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BC libera mais R$ 23,2 bi a bancos para desafogar crédito
Órgão faz nova mudança no compulsório; no total, injeções já chegam a R$ 59,9 bi
Uma das alterações
vai deixar isentas de
recolhimento de depósitos
12 das 26 instituições sujeitas
a esse tipo de obrigação
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central voltou a agir
ontem para injetar dinheiro
nos bancos que operam no Brasil. Por meio de mais uma mudança nas regras do chamado
recolhimento compulsório, as
instituições financeiras terão
uma folga de caixa de R$ 23,2
bilhões para suas operações.
As alterações atingem a parcela dos depósitos que os bancos são obrigados a deixar no
BC. Uma delas atinge os depósitos a prazo (formados, principalmente, por CDBs). Nesse caso, o recolhimento atinge 15%
do saldo mantido pelos clientes. Porém, para não estrangular bancos de menor porte, o
BC já concede, desde 2004,
desconto de R$ 300 milhões sobre o valor a ser recolhido.
Ontem, esse abatimento passou a R$ 700 milhões. Segundo
levantamento feito nos balanços do primeiro semestre, a
mudança vai deixar isentas do
compulsório 12 das 26 instituições financeiras sujeitas a esse
tipo de obrigação. A medida deve liberar mais R$ 6,3 bilhões.
Além disso, também foi reduzida a alíquota do recolhimento
adicional cobrado sobre os depósitos a prazo e os saldos em
conta corrente. Além do compulsório tradicional, o BC também recolhe o equivalente a 8%
dos recursos mantidos em ambas as aplicações.
Essa exigência adicional foi
criada em 2002, quando o governo, com dificuldades em
conseguir empréstimos para financiar a dívida pública, passou a recolher compulsoriamente uma parcela dos depósitos bancários. Ontem, essa alíquota foi reduzida para 5%, o
que, segundo o BC, deve liberar
R$ 16,9 bilhões no mercado.
Desde o dia 24, quando começou a agir para tentar amenizar os problemas de falta de
liquidez dos bancos que operam no Brasil, o BC promoveu
mudanças no compulsório que
injetam até R$ 59,9 bilhões nos
bancos, já considerado o impacto das medidas de ontem.
Desse total, R$ 23,5 bilhões
ainda dependem das próprias
instituições financeiras, já que
esse valor só passará para as
mãos dos bancos de grande
porte que decidirem adquirir
parte da carteira de crédito das
instituições menores. Até agora, nenhuma operação desse tipo foi anunciada.
A maior preocupação do BC é
com os bancos pequenos e médios, que são os que estão tendo
as maiores dificuldades em
captar recursos com o agravamento da crise. O problema
surgiu quando a oferta de linhas de crédito externo para o
Brasil começou a diminuir, o
que fez com que muitas empresas do país fossem impedidas
de refinanciar seus compromissos no mercado externo.
A alternativa foi buscar recursos no mercado doméstico.
Mas, com o súbito aumento na
procura por empréstimos, muitos bancos se viram sem reais
suficientes para atender seus
clientes. O problema piorou
quando, com receio de uma
piora ainda mais forte no cenário internacional, bancos grandes passaram a ser mais cautelosos nas suas operações do
dia-a-dia, muitas vezes preferindo ficar com dinheiro parado em caixa a repassá-los para
outras instituições.
Acerto
Para a diretora de análise de
renda fixa do BES em Portugal,
Sandra Utsumi, o BC agiu corretamente porque tenta evitar
contágio maior do sistema financeiro. Segundo ela, o mundo vive um momento de desmonte de posições e isso tirou a
referência de qual é o preço real
dos ativos negociados. Com isso, muitas empresas e bancos
acumulam prejuízos que podem ser repassados em cadeia.
A medida do BC, avalia, injeta mais dinheiro na economia
para que o sistema financeiro
possa estimular os bancos a
voltarem a negociar entre si.
Com isso, ficará mais fácil instituições se acertarem sobre o
preços de uma carteira de crédito, por exemplo.
(NEY HAYASHI DA CRUZ)
Colaborou SHEILA D'AMORIM ,
da Sucursal de Brasília
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