São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2008

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Crise derruba expansão mundial, diz FMI

Em cenário mais otimista de relatório, Fundo fala em queda de desempenho; previsão mais pessimista é de "grande depressão"

Órgão espera que mundo cresça 3,9% em 2008 e 3% em 2009, puxado sobretudo por emergentes, e que PIB do Brasil suba 5,2% no ano


DO ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Crescimento próximo a zero ou negativo até meados de 2009 nas economias avançadas. Recuperação lenta e gradual a partir de então.
Para os emergentes, um desempenho "substancialmente menor" daqui em diante. Menos exportações e pressão sobre as reservas cambiais.
Esses são os cenários mais otimistas traçados ontem pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) no lançamento do relatório "Panorama da Economia Mundial", em Washington. O mais pessimista, e de pouca probabilidade, seria uma "grande depressão".
O FMI revisou para baixo em 0,2 ponto percentual o crescimento mundial previsto para este ano e em quase 1 ponto o de 2009. O Fundo espera que o planeta cresça 3,9% em 2008 e 3% no próximo -puxado especialmente pelos emergentes.
Entre as economias avançadas, a previsão para os dois anos, respectivamente, é de crescimento médio de 1,5% e 0,5%. Entre os emergentes, de 6,9% e 6,1%.
No caso do Brasil, o Fundo projeta um PIB (Produto Interno Bruto) 5,2% maior neste ano e 3,5% no ano que vem.
No melhor cenário, os EUA, maior economia do mundo e epicentro da atual crise financeira que já se alastra para economia real, devem crescer 1,6% neste ano e 0,1% em 2009.
"As coisas podem ficar bem piores do que as nossas projeções? Infelizmente, a resposta é sim", disse o economista-chefe do Fundo, Olivier Blanchard.
"Se os países não implementarem rapidamente respostas coerentes para a crise financeira, o impacto sobre o crescimento será muito maior que o projetado. Mesmo que ocorra a implementação, há grande risco de o declínio da atividade voltar a contaminar o mercado financeiro", disse. Blanchard afirmou que a crise se agravou pela falta de coordenação e adoção de medidas "improvisadas" pelos governos centrais.
Só ontem é que grande parte dos países afetados pela crise anunciou medidas conjuntas para tentar conter o terremoto financeiro dos últimos dias.
"Creio que o sentido de urgência foi colocado com bastante clareza pelos mercados. Basicamente, os governos foram forçados a adotar planos para o curto prazo." E emendou: "Os países devem estar preparados para usar fundos públicos para apoiar a estabilização do sistema financeiro".
Questionado sobre qual seria a chance, de 0 a 10, de a situação fugir ao controle e o mundo mergulhar em uma "grande depressão", Blanchard disse: "Muito baixa. Se as medidas forem postas em prática, o risco é extremamente pequeno".
O FMI considera que os governos centrais, ainda que de forma inicial, estão agora finalmente colocando em prática as únicas três ações estruturais possíveis até aqui. São elas: fornecer liquidez (dinheiro) ao mercado via bancos centrais; comprar os chamados ativos "tóxicos" dos bancos em dificuldades; e recapitalizar as instituições afetadas, seja por compra de participações pelo Estado em bancos ou coordenando fusões entre eles.
Além de jogar essas três "bóias" para o sistema financeiro, o fato de os bancos centrais terem baixado as taxas básicas de juro ontem funcionaria como ajuda adicional a quem não puder ser socorrido diretamente por essa trinca de medidas.
No caso da União Européia, o FMI avalia que novas rodadas de corte nos juros serão necessários. O BCE (Banco Central Europeu) cortou o juro em 0,5 ponto, de 4,25% ao ano para 3,75%. Mas a taxa segue muito acima da do Fed (banco central dos EUA), que reduziu a sua de 2% ao ano para 1,5%.
A única boa notícia apresentada pelo FMI (mas que deriva do desaquecimento global) é que as pressões inflacionárias diminuíram em todo o mundo.
(FERNANDO CANZIAN)


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