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EM TRANSE
Para Palocci, existem sinais de que Brasil pode iniciar "ciclo virtuoso"
PT diz que não vai propor ao FMI aperto maior em 2003
GUSTAVO PATÚ
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O coordenador da equipe de
transição do PT, Antônio Palocci
Filho, indicou ontem que o governo eleito não deseja elevar as metas de superávit primário -a economia de receitas destinada a pagar juros da dívida pública- nas
negociações com o FMI que começam na próxima semana.
"Não acho que o país deva se
antecipar, nem a equipe de transição nem o atual governo, propondo aumentar superávit", disse.
"Há sinais de que o Brasil pode
entrar num período de tranquilidade econômica e isso permitir o
início de um ciclo virtuoso."
O presidente eleito, Luiz Inácio
Lula da Silva, tinha encontro marcado ontem à noite com o presidente Fernando Henrique Cardoso para dizer que o PT não deseja
participar da negociação com a
missão do Fundo que chega na semana que vem.
Segundo a Folha apurou, Lula
avalia que FHC e seu time é que
devem conduzir a atual rodada de
negociação. O presidente eleito
diria ainda que Palocci receberá a
delegação do FMI por cortesia política e para fazer contatos.
Ganhar tempo
As atitudes de Lula e Palocci têm
como objetivo ganhar tempo para
tentar não aumentar em 2003 a
meta de superávit.
Para o PT, a melhora de humor
no mercado financeiro após as
eleições, evidenciada pela queda
do dólar nas últimas duas semanas, aponta um 2003 com menores pressões inflacionárias, menor
necessidade de manter os juros
tão altos e maior possibilidade de
crescimento econômico.
No mínimo, a equipe do presidente eleito prefere dar uma
chance para a definição desse cenário a partir já para uma atitude
mais conservadora. O acordo
com o FMI prevê revisões periódicas das metas acertadas ao longo do próximo ano.
O país se comprometeu com o
Fundo a obter um superávit primário de 3,75% do PIB (Produto
Interno Bruto) em 2003, para debelar a desconfiança dos credores
da dívida pública. A meta supunha uma dívida equivalente a
59% do PIB, dólar a R$ 3, juros em
queda e crescimento de pelo menos 3% no período.
A discussão sobre a necessidade
de rever a meta surgiu com a deterioração da conjuntura econômica. Como o dólar chegou perto
dos R$ 4, os juros subiram, as previsões de crescimento ficaram
mais modestas e a dívida superou
60% do PIB, calculou-se que seria
preciso um superávit maior para
acalmar os credores.
Palocci, que antes e depois das
eleições disse que o PT faria o "superávit necessário", deixou ontem o discurso de cautela e adotou o de otimismo. Não só apostou na melhora das economias
doméstica e internacional como
disse que o futuro governo tomará medidas voltadas para o crescimento -citou, genericamente, o
incentivo às exportações e ao setor produtivo, em especial o agronegócio.
O coordenador não confirmou
a informação, publicada pelo jornal "Valor", de que sugerirá ao
FMI a adoção de metas de superávit balizadas pelo crescimento
econômico. Segundo a idéia, adotada no Chile, o aperto fiscal seria
menor em momentos de queda
da atividade.
"Isso não está na nossa mesa",
disse, argumentando que a negociação deste mês com o Fundo cabe ao atual governo. Palocci chegou a elogiar a experiência chilena, mas preferiu apostar na melhora do cenário. "Se isso acontecer, [no futuro] estaremos discutindo coisas muito mais sadias."
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