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Alimentos devem sofrer 1º impacto do dólar, diz IBGE
Câmbio, no entanto, ainda não contamina inflação, e IPCA recua para 0,26% em setembro
Taxa é a menor em um ano,
sob impacto da queda dos
alimentos; para consultoria,
índice deste mês já deve
ter influência do câmbio
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O repique do câmbio não
contaminou ainda a inflação,
mas o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
não descarta um impacto nos
próximos meses. Segundo Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do
instituto, as "evidências históricas" mostram que a alta do
dólar se reflete nos índices de
preço e afeta, em primeiro lugar, os alimentos.
"A continuar essa escalada
[do dólar], pode ser que mais
para a frente se perceba [o efeito na inflação]. A experiência
tem mostrado, nas séries históricas do IBGE, que os primeiros
impactos se vivenciam nos produtos alimentícios e nos artigos
de higiene e limpeza. Depois,
vai chegando a eletrodomésticos e artigos de TV e som, itens
que têm influência direta do
dólar", disse.
Em setembro, porém, o câmbio não pressionou ainda a inflação. Na esteira da queda dos
alimentos (-0,27%), o IPCA
(Índice de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 0,26% no
mês passado, pouco abaixo do
0,28% registrado em agosto.
Foi a menor taxa desde setembro de 2007 (0,18%). No ano, o
índice acumula alta de 4,76%,
ainda sob reflexo da forte alta
do grupo alimentação no período -9,29%.
Já para os próximos meses, a
expectativa é de uma inflação
maior. A Tendências Consultoria colocou sob revisão sua projeção para a inflação de 2008.
"O risco de estourar o teto da
meta do governo [6,5%] existe,
sim, ainda mais num cenário de
crise. Estamos fazendo os cálculos, mas nossa projeção deve
ser revista para cima", afirma
Marcela Prada, economista da
consultoria.
Prada afirma que em setembro os primeiros sinais de contágio do câmbio já foram sentidos nos índices de preço por
atacado, sem, no entanto, chegar ao varejo.
Segundo ela, o efeito do câmbio vai superar a contribuição
benigna da queda de preço das
commodities agrícolas no mercado internacional. "Em setembro, o câmbio se valorizou
em 17%, enquanto o índice médio do preço das commodities
caiu 6%. Ou seja, isso indica que
o saldo foi ruim. Há uma pressão inflacionária."
Foi justamente a queda das
commodities, segundo Eulina
Nunes dos Santos, que levou à
deflação dos alimentos em
agosto e setembro. O IPCA, por
sua vez, só não caiu mais em setembro por causa da alta de
produtos não-alimentícios, especialmente serviços (0,55%),
transportes (0,39%), vestuário
(0,70%) e artigos de residência.
Alguns itens subiram sob efeito
da demanda ainda aquecida.
Para a LCA Consultores, porém, "a transmissão da queda
dos preços agrícolas do atacado
para o varejo chegou ao nível
máximo em setembro". Por isso, a consultoria estima um IPCA maior em outubro: 0,35%.
Menor demanda
Se o câmbio é um foco de
pressão, a crise, por sua vez, vai
comprimir a demanda e ajudar
a segurar os aumentos de preços, dizem especialistas.
Para Thaís Marzola Zara, da
Rosenberg Associados, "o câmbio depreciado terá um impacto sobre a inflação num primeiro momento, mas, no médio
prazo, a atividade deprimida
deve trazer a inflação de volta a
níveis mais razoáveis". A alta
dos juros no Brasil e a crise
mundial, diz, vão conter a demanda e evitar reajustes de
preço.
O economista Luiz Roberto
Cunha, da PUC-RJ, diz que o
peso do câmbio sobre a inflação
dependerá do tempo em que a
moeda ficará pressionada, mas
também acredita que o menor
consumo evitará fortes aumentos de preço.
Para Fábio Romão, da LCA, a
disparada do câmbio é temporária e a moeda tende a voltar à
casa de R$ 1,70 ao final do ano.
Mas, se a alta perdurar, haverá
um estímulo às exportações, o
que pode restringir a oferta de
produtos e elevar preços, de
acordo com ele.
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