São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2008

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Mercado de trabalho deve ser afetado já em 2009

Para analistas, crise atingirá primeiro o setor exportador

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado de trabalho deve sentir a partir do primeiro trimestre de 2009 os efeitos da crise financeira que atinge os Estados Unidos e se espalha pelos demais países.
O primeiro desses reflexos deve ser uma "freada" no ritmo de criação de vagas, especialmente nos segmentos exportadores e no comércio, segundo avaliam economistas e sindicalistas. O comércio paulista já prevê a criação de menos vagas temporárias neste ano do que as inicialmente esperadas.
"A crise vai alterar o rumo do que vinha ocorrendo com o emprego, com uma diminuição na criação de postos de trabalho no próximo ano", diz Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese. Neste ano, 2 milhões de vagas com carteira assinada devem ser criadas, segundo estima o governo federal a partir do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).
Para 2009, deve haver redução em torno de 300 mil a 500 mil postos, de acordo com o diretor técnico do Dieese. Dessa forma, a criação de vagas no próximo ano seria de 1,5 milhão a 1,7 milhão, já que a economia deve crescer menos do que neste ano. Ao longo do ano passado, os novos empregos somaram 1,617 milhão.
"Segmentos exportadores podem ser os primeiros a assimilar os resultados da crise porque a demanda por seus produtos está vinculada à taxa de crescimento de outros países, como a da China, e de países asiáticos", diz Ganz Lúcio.
Diante de um cenário de incertezas, o impacto no mercado de trabalho ainda depende das medidas que o governo irá adotar para amenizar os efeitos da crise na na economia brasileira.
"Se o governo continuar liberando recursos para que as empresas possam enfrentar a escassez de crédito, se o BNDES mantiver sua capacidade de atuação, se o Banco Central continuar flexibilizando o compulsório, o Brasil pode minimizar as conseqüências dessa crise", afirma Ganz Lúcio.
Fábio Romão, economista da LCA, também acredita que a ocupação vá crescer em um ritmo "menos robusto" em 2009 do que o verificado em 2007 e neste ano. Diz ainda que a tendência é de crescimento da taxa de desemprego no primeiro trimestre de 2009.
"Dois fatores contribuem para esse cenário: a desaceleração mundial da economia e a elevação dos juros. O aumento nos juros começou em abril e, como há uma defasagem para ser absorvido, deve ter reflexo [no mercado de trabalho] no final de 2008 e início de 2009", diz.
Para a ocupação, a LCA projeta crescimento de 3,4% e 2,4%, respectivamente neste ano e em 2009. Para a renda, aumento de 2,6% neste ano e de 2,5% em 2009.
"O impacto não será maior na renda porque o salário mínimo [parâmetro para reajustar salários de categorias menos organizadas] deve ter ganho real maior em 2009. Isso porque o governo adotou uma fórmula de reajuste que combina o resultado do PIB de dois anos com o da inflação", diz Romão.
A crise pode trazer reflexos ao bolso dos trabalhadores de categorias mais organizadas já no primeiro semestre de 2009. Entre os químicos, o temor é que a alta do dólar afete a importação de insumos, com aumento de custos, e atrapalhe as negociações. "Um setor como o farmacêutico, cuja data-base é em abril, pode sentir essa pressão nos custos e resistir à concessão de ganho real. Até lá esperamos que a situação melhore", diz Sérgio Leite, da Fequimfar (ligada à Força).


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