São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2008

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BC libera mais R$ 23,2 bi a bancos para desafogar crédito

Órgão faz nova mudança no compulsório; no total, injeções já chegam a R$ 59,9 bi

Uma das alterações vai deixar isentas de recolhimento de depósitos 12 das 26 instituições sujeitas a esse tipo de obrigação


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central voltou a agir ontem para injetar dinheiro nos bancos que operam no Brasil. Por meio de mais uma mudança nas regras do chamado recolhimento compulsório, as instituições financeiras terão uma folga de caixa de R$ 23,2 bilhões para suas operações.
As alterações atingem a parcela dos depósitos que os bancos são obrigados a deixar no BC. Uma delas atinge os depósitos a prazo (formados, principalmente, por CDBs). Nesse caso, o recolhimento atinge 15% do saldo mantido pelos clientes. Porém, para não estrangular bancos de menor porte, o BC já concede, desde 2004, desconto de R$ 300 milhões sobre o valor a ser recolhido.
Ontem, esse abatimento passou a R$ 700 milhões. Segundo levantamento feito nos balanços do primeiro semestre, a mudança vai deixar isentas do compulsório 12 das 26 instituições financeiras sujeitas a esse tipo de obrigação. A medida deve liberar mais R$ 6,3 bilhões.
Além disso, também foi reduzida a alíquota do recolhimento adicional cobrado sobre os depósitos a prazo e os saldos em conta corrente. Além do compulsório tradicional, o BC também recolhe o equivalente a 8% dos recursos mantidos em ambas as aplicações.
Essa exigência adicional foi criada em 2002, quando o governo, com dificuldades em conseguir empréstimos para financiar a dívida pública, passou a recolher compulsoriamente uma parcela dos depósitos bancários. Ontem, essa alíquota foi reduzida para 5%, o que, segundo o BC, deve liberar R$ 16,9 bilhões no mercado.
Desde o dia 24, quando começou a agir para tentar amenizar os problemas de falta de liquidez dos bancos que operam no Brasil, o BC promoveu mudanças no compulsório que injetam até R$ 59,9 bilhões nos bancos, já considerado o impacto das medidas de ontem.
Desse total, R$ 23,5 bilhões ainda dependem das próprias instituições financeiras, já que esse valor só passará para as mãos dos bancos de grande porte que decidirem adquirir parte da carteira de crédito das instituições menores. Até agora, nenhuma operação desse tipo foi anunciada.
A maior preocupação do BC é com os bancos pequenos e médios, que são os que estão tendo as maiores dificuldades em captar recursos com o agravamento da crise. O problema surgiu quando a oferta de linhas de crédito externo para o Brasil começou a diminuir, o que fez com que muitas empresas do país fossem impedidas de refinanciar seus compromissos no mercado externo.
A alternativa foi buscar recursos no mercado doméstico.
Mas, com o súbito aumento na procura por empréstimos, muitos bancos se viram sem reais suficientes para atender seus clientes. O problema piorou quando, com receio de uma piora ainda mais forte no cenário internacional, bancos grandes passaram a ser mais cautelosos nas suas operações do dia-a-dia, muitas vezes preferindo ficar com dinheiro parado em caixa a repassá-los para outras instituições.

Acerto
Para a diretora de análise de renda fixa do BES em Portugal, Sandra Utsumi, o BC agiu corretamente porque tenta evitar contágio maior do sistema financeiro. Segundo ela, o mundo vive um momento de desmonte de posições e isso tirou a referência de qual é o preço real dos ativos negociados. Com isso, muitas empresas e bancos acumulam prejuízos que podem ser repassados em cadeia.
A medida do BC, avalia, injeta mais dinheiro na economia para que o sistema financeiro possa estimular os bancos a voltarem a negociar entre si.
Com isso, ficará mais fácil instituições se acertarem sobre o preços de uma carteira de crédito, por exemplo.
(NEY HAYASHI DA CRUZ)


Colaborou SHEILA D'AMORIM , da Sucursal de Brasília


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