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São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2003

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CAPITALISMO VERMELHO

País deve passar Japão e ficar atrás apenas de EUA e Alemanha; superaquecimento preocupa o governo

China fechará ano como 3º maior importador mundial

JAMES KYNGE
DO "FINANCIAL TIMES"

A China deve superar neste ano novos marcos no caminho para se tornar uma superpotência comercial. Pequim não só deve ter um novo recorde no superávit comercial com os EUA como eclipsará o Japão e vai se tornar o terceiro maior importador do mundo, atrás dos EUA e da Alemanha.
Zeng Peiyan, vice-primeiro ministro chinês, anunciou nesta semana que o comércio externo do país ultrapassaria os US$ 800 bilhões em 2003. As importações cresceram 40,5%, para US$ 298,6 bilhões, de janeiro a setembro, e podem atingir US$ 395 bilhões no ano, segundo os economistas.
Mas a questão onipresente agora é: até que ponto o surto de importações chinês é sustentável?
A resposta ajudará a determinar não só a balança da China e, portanto, o curso de sua espinhosa relação comercial com os EUA, mas também os preços internacionais de uma gama de metais, minérios e outras commodities.

Reviravolta
Uma confluência de indícios, circunstanciais e factuais, sugere que a demanda descontrolada por importações nos primeiros nove meses do ano talvez comece a se reduzir nos meses seguintes, com o resfriamento dos investimentos em ativos fixos após uma série de medidas tomadas para conter o crédito e aliviar o superaquecimento da economia.
Wang Dayong, diretor do Banco de Desenvolvimento da China, a principal agência estatal de apoio ao desenvolvimento, disse que as altas taxas de crédito nos primeiros nove meses do ano começavam a perder ritmo, particularmente nos quatro grandes bancos estatais, que controlam cerca de 60% dos ativos bancários.
Peter Marcus, diretor-executivo da World Steel Dynamics, empresa de análise do setor siderúrgico, disse que, ao visitar várias das maiores siderúrgicas chinesas, ouviu repetidas vezes que as fontes de crédito começavam a secar.
Jonathan Anderson, economista da UBS Securities em Hong Kong, disse que o excedente de liquidez que vinha estimulando o crescimento do crédito poderia se esgotar, já que o Banco Popular da China está retirando fundos do sistema. "Se o banco sustentar essa posição, em breve veremos uma virada no ciclo de crédito, com desaceleração no crescimento do nível de empréstimos, investimentos e importações."
Um funcionário do Banco Popular da China informou que o banco pretendia reduzir o crescimento nos empréstimos para 11% no quarto trimestre, ante 19% de janeiro até setembro, e evitar uma crise de demanda causada pela política monetária. Se a empreitada der resultado, pode reduzir o investimento em ativos fixos, que cresceu à taxa de 30% nos nove primeiros meses do ano e conduziu a demanda por importações de cobre, níquel, zinco, alumínio, ferro, aço e maquinários.
Se o investimento em ativos fixos se desaquecer, como os analistas esperam, o impacto pode ser sentido nos preços mundiais de muitas commodities. A China consome entre um quinto e um terço do total comercializado no mundo de alumina, minério de ferro, zinco, cobre e aço inoxidável, segundo o Deutsche Bank.
A influência nos preços pode ser acentuada caso os produtores chineses de metais tenham acumulado grandes estoques. "Isso poderia causar tremores nos mercados mundiais de metais", disse Giles Chance, diretor de pesquisa na Evolution Securities de Xangai.

Otimismo
A longo prazo, funcionários do governo chinês e analistas parecem otimistas quanto às perspectivas para os investimentos e para a alta das importações.
Wang Mengkui, ministro do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento do Conselho de Estado, a principal organização de pesquisa do governo, disse que, nos próximos três anos, o total de importações chinesas atingiria US$ 1 trilhão, superando de longe as exportações, que, afirma, só atingiriam essa marca em 2020.
Um número crescente de funcionários do governo tem dito que a China precisa estar preparada para combater um possível déficit comercial, talvez já em 2004.
Essa virada na política adotada logo depois da crise asiática, de "usar mil estratégias e 100 planos" para estimular as exportações, deriva em parte da sensação de que Pequim, que já conta com US$ 401 bilhões em reservas cambiais, não precisa mais se preocupar com a segurança em conta corrente. Outro fator que estimula a crescente aceitação das importações na China é a necessidade de combater o cada vez maior sentimento protecionista dos EUA.
A China necessita importar uma gama de bens de capital para alimentar as imensas ambições em infra-estrutura. Wang disse que, nos próximos 17 anos, o país planeja transferir 500 milhões de pessoas do campo para as cidades. Elas precisarão de casa, sistema de esgoto, água, aquecimento, transporte público, eletricidade, telefone e outras comodidades.


Tradução de Paulo Migliaccio


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