São Paulo, sábado, 09 de novembro de 2002

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EM TRANSE

Para Palocci, existem sinais de que Brasil pode iniciar "ciclo virtuoso"

PT diz que não vai propor ao FMI aperto maior em 2003

GUSTAVO PATÚ
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O coordenador da equipe de transição do PT, Antônio Palocci Filho, indicou ontem que o governo eleito não deseja elevar as metas de superávit primário -a economia de receitas destinada a pagar juros da dívida pública- nas negociações com o FMI que começam na próxima semana.
"Não acho que o país deva se antecipar, nem a equipe de transição nem o atual governo, propondo aumentar superávit", disse. "Há sinais de que o Brasil pode entrar num período de tranquilidade econômica e isso permitir o início de um ciclo virtuoso."
O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, tinha encontro marcado ontem à noite com o presidente Fernando Henrique Cardoso para dizer que o PT não deseja participar da negociação com a missão do Fundo que chega na semana que vem.
Segundo a Folha apurou, Lula avalia que FHC e seu time é que devem conduzir a atual rodada de negociação. O presidente eleito diria ainda que Palocci receberá a delegação do FMI por cortesia política e para fazer contatos.

Ganhar tempo
As atitudes de Lula e Palocci têm como objetivo ganhar tempo para tentar não aumentar em 2003 a meta de superávit.
Para o PT, a melhora de humor no mercado financeiro após as eleições, evidenciada pela queda do dólar nas últimas duas semanas, aponta um 2003 com menores pressões inflacionárias, menor necessidade de manter os juros tão altos e maior possibilidade de crescimento econômico.
No mínimo, a equipe do presidente eleito prefere dar uma chance para a definição desse cenário a partir já para uma atitude mais conservadora. O acordo com o FMI prevê revisões periódicas das metas acertadas ao longo do próximo ano.
O país se comprometeu com o Fundo a obter um superávit primário de 3,75% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2003, para debelar a desconfiança dos credores da dívida pública. A meta supunha uma dívida equivalente a 59% do PIB, dólar a R$ 3, juros em queda e crescimento de pelo menos 3% no período.
A discussão sobre a necessidade de rever a meta surgiu com a deterioração da conjuntura econômica. Como o dólar chegou perto dos R$ 4, os juros subiram, as previsões de crescimento ficaram mais modestas e a dívida superou 60% do PIB, calculou-se que seria preciso um superávit maior para acalmar os credores.
Palocci, que antes e depois das eleições disse que o PT faria o "superávit necessário", deixou ontem o discurso de cautela e adotou o de otimismo. Não só apostou na melhora das economias doméstica e internacional como disse que o futuro governo tomará medidas voltadas para o crescimento -citou, genericamente, o incentivo às exportações e ao setor produtivo, em especial o agronegócio.
O coordenador não confirmou a informação, publicada pelo jornal "Valor", de que sugerirá ao FMI a adoção de metas de superávit balizadas pelo crescimento econômico. Segundo a idéia, adotada no Chile, o aperto fiscal seria menor em momentos de queda da atividade.
"Isso não está na nossa mesa", disse, argumentando que a negociação deste mês com o Fundo cabe ao atual governo. Palocci chegou a elogiar a experiência chilena, mas preferiu apostar na melhora do cenário. "Se isso acontecer, [no futuro] estaremos discutindo coisas muito mais sadias."


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