atuais 13,75% ao ano até o encerramento de 2008.
A decisão do banco foi tomada com base em perspectivas negativas para a expansão do crédito no Brasil e de um cenário de desaceleração do crescimento global, informa o relatório. "No nosso entender, o aperto monetário necessário no Brasil para ajustar o suposto desequilíbrio entre a expansão da demanda doméstica e o crescimento da oferta agregada é, certamente, inferior ao anteriormente projetado", diz o relatório do banco.
Após reduzir na semana passada a projeção de crescimento mundial para 2009 de 3,6% para 3,3%, o Credit Suisse também alterou as estimativas para o Brasil. O banco espera agora uma alta de 3% no PIB do país em 2009 ante os 4% projetados até ontem.
No relatório, o banco também admitiu que a recente depreciação cambial pode levar a novas pressões inflacionárias nos próximos trimestres.

CALÇADOS:
CONTRATOS ESTÃO PARADOS POR VOLATILIDADE DA COTAÇÃO DO DÓLAR
Apesar de comemorarem a alta do dólar, os empresários do setor calçadista estão preocupados com a volatilidade do câmbio. "Os negócios estão paralisados, porque não há como imaginar a cotação do dia seguinte", disse Eitor Klein, da Abicalçados. Segundo ele, compradores já pedem desconto no preço das encomendas firmadas até setembro, com dólar mais baixo. "Não tem como atender. Os contratos estão lastreados a operações de hedge e ACC sobre o câmbio antigo."

NEGOCIAÇÕES
O Banco Cruzeiro do Sul está negociando sua carteira de consignado, a quarta maior do país, com um banco oficial. E pensar que, há alguns meses, o Cruzeiro do Sul negou uma proposta tentadora do Unibanco.

INSTINTO
Uma experiente raposa do mercado tem uma explicação para as operações de alto risco do mercado derivativo de dólar. Muitos diretores financeiros vinham de bancos de investimento e achavam que poderiam continuar fazendo as mesmas operações.

NA BOLSA
Questionado sobre a crise, o ex-presidente FHC deu a seguinte resposta: "Nessas horas é que a Bolsa é pobre".

CARTEIRA DE CRÉDITO:
BANCOS BUSCAM CONSULTORIA PARA AVALIAR ATIVOS
Três bancos interessados em comprar ou vender carteiras de crédito procuraram nos últimos dias a consultoria Hampton Solfise, especializada em captação de recursos, para avaliar os ativos. "É preciso medir todos os recebíveis da carteira de forma conjunta, e não isolada, como está sendo feito hoje. A avaliação errada pode fazer muitos bancos vender carteiras por preços menores do que valem ou deixar de comprar créditos bons", diz Patricia Bentes, sócia-diretora da Hampton, que fará palestra sobre o tema hoje, em SP.

CENÁRIO DE RISCO
Os focos da Broadway estão em Wall Street. Produtores de espetáculos, dependentes de patrocínios e doações, começaram a ser afetados pela crise, segundo o "New York Times". Karen Hopkins, presidente de um centro de artes, já ouviu de colaboradores: "Não quero falar com você, ligue-me daqui a seis meses". O espetáculo "Hairspray" anunciou fechamento na semana passada, segundo seu representante, por conta da economia. "Guys and Dolls" foi cancelado.

OLHO DO FURACÃO
Guido Mantega e Henrique Meirelles decidiram adiar por um dia a viagem a Washington para a reunião anual do FMI. Eles só embarcam hoje à noite. Os dois têm uma reunião com o presidente Lula em Brasília. A decisão de adiar a ida para Washington foi tomada depois de um longo encontro de Mantega com Meirelles e várias conversas por telefone com Lula. Mantega também falou com banqueiros.


ESTOQUE
Para estimular as vendas, a General Motors vai colocar seu vice-presidente, José Carlos Pinheiro Neto, em uma campanha promocional de varejo que estréia hoje em rede nacional de televisão e também em rádio. Neto anunciará uma taxa de juro promocional de 0,99% ao mês para os modelos Prisma, Classic, Astra e Corsa. Sinal de que os estoques de automóveis estão altos.

ARMISTÍCIO
Para Júlio Sérgio Gomes de Almeida, o Brasil foi contagiado pela crise e o BC deve agir rápido. A receita deve ser cortar juros, baixar compulsório e vender dólar, como os BCs pelo mundo. Antes, porém, ele sugere um armistício entre os economistas. "Monetaristas devem esquecer que são monetaristas, e neoliberais, que são liberais. Somos todos keynesianos nessa hora."

SEM VAGA
Uma semana antes de o acordo com a Cyrela desandar, a Agra demitiu 40 pessoas, o equivalente a 20% de sua força de trabalho. Segundo a construtora, os cortes foram causados pela crise e seriam feitos com ou sem a aquisição.

PROCURA-SE
Mais bancos pequenos e médios ofereceram à Caixa suas carteiras de crédito.


com JOANA CUNHA e MARINA GAZZONI


Próximo Texto: BCs mundiais cortam taxa de juros; Brasil vende dólares e injeta crédito
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.