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TRANSIÇÃO
Atual equipe econômica e assessoria do presidente eleito preferem empurrar discussão sobre superávit primário
FMI admite rever metas só em fevereiro
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O FMI (Fundo Monetário Internacional) admite a possibilidade
de deixar as discussões sobre
eventual necessidade de aumentar a meta de superávit primário
para fevereiro do ano que vem,
quando ocorrerá a segunda revisão do acordo fechado com o país
em agosto passado.
O Fundo gostaria que o governo, com a anuência da equipe do
presidente eleito, Luiz Inácio Lula
da Silva, aceitasse já neste mês aumentar a meta de superávit, para
que o país mantivesse postura fiscal conservadora e para promover um choque de credibilidade
para a futura administração.
No entanto, como publicou a
Folha na semana passada, tanto a
atual equipe econômica quanto
os petistas preferem que as negociações na área fiscal fiquem para
o segundo mês de 2003, quando o
presidente eleito já terá assumido
e indicado todos os seus ministros. Na segunda-feira da semana
que vem, chega a Brasília missão
do Fundo para a primeira revisão
do acordo, que deve durar duas
semanas.
O ministro Pedro Malan (Fazenda), segundo sua assessoria,
afirma que não serão discutidas
alterações na meta de superávit
primário nos dias em que a missão estiver no Brasil.
Apesar de desejar a elevação do
esforço fiscal, o FMI não quer se
desentender com o governo eleito, que ainda nem assumiu.
Paulatinamente, o Fundo vem
mudando sua atitude na hora de
negociar pacotes de ajuda financeira. O FMI não abre mão da austeridade fiscal, que os países gastem menos do que arrecadam, e
que a inflação seja mantida em níveis baixos.
Mas tem aceito, cada vez mais,
que os próprios países proponham formas de como alcançar
esse resultado. Diante da convicção muito forte do atual governo e
da equipe do presidente eleito de
que é preferível deixar as discussões para fevereiro, é bem possível que o Fundo aceite.
A equipe econômica entende
que é melhor para todas as partes
que as discussões sobre as alterações na meta ocorram somente
no ano que vem.
A meta de superávit primário
(economia de receita para o pagamento de juros da dívida) foi estabelecida em 3,75% do PIB (Produto Interno Bruto) para 2003.
Para que sejam liberadas as próximas parcelas do empréstimo de
US$ 30 bilhões previsto no acordo, o país terá de cumprir as metas acertadas com o FMI. O atual
governo já sacou US$ 3 bilhões.
O acordo fechado em agosto teve como base uma série de projeções macroeconômicas que já
mudaram. Nos cálculos previstos
no acordo, a meta de 3,75% era
suficiente para estabilizar a relação dívida/PIB no médio e longo
prazos, mas a uma taxa de câmbio
de R$ 3, a juros reais (descontada
a inflação) de 9% e com crescimento médio da economia de 3%
ao ano.
No entanto o dólar, depois de
ter chegado a R$ 4, está em R$
3,55 e o Banco Central aumentou
os juros básicos da economia no
mês passado de 18% ao ano para
21%, o que dá taxa de juro real
aproximada de 13%.
Além disso, as projeções médias
do mercado financeiro apontam
para um crescimento de 2% da
economia em 2003.
O Fundo reconhece as melhorias de alguns indicadores, como
o recuo do dólar e o forte aumento do saldo comercial (está em
US$ 10 bilhões no acumulado do
ano), mas mesmo assim gostaria
que a meta de superávit primário
fosse aumentada.
O governo e os petistas argumentam que, até fevereiro, a situação poderá melhorar ainda
mais. Dizem que só o fato de se saber quais serão os nomes para o
Ministério da Fazenda e para o
Banco Central pode gerar impacto positivo sobre as expectativas
do mercado, o que derrubaria
ainda mais a cotação do dólar.
Se isso ocorresse, seria possível
também reduzir os juros. A dívida
pública cresceu muito nos últimos meses -principal preocupação do FMI- justamente por
causa do dólar e dos juros.
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